sexta-feira, 31 de março de 2017

A nêspera


Todos os dias, desde o início do ano, olho para a nespereira. Não tenho como não olhar para ela. Com os dois limoeiros que se encontram junto à rede que cerca a horta, ela está no primeiro plano da minha paisagem diária, religiosamente observada através da janela da sala. Vi-lhe primeiro o verde-escuro das folhas e o branco das flores. Vi nascerem-lhe os frutos, pequenos e verdes. Vi-os crescer em amarelo quase limão. Vejo-os, mutantes para quase laranja.

É nesse amarelo alaranjado que amadurecem agora as nêsperas, umas mais depressa que outras, conferindo à árvore um novo colorido. Gosto das apressadas, como as que me chegaram hoje à mesa, numa seleção cuidada do dono da horta. Pego numa delas, esfrego-lhe o veludo para fora até lhe deixar apenas o cetim da pele à vista. Reparo que já apresenta algumas rugas de expressão e até uma ou outra pequena mancha castanha. Como envelhece depressa, uma nêspera… Mas é assim, amadurecida, que ela passa no teste da doçura.

19 comentários:

  1. magnórios, como lhes chamo.
    das minhas frutas preferidas, Luísa.

    adoro o veludo da fotografia.

    beijinho e bom fds

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  2. Tal como na vida, quanto mais madura , mais doce!

    Beijinhos Luisa

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  3. Bonito, acompanhar o nascer e o crescer de uma vida até à sua maturidade, Luisa ! :)
    Esperemos que, tratando-se de uma vida, não haja quem considere crime a sua utilização na alimentação ! rsrs
    E então sim, tal como descreves, colhê-la, retirar-lhe o veludo até fazê-lo cetim e dar-lhe uma boa trinca a apreciar o seu paladar (quanto mais madura melhor) !
    ... E finalmente podermos pensar : "Valeu bem a pena, a espera até este momento" !!!
    :))

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  4. Ó pá até fico com remorsos de gostar de as comer tal como as descreves!

    Que forma bonita com que nos transmites os teus olhares.

    Minha querida espero e desejo do coração que estejas a ter uma boa recuperação.

    Bom fim de semana Luísa, beijinho grande.

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  5. Não aprecio embora no meu rural não haja casa que não tenha uma nespereira.
    As minhas pulgas adoram e há dias andei a pedir numa casa para me darem uma mão cheia delas
    Kis :=}

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  6. Bem verdade, as nêsperas não podem comer-se antes desse arzinho alaranjado que cicia, ou me apanham ou caio sozinha que está no tempo de deixar a árvore. Acho as nêsperas um fruto mal amanhado, uma cinta de carne fresca e doce e logo os dentes chocam nuns caroços monstros. Levo a vida a imaginar que mordo uma toda carnuda e em carocinhos de laranja. Mas ainda não aconteceu.

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  7. também tenho vista sobre as metamorfoses das nêsperas que crescem nos ramos de várias nespereiras !concordo que é um encanto Luisa :)

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  8. que bela nêspera!
    "mas está verde, não presta..."

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  9. Querida Luisamiga

    Sou louco por nêsperas!!!


    Em Goa as coisas não correram muito bem; uns problemas de saúde
    (meus) - ainda que um tanto graves (Ver abaixo sff)- deram origem a situação pouco feliz - que ainda persistem. Irei escrevendo quando tiver a cabeça mais arrumada...

    Além disso no local não havia ligação Internet...

    31 de Março - Parece-me que vou melhorando da recaída que tive da depressão bipolar que com ela terei de viver até ao forno crematório, pois é doença incurável.

    Vou pois andando devagarinho (sempre são 75 aninhos...) e um destes dias volto a publicar umas linhas. Aproveito para agradecer a todas/os que me acompanharam nestes momentos menos fáceis e sobretudo à Grande Mulher, a minha Raquel, que me amparou, cuidou de mim, enfim teve a paciência de me aturar...
    e apoiar!!!!

    Qjs & abçs

    Henrique, o Leãozão


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  10. Adorei a forma poética como descreveste a vida da nêspera.

    Gosto de nêsperas ou magnórios bem madurinhos com manchas.

    Já os vi à venda mas estavam muito amarelos.

    Adorei a tua foto!

    Beijinhos.

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  11. O sol algarvio é assim, apressa as coisas. Por aqui as nêsperas ainda nem adquiriram tamanho, a cor é apenas saudade do ano anterior.
    Linhas bem alinhavadas, Luísa, com cada palavra no seu sítio. Nem mais, nem menos.

    Um bom sábado :)

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  12. No Porto chama-se magnório...Nem queiras saber o que são nêsperas...

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  13. Hum... Essa nêspera vai ser invejada por todas as irmãs erimas... Ter direito assim a uma ode e fotografia artística. Que nêspera distinta!

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  14. Nêspera, quase nunca encontramos para comprar.

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  15. Essa nêspera ou magnório, como lhe chamam práqui, assim deitada e madurinha, parece a do Rifão do Quotidiano, do Mário Henrique Leiria:

    Uma nêspera
    estava na cama
    deitada
    muito calada
    a ver
    o que acontecia

    chegou a Velha
    e disse
    olha uma nêspera
    e zás comeu-a

    é o que acontece
    às nêsperas
    que ficam deitadas
    caladas
    a esperar
    o que acontece.

    Ouvido na voz do Mário Viegas, é qualquer coisa. :))

    Também já tive uma nespereira que só deu fruto quando estava tão alta que não lhes podia chegar...:(

    Beijos, Luísa! :)

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  16. Hum! E eu que adoro nêsperas!...
    Por estes lados... ainda mal se notam...
    E essa... já tem um ar bem doce e apetecível!
    Bjs
    Ana

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  17. Este acompanhar diário é o mesmo que participar de um milagre, que quase nunca percebemos. E o veludo, uma textura maravilhosa, sem falar do sabor...

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