terça-feira, 30 de janeiro de 2018

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Meteorologia


Nota: Este blog não se responsabiliza por eventuais alterações do tempo.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Passeio de domingo (393)


Aproveitei o sol da manhã para ver o mar, na praia dos Olhos de Água. Um clássico, que repito com frequência.








quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Pedido de casamento

O pai da rapariga era uma verdadeira fera e foi a medo que o rapaz formulou o pedido. Com o tom de maior respeito que pôde arranjar, disse-lhe que desejava pedir-lhe a mão da filha em casamento. Aquele que seria o seu futuro sogro perguntou-lhe se tinha absoluta certeza de que era isso que queria.  Ele, mais tranquilo ao ouvir o tom conciliador do homem, confirmou. Foi então que, pegando no cutelo que se encontrava sobre a bancada da cozinha, o pai da moça lhe satisfez o pedido.

Casamento

“Na riqueza e na pobreza, no melhor e no pior, até que a morte vos separe”
Perfeitamente.
Sempre cumpri o que assinei.
Portanto estrangulei-a e fui-me embora.

Mário-Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic
In Obras Completas de Mário-Henrique Leiria: Ficção, E-primatur, 2017



segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Pele

A jovem poderia ser minha filha, não pelos traços físicos, mas pela distância entre idades. A dela e a minha.  Enquanto aguardo a vez na caixa da loja de decoração, observo-a. O rosto de linhas perfeitas, a tez clara, ainda mais clara por contraste com o negro sedoso do cabelo, de corte curto, moldura perfeita. O batom vermelho-vivo e mate sublinhando o desenho primoroso dos lábios. O traje também atrai o meu olhar. De preto e branco, sapatilhas e padrão pied-de-poule no casaco, deambula pela loja na maior elegância. É bonita de se ver. E jovem. Muito jovem. Não consigo deixar de olhar para ela e para a sua pele tão lisa. Uma pele como não voltarei a ter. 

domingo, 21 de janeiro de 2018

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O mar


Antes do sonho (ou o terror) tecer
Mitologias e cosmogonias,
Antes que o tempo se cunhasse em dias,
O mar, o sempre mar, já estava e era.
Quem é o mar? Quem é esse violento
E antigo ser que rói estes pilares
Da Terra, e é um e muitos mares
E abismo e resplendor e acaso e vento?
Quem o contempla o vê pla vez primeira,
Sempre. Com o espanto que as perfeitas coisas
Elementares deixam, as formosas
Tardes, a lua, o fogo da fogueira.

Jorge Luis Borges, Nova Antologia Pessoal, Quetzal Editores, 2017


domingo, 14 de janeiro de 2018

Passeio de domingo (391)



Hoje foi no campo que ainda não dá mostras de querer florir. Temo pelas amendoeiras, cada vez mais secas e abandonadas.








sábado, 13 de janeiro de 2018

Kingfisher

O sucedido foi há já uma semana, mas a semana andou arredia daqui, por isso relato-o hoje.

Cruzámo-nos no passadiço. Eu de máquina fotográfica, ele de binóculos. Estimei-lhe a idade em mais quinze anos do que a minha. Não sei se exagerei no cálculo. Sei, sim, que na maior parte das vezes tendo a achar-me – dizer sentir-me seria talvez mais correto – mais nova do que na realidade sou. Vinha ele, então, em sentido contrário ao meu e olhando para a minha máquina, com ar de incontida felicidade, disse-me que havia ali perto um guarda-rios. Tinha acabado de o avistar. E logo, solícito, me indicou a margem de lá da lagoa, para o lado do mar. Dali da ponte, é olhar para a esquerda, naqueles juncos. Estava ali agora mesmo. Vá, que é bem capaz de o apanhar, dizia apontando o queixo para minha máquina. E fui. There’s a kingfisher over there…. Enquanto olhava, ressoavam ainda na minha cabeça as palavras do homem dos binóculos. Olhei, esperei, voltei a olhar. Em vão. Não era o meu dia de ver um guarda-rios.


domingo, 7 de janeiro de 2018

sábado, 6 de janeiro de 2018

O homem do talho

Na verdade, não costumo reparar no homem do talho.  Fixo-me nas peças de carne expostas na vitrine, tento organizar mentalmente as refeições que pretendo preparar, decido o que quero levar para casa. Por vezes, não é homem, mas sim mulher do talho. Depende do talho onde vou, claro. E tanto vou ao talho das grandes superfícies, como ao talho do bairro onde mora a minha filha, por exemplo. Pode ser no Algarve ou pode ser em Lisboa. E para além disso, raramente há lá só um homem do talho.

Em todo o caso, o homem do talho há de ser, para mim, parecido com o pai de uma amiga que tive na infância. Aqui, também para falar verdade, não posso dizer que me lembre nitidamente do pai da Brigitte. Mas na minha ideia surge-me um senhor de meia idade, um pouco atarracado, com barba rija, de mãos grossas e pelo nos braços.  Esta imagem, estou eu agora a pensá-la. Fui buscá-la lá nos fundos da memória para fazer o contraponto ao homem do talho de hoje.

A decisão sobre o que levar estava tomada antes de sair de casa. Assim, não precisando de me concentrar sobre o conteúdo do expositor das carnes, enquanto esperava pela vez, o meu olhar fixou-se no cabelo louro oxigenado do talhante e nos seus trejeitos efeminados. Um homem do talho com o cabelo louro oxigenado, deixando ver por baixo o tom escuro natural do dito, não combina. Isto é, não combina com o meu preconceito.  Fiquei a observá-lo, divertida com esta nova imagem de açougueiro que se me apresentava. Enquanto me atendeu, todo ele simpatia, brincou com a cliente seguinte, que devia ser cliente habitual, e contou histórias de clientes bizarros, com obsessões por carne, que vinham ao talho mais do que uma vez por dia e que ele, desentendido, atendia como se ainda não os tivesse visto.

Com o meu frango do campo devidamente cortado e embalado, despedi-me sorridente e satisfeita, como quem descobre um novo mundo. Segui para a caixa do supermercado pensando que até um talho pode ser um lugar estranho.  


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Serão

Chove ininterruptamente desde as sete da tarde. É uma novidade, nos tempos que correm. A chuva que não me deixou ir à rua para dar uso ao estendal e me pôs a ligar a máquina de secar roupa, está, apercebi-me agora, a tentar comigo um jogo de sedução. Ouço o seu bater ritmado nas paredes, nas janelas, no chão, no toldo da cozinha, nas telhas, nos aljerozes, e noto que é a banda sonora perfeita para eu ir daqui para a cama, aconchegar-me nas almofadas e empatar um pouco o sono agarrada ao livro que encima a pilha dos que moram por estes dias na mesinha de cabeceira.  Está bem. Rendo-me ao apelo da música. Do tal livro, só preciso decidir se o abro nos contos, nos poemas ou nos ensaios.  

Trânsito

A alvéola branca que atravessou a nacional cento e vinte cinco, sensivelmente pelas oito horas e quinze minutos, saltitando apressada sobre o asfalto, ou era uma alvéola inconsciente ou então suicida. Ainda pensei que levantaria voo, rasgando o ar mesmo junto ao meu para-brisas, mas não. Travei ligeiramente para não a atropelar e segui resmungando que já não bastam cães e gatos atrevidos, agora até os pássaros. 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018