quinta-feira, 29 de março de 2018

Reencontros


Não a via há muito tempo. Anos. Reconhecemo-nos em simultâneo, ela do lado de dentro do balcão, eu na curta fila de espera. Está muito diferente, penso eu. Está muito diferente, deve ela pensar. Ela, que sempre teve o cabelo curto e castanho, está loira de cabelo comprido. Usa um penteado anacrónico, de risco ao meio com duas pequenas tranças a cercear-lhe a cabeça sobre o restante cabelo solto. Olho-a e sinto uma íntima satisfação por ter deixado de pintar o meu. Chega a minha vez. É ela quem me atende. Pergunta-me se já tenho netos. Não. Ainda não, sorrio. Pergunta-me pelo Leonel. Equivoca-se nos nomes. Não tenho nenhum Leonel na minha vida, digo-lhe rindo. Mas não me atrevo a perguntar-lhe pelos seus. Não tenho memória da sua descendência e não quero dar parte de fraca.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Ternura



(...)
Uma gaivota que passa,
E a minha ternura é maior.
(...)

Álvaro de Campos

domingo, 25 de março de 2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

Diz-me








                tu          que
        me,                      sabes,
     
   diz-                                     onde
                                             
                                              mora
                                                                                          
                                           o
                                       
                                      p

                                      o

                                      e

                                      m

                                      a 
 
                                            
                                              ?                 
                                                                                                                                                       


domingo, 18 de março de 2018

Passeio de domingo (400)


Depois da passagem do Hugo, fui inspecionar os campos aqui perto de casa. Encontrei as primeiras orquídeas do ano e verifiquei que os coelhos continuam a atravessar-se no meu caminho.










terça-feira, 13 de março de 2018

Proposta de estudo


Nestes tempos digitais, que favorecem sobremaneira a divulgação dos mais profundos e inusitados estudos científicos, anuncio aqui uma hipótese que me interessaria ver analisada, testada e eventualmente validada.

O contexto é o seguinte: sempre que termina o jantar e me levanto, e levanto a mesa, preparando-me para lavar a loiça ou, quando assim se proporciona, colocá-la na máquina de lavar, sou acometida de incontroláveis espirros.  Enquanto raspo os pratos para deitar fora cascas, ossos ou espinhas, lá vem um espirro. Enquanto empilho travessas, lá vem um espirro.  Enquanto transfiro copos, tachos e talheres para junto do lava-loiça, lá vem um espirro.  Esta incómoda situação obriga-me a interromper bastas vezes a tarefa em curso para avaliar a força de aproximação do fenómeno, para o acomodar no braço e para puxar de um lenço e limpar o nariz.

Sobre a frequência do evento esclareço que, quando digo sempre, é mesmo sempre. Sempre que me volto para o lava-loiça após o jantar, desencadeia-se a reação. A minha hipótese é que só pode tratar-se de uma reação alérgica.

Para aprofundar a tese, conto com quem queira contribuir com a sua própria experiência pós-jantar diário ajudando a estabelecer tipologias de ocorrências e a respetiva frequência estatística.

Afinal, isto é um blog, uma entidade aparentada das redes sociais, e não pode ficar para trás no que diz respeito ao domínio da ciência e da divulgação de estudos imprescindíveis ao bem-estar e felicidade diária dos cidadãos.




segunda-feira, 12 de março de 2018

Tarde


O que eu queria dizer-te nesta tarde
Nada tem de comum com as gaivotas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 11 de março de 2018

Passeio de domingo (399)


Passeei ontem com receio da chuva que, afinal, quase não caiu hoje, embora o vento deste domingo me tenha dado razão pela mudança de agenda. Observei flores e bichos nas imediações dos golfes de Vilamoura.









quinta-feira, 8 de março de 2018

Grandes decisões


A cada novo livro que trago para casa, ou a cada livro que termino e procuro arrumar nos já inexistentes espaços das estantes, decido que breve, breve, vou dar uma volta a sério nesta biblioteca.  Hei de desfazer-me de algumas inutilidades, hei de aproveitar o espaço assim liberto, hei de reorganizar todas as prateleiras, hei de retirar todos os livros para os voltar a arrumar, hei de definir o critério certo para o fazer… programo até as datas possíveis para a grande arrumação. Sinto-me logo mais leve, cheia de certezas, agora é que vai ser. Depois hão de passar as datas, hei de trazer mais livros para casa, hei de olhar desesperada para o caos, cada vez mais caos, e hei de fazer de novo as mesmas contas e hei de tomar de novo grandes decisões.

domingo, 4 de março de 2018

Passeio de domingo (398)


Por pouco não havia passeio de domingo. Eu não fui previdente para o agendar antecipadamente, o tempo foi apertado e molhado, a máquina ficou em casa, o telemóvel não se ajeita lá muito bem para estas coisas. Enfim, foi o que se arranjou.