terça-feira, 31 de maio de 2011

Descansar


O que me apetece hoje é apenas descansar o olhar sobre a linha do horizonte.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A noite do pardal



Há já uma hora que este pardal se aconchegou no suporte vazio da goteira do telhado. Fui agora mesmo espreitá-lo e nem deu por mim. Acho que já dorme. Não sei se esta é a cama que habitualmente escolhe ou se está hoje zangado com o resto da família, que resolveu proceder a uma ocupação selvagem do telheiro que se encontra no lado oposto do meu quintal.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

O meu azulejo

Quem tem ou já teve filhos no pré-escolar ou na primária provavelmente já recebeu de presente um azulejo pintado .

Eu tenho dois azulejos pintados pelos meus filhos por ocasião de um Dia da Mãe. Mandei-os emoldurar e decoram há vários anos uma parede do meu quarto.

Tenho dois azulejos pintados pelos meus filhos mas tenho igualmente o meu próprio azulejo. Também eu, quando criança, na pré-escola (école maternelle como era designada em França), pintei um azulejo. Está pendurado numa parede da casa do meu pai. Dei por ele há dias depois de o julgar perdido. Fiquei feliz. Virei-o para verificar a data em que o pintei. Nas costas do meu azulejo, está inscrito o ano de 1966 junto com o meu nome com grafia francesa: Louisa.

E desse lado…. Há alguém que também tenha pintado um azulejo na escolinha?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tutti Frutti

Gosto das obras da Joana Vasconcelos. Acho-as divertidas. Impensáveis. Mas ela pensa-as, de facto. Gosto da fantasia que emerge das suas criações. Gosto da sábia mistura que ela promove entre arte e objectos do quotidiano. Gosto da reutilização que faz da arte popular. Gosto da denúncia que faz do consumismo nosso de cada dia. A 1 de Junho, chega ao Algarve, mais precisamente à gare do Aeroporto Internacional de Faro uma peça da Joana Vasconcelos. É a escultura Tutti Frutti, em forma de gelado gigante, e vamos poder vê-la por aqui até 30 de Setembro.

Fixe!


segunda-feira, 23 de maio de 2011

O homem das crocs azul-turquesa

O homem das crocs azul-turquesa está sempre sentado numa esplanada da avenida. Nunca reparei se bebe café ou se bebe água ou se bebe outra coisa qualquer. Passo por ele e, invariavelmente, olho para as crocs azul-turquesa que traz calçadas.
Seja verão ou seja inverno, o homem que está sempre sentado numa esplanada da avenida tem sempre as mesmas crocs azul-turquesa nos pés.
As suas feições são grosseiras e tem uma barriga grande. Vejo-o de manhã e vejo-o de tarde. Pergunto-me se terá alguma ocupação na vida ou se apenas se senta numa esplanada da avenida com as suas crocs azul-turquesa nos pés.




domingo, 22 de maio de 2011

Passeio de Domingo (50)





O passeio é de domingo, mas de um outro domingo que não hoje. Hoje o dia está mais virado para a família e para bolos comemorativos. Mas como as cores deste passeio pelo Sapal de Castro Marim estão de acordo com as cores do tempo que se faz sentir lá fora, achei que era um bom sucedâneo.


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O dia é de festa. O bolo é de chocolate, morangos e chantilly. O meu filho mais novo já vota no próximo dia 5 de junho... xiiii... como o tempo voa!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mas quem é o Jojo?

Acho que a minha memória anda a ficar com mais buracos do que um queijo gruyère.



Estava eu a matar saudades da minha adolescência, folheando o arquivador de discos de vinil de 45 rotações, quando reparei numa dedicatória escrita na contracapa do single dos Culture Club. Aquele em que eles cantam o tema “Do you really want to hurt me”.



O autógrafo é assinado pelo Jojo… ou será Fofo? A caligrafia tanto pode dar para o J como para o F. E agora?


Diz que é “do Jojo(?) com um abraço e uma chapelada”. O local do escrito está assinalado como sendo a Zebra – Vilamoura, e foi na Páscoa de 1983. E agora? Quem diabo era o Jojo?


Da Zebra, lembro-me bem. A discoteca situada na Aldeia do Mar, em Vilamoura, já não existe há séculos. E eu em 83 já não era propriamente adolescente. Mas hoje, por muito que me esforce, não consigo entender como é que tenho este disco, com esta dedicatória, enfiado no meu arquivador de vinis.



quarta-feira, 18 de maio de 2011

Doce da amizade





Na pausa café da manhã, que foi mais uma pausa chá, a colega Teresa mimou-nos com o seu doce da amizade. O seu delicioso doce de tomate com nozes fez um verdadeiro sucesso. Foi feito com a ajuda da Bimby ( que apesar disso não me convence.... é que por muito que a panela faça, alguém tem que arranjar os ingredientes... ) mas traz uma receita especial que podem retirar do rótulo. É só clicar na foto para visualizar melhor.


Certo é que depois de uma monumental molha apanhada à custa do dilúvio que hoje se fez sentir, o doce da amizade foi um bálsamo para quem o partilhou.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Escreve-me um poema




Escreve-me um poema. Escreve-o no céu, no mar, na terra.


Escreve-me um poema sem te importares com a rima.


Mas escreve-o baixinho para que só eu


o possa ouvir.


Escreve-me um poema no ramo da árvore


e em cada folha que nele cresce.


Escreve-me um poema que seja diferente.


Pinta-lhe as palavras de uma cor só tua para que só eu


o possa dizer.


Escreve-me um poema mas troca-lhe os sentidos,


que sentidos certos já não são poema.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vento

sssssssssssshhhhhssssssssssss
ssshhhhssssssssssssssssssssss
sssssssshhhhhssssssssssssshh

Era capaz de ficar horas ouvindo o vento roçar-se nas folhas das árvores.

sssssssssssssshhhhssssssssss
ssssssssssssshhhsssssssssssss
ssssssssssshhssssssssssssssss

sábado, 14 de maio de 2011

Sons da noite

A noite está quente antecipando o verão.


Abro o vidro do carro para que entre a brisa. Entra a brisa e com ela as vozes da esplanada do bar dos ingleses, ali ao lado. E também o tilintar dos copos e o arrastar das cadeiras na calçada do passeio. As conversas dos ingleses cruzam-se no ar da noite com as conversas das mães portuguesas que esperam pelos seus filhos, ali no largo. Por vezes há gargalhadas. E também roncos de motor dos carros que passam pela rua.


Fixo o olhar no xadrez da calçada e no branco da parede, na minha frente. Ouço o bater cadenciado de um andarilho metálico no chão. É um homem aleijado no pé que passa e se apoia nele.


Não me apetece juntar-me às outras mães. Fico no carro ouvindo os sons da noite, entrecortados de breves silêncios.


Abstrata (5)





quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mais sapatos...



Na minha conta pessoal, é capaz de ser verdade. Mas é só por engano ao comprá-los. Os sapatos são os maiores aldrabões que há. Quando os experimentamos, estão sempre (ou quase) bem. Depois é só começar a andar com eles para perceber como fomos enganadas.


E no vosso armário, quantos sapatos há?

domingo, 8 de maio de 2011

Passeio de Domingo (48)







Juntei aqui os passeios de ontem e de hoje. Fui ver o mar e o que o rodeia. Não é por nada, mas por estas bandas já cheira a verão...









sábado, 7 de maio de 2011

Vestido de noiva

No volume dedicado à época contemporânea da “História da Vida Privada em Portugal”, encontro as páginas dedicadas ao casamento. Nas páginas dedicadas ao casamento, detenho-me nas linhas que contam a indumentária dos noivos. Fico a saber que, nas primeiras décadas do século XX, as camponesas portuguesas vestiam-se de preto para casar e que a partir dos anos 1930 as noivas envergavam um vestido ou fato de saia e casaco de cor suave, blusa clara e lenço branco ou véu na cabeça.

Foi no entanto nessa época que se adotou o branco para o vestido da noiva. Mas isso só acontecia nas elites, tanto urbanas como rurais.


A minha mãe que se casou na década de 1950 levou um modesto vestido cinzento. Não há fotografias do casamento no álbum para o atestar, mas lembro-me bem dela assim o contar. Era um vestido curto, cinza claro, que haveria de servir para outros dias festivos.


O branco acabou por chegar cá a casa nos finais dos anos 1980, no meu vestido. Curto. Sem véu.




Sarah Affonso - Casamento na Aldeia, 1937
Imagem do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Há objectos e objetos

Isto agora começa a parecer uma salganhada. Mas o que fazer?

É que há dias comecei a tentar aplicar aqui o novo acordo ortográfico. Coisas absratas e tal.

Só que hoje acabei de aqui deixar mais uma vida secreta dos objectos, uma série que criei antes da minha famigerada decisão de me "modernizar". Como os títulos anteriores me aparecem automaticamente para copiar e ajustar e como a etiqueta também já cá está... cliquei e pronto, saiu a versão antiga. E antiga decidi que ficará, para eu poder recuperar todos os posts da série quando me apetecer.

Paciência. O acordo que conviva por aqui com o antes e o depois. E que uma ortografia não se zangue com a outra, se faz favor.

A vida secreta dos objectos - O ferro de brincar

A vida é um lugar estranho. Às vezes dou por mim a pensar como é que consegui sobreviver aos outros brinquedos dela.

Estou há anos fechado num armário poeirento que está encostado à parede da arrecadação do fundo do quintal. Por única companhia tendo tido uns livros quase tão velhinhos quanto eu. Ao menos valha-me isso. Eles são uma boa companhia. Sempre vão contando umas histórias que me ajudam a passar o tempo. Só não têm remédio para este mal da ferrugem que me atacou. O que eu tenho sofrido com esta peste! Começou com um picozinho aqui, um picozinho ali… e agora estou numa lástima. Custa-me olhar para mim e ver-me nesta agonia. Logo eu… uma imitação autêntica do verdadeiro ferro de passar Calor da Jolux. Sim…sim… sou made in France. Eu sei… ao fim de tantos anos em Portugal, já falo correctamente português e nem sotaque quase mantenho. Mas como eu ia dizendo, eu sou um ferro de brincar à séria. Aqueço mesmo. Ou aquecia… vá… Na verdade há séculos que ninguém me liga à corrente. Mas até tenho um sinal luminoso na testa!

Hoje em dia já não se fabricam ferros de brincar como eu. É tudo de plástico. No meu tempo é que era. Ela passava as roupinhas das bonecas com uma dedicação tal… até fico emocionado só de lembrar. Mas a vida é assim. Ela cresceu, arrumou-me numa caixa qualquer e trouxe-me para Portugal. Só que se esqueceu completamente de mim. Ingrata, é o que é. Nem sequer se lembrou de me passar para a filha dela. Uma vergonha! Se me tivesse dado uma segunda oportunidade de trabalho, talvez eu não tivesse chegado ao estado degradado em que me encontro. É que custo a mexer-me com esta oxidação de que sofro.

Agora, pôs-me a apanhar ar. Houve para aqui uma sessão de arrumação dos trastes velhos e retirou-me do armário. Andou comigo às voltas, pousou-me no parapeito do terraço e encostou uma máquina escura ao olho. Carregou num botão da dita máquina e ela fez um barulho esquisito. Não percebi nada daquilo. Não sei quais são as intenções dela.

Ai que ansiedade! O que poderei eu ainda esperar desta vida?


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Rua Abade Faria

A D. Maria, a quem aluguei um quarto nos meus dois últimos anos de estudo em Lisboa, era uma velhinha de cabelo ralo e branco, nariz adunco e olhos translúcidos que, à época, já ia para além dos 80 anos. Alugou-me um quarto interior, com mobília pintada, tipicamente alentejana, e que para além da porta que dava para o corredor da casa, tinha outra que dava para a sala, onde eu muitas vezes me sentava para estudar.
A D. Maria tinha terríveis dores de cabeça e levava os dias a tomar Dolviran. Nunca eram suficientes… os Dolviran. Ela tomava-os sem conta, até que ficava doente do estômago. Mas como o pior eram as dores de cabeça, desse por onde desse, a D. Maria nunca dispensava os seus comprimidos Dolviran.
Na casa da Rua Abade Faria, entre o Areeiro e a Alameda, vivia outro inquilino. Ocupava o quarto ao lado do meu. Era um senhor só e silencioso de cujas feições não consigo lembrar-me. Também não saberei recordar que profissão teria. Mas, para além disso era poeta.
Em Janeiro de 1985 autografou-me um dos livros que me ofereceu e que reencontrei hoje na minha estante. Na sua dedicatória, explicava que me oferecia palavras sobre o Alentejo, vizinho do meu Algarve. Citava poetas algarvios e agradecia-me por sempre ter atendido cuidadosamente os telefonemas que lhe eram destinados.
Ao fim destes anos todos, só porque me lembrei dos Dolviran da D.Maria, o poeta apareceu-me pela frente. Busquei-o então no Google e, em breves instantes fiquei a saber mais sobre o Sebastião Penedo do que em dois anos de vizinhança de quarto. O Google é uma grande coisa. Mas ainda assim, não tão grande. Da D. Maria não há rasto. Só dos seus Dolviran.

domingo, 1 de maio de 2011

Passeio de Domingo (47)




O dia de maio, hoje, decidiu ser do contra. A chuva não deu descanso e não permitiu nem o tradicional piquenique nem ao menos o habitual passeio pelo campo.

Vinguei-me nos doces típicos com que no Algarve se assinala o dia do trabalhador. Ontem à noite fiz pela primeira vez um bolo de tacho. Ofereceram-me um queijo de figo. E assim que publique este post, vou comer caracóis.








E mai nada!