terça-feira, 29 de junho de 2010

Fomos...


Sendo assim, não tendo hoje vencido as tormentas, só nos resta afogar as mágoas num licorzito... Há de canela, de caroço de nêspera, de manga, de figo.... Sirvam-se, vá!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Esquecida

Há quantos anos, já, deixei de ver aquela mulher de idade que todos os fins de tarde, se encontrava encostada à parede de casa, olhando o trânsito que passava. Serão dois? Três? Sempre pela mesma hora, sempre com um cão de pequeno porte, apoiada no muro, esperava o dia findar olhando a estrada. Os olhos criam hábito, um hábito que acaba por cegá-los. Deixam de ver o que todos os dias vêem, adormecidos pelo torpor da repetição dos cenários. Os meus, acordaram, hoje, de repente, porque, sei lá como, perceberam que mulher já não estava ali. Foi talvez por causa do tamanho do loendro que cobre agora quase toda a parede lateral da casa. É pequena e as ervas daninhas, já secas dos primeiros calores do Verão, chegam bem ao parapeito das janelas. Arrombaram-lhe a porta e ao passar, como todos os dias, olhando pelo vidro da janela do carro, vi ou julguei ver, nas traseiras da casa, uma mola de roupa esquecida na corda, que serve agora de pilar à pequena teia de uma qualquer aranha.




domingo, 27 de junho de 2010

sábado, 26 de junho de 2010

Só eu sei porque gosto tanto do Algarve (8)


Porque há tantos lugares e mais alguns onde posso pedir uma frase emprestada ao poeta e dizer que " Sou algarvio(a) e a minha rua tem o mar ao fundo..."

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fonte de prata

Mais uma noite de S.João sem fogueira para pular, mas com um verso a martelar-me na cabeça....é que só me lembro da minha mãe cantarolar que:

São João pra ver as moças, fez uma fonte de prata.
Agora as moças não vão à fonte e São João todo se mata.

A vida secreta dos objectos - O escadote detective

Ora, Ora, Ora… cá está mais uma de olhos arregalados para mim. Assim não há condições para eu levar a cabo a minha missão. Eu bem avisei o meu chefe que este disfarce não ia funcionar. Tenho que vigiar a porta de entrada daquele prédio, ali do outro lado da rua, porque suspeitamos que a qualquer momento o criminoso que procuramos possa visitar a irmã que ali vive. O chefe achou que nada melhor do que o disfarce da bicicleta presa ao poste para passar despercebido. Qual quê? Isto não dá mesmo! Na verdade alguns passantes nem olham para mim. Mas esses são aqueles indiferentes a tudo, completamente hipnotizados pela vida que levam, numa correria constante que até parece que nunca chegam a tempo a lugar nenhum. Só que há outros que me vêem … sim senhor e não disfarçam o espanto e o gozo. Uns seguem abanando a cabeça, outros resmungando que já se viu de tudo. Sei lá se a irmã do tipo não me avistou já da sua janela!

Ai… olha, esta agora até me está a tirar um retrato! Estou feito! Não tarda estou denunciado num sítio qualquer da Internet! Vou mas é telefonar de imediato ao chefe. Vou propor-lhe que me pendure naquela árvore com umas asas postiças. Isto há por aqui muita passarada, provavelmente assim ninguém dará por mim.


terça-feira, 22 de junho de 2010

De onde é que eu conheço esta marca?


Anúncio publicitário de 1986


Já se sabe, gosto de imagens passadas, sejam elas de pessoas, de paisagens, de objectos ou mesmo de anúncios. Gosto de rever coisas das quais já me esqueci. E quem se lembra desta marca? Nasceu em 1979 e deu origem à Danone Portugal.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Summertime

E não é que num instante chegou o Verão?

Champanhe

Bem sei que ainda é cedo de mais para festejar assim, mas sempre foram sete!


Imagem daqui
Champagne de Rochegré (1902), Leonetto Cappiello

domingo, 20 de junho de 2010

Passeio de Domingo (4)



Pelo passadiço junto à Praia Grande e à Lagoa dos Salgados (Armação de Pêra), até ficar com os olhos rasos de beleza....





Como eu gostava de acreditar...


Imagem daqui

Ele há cada uma!
Hoje, ia eu EN 125 fora, olhando o carro que seguia à minha frente e que transportava duas bandeirinhas ao vento para sinalizar o seu apoio futebolístico a Portugal e ao Brasil quando comecei a imaginar como seria se eventualmente uma delas se desprendesse e fosse, sei lá... bater na cabeça de algum passante. É que pelo meu pensamento andam sempre a passar imagens de desastres e dramas, que tenho que afugentar abanando as ideias para elas voltarem aos seu devido lugar. Ora sucede que no preciso instante em que as minhas ideias andavam destrambelhadas com a imagem de uma bandeirola a soltar-se, a do Brasil soltou-se mesmo. Não andava por ali nenhuma cabeça perdida para apanhar com ela e, depois de se ter violentamente desprendido do carro, a bandeira lá se estatelou e ficou pregada ao asfalto. Continuou o carro à minha frente, já só com as cores de Portugal que se mantiveram firmes e impassíveis face à força do vento.

Quem me dera acreditar que isto é um bom sinal....

sábado, 19 de junho de 2010

A força da farda


Imagem daqui
O meu sobrinho, de cinco anos, diz que quando for grande quer ser bombeiro.
Há dias, passando numa rua, viu um gatinho que não conseguia sair debaixo de um carro, onde se tinha refugiado. Disse logo para a mãe:
- Se calhar é melhor chamar os bombeiros. Ou então vamos mas é a casa buscar o meu fato de bombeiro para eu poder ir ali salvá-lo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Mercado de Almocreves

Hoje, na minha terra foi dia de Mercado de Almocreves.
Os mercadores eram alunos, pais e professores da escola local.
Deu nisto.






Saramago,1922-2010

Antes da minha filha ter nome, o meu colega J. que andava na altura da minha gravidez a ler o Memorial do Convento, resolveu passar a chamar a minha barriga, ou melhor quem nela crescia de Blimunda Sete-Luas. E todos os dias trazia à baila essa fantástica personagem que no entanto, só muitos anos mais tarde eu haveria de conhecer. Antes dela conheci outras histórias e evangelhos e depois dela algumas outras, entre cegos e elefantes. Falta-me ainda conhecer muitas. Mas não há problema…tenho até à eternidade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Salvar vidas com sabonetes


Imagem daqui

Clean the world é uma organização norte-americana sem fins lucrativos que se dedica a recolher e a reciclar os sabonetes e restos de champôs que ficam nos quartos dos hotéis depois dos clientes saírem. Esta grande ideia, tiveram-na dois indivíduos ao perceberam que poderiam aproveitar esse desperdício para reutilizar em países com grandes carências, em que milhões de crianças morrem anualmente de doenças provocadas pela falta de higiene. Gosto destas notícias e mais ainda destas grandes ideias.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Provar Portugal


A promoção da identidade gastronómica de Portugal e a promoção do nosso país como destino gastronómico tem agora um sítio que, pelo sim pelo não, já coloquei nos meus favoritos. Há lá sabores de chefs mas o povo também pode lá carregar os seus.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Eu, cegonha



Do cimo desta torre absorvo a calma da manhã

E observo cada telhado da cidade.

O sol já me entorpece e pouco tarda

Para que eu abra, em largo, as minhas asas

E me lance pairando pelo céu.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Espelho à cabeceira



Tenho desde hoje à cabeceira, fazendo companhia a mais dois livros que lá moram por estes dias, um “Espelho Íntimo” saído do Ofício Diário, que tem uma porta de entrada aí ao lado, na coluna da direita…


E sorrio porque sei que me vou deliciar a ler palavras de Luz, reflexos de vidas, cenários fluidos, mansas paisagens.

E prevejo que, tal como acontece quando leio o que o poeta nos deixa diariamente no seu Ofício, me vou perguntar como é possível dar tão claro sentido a todas as palavras

domingo, 13 de junho de 2010

Passeio de Domingo (3)









As desgraças de Sofia

Hoje fui dar uma voltinha aos livros da minha infância.

Encontrei uma edição de 1973 da obra da Condessa de Ségur que conta as Desgraças de Sofia, uma menina muito traquina . Tem umas ilustrações lindas, de Manon Iessel.





sábado, 12 de junho de 2010

Viva a Santo António...uma!

Ainda sinto no ar o cheiro do alecrim a queimar na fogueira que se fazia nas noites de Santo António, São João e São Pedro. Ainda trago comigo a viva lembrança do nosso riso ecoando pela noite enquanto preparávamos as sortes, esses jogos de adivinhação e de interpretação do futuro que as moças casamenteiras experimentavam para ficar a saber com quem e como se firmaria o seu destino.

A sorte da fava iria dar-nos a indicação sobre o nosso grau de riqueza. Arranjavam-se três favas: uma sem casca, outra com metade da casca e outra ainda com a casca toda. Passadas nove vezes pela fogueira, dando repetidas vivas ao santo, eram colocadas debaixo do travesseiro de onde, na manhã seguinte, ao acordar, seria retirada apenas uma. A fava descascada fazia adivinhar um futuro de pouca abundância. Já a fava toda “vestida” significava uma rica vida em perspectiva.

Havia ainda a sorte da bacia de água onde se derramava uma quantidade de cera derretida que ao solidificar tomaria um conjunto de formas nas quais os nossos olhos, guiados pela superstição, haviam de descobrir o artefacto que significaria a profissão que teria o nosso futuro marido. Ou ainda a do chinelo que atirávamos ao longe com o pé, depois de executados os nove saltos sacramentais sobre a fogueira, e cujo posicionamento na queda nos indicaria a direcção do lugar de onde viria o nosso amado.

Ainda sinto no ar o cheiro do alecrim a queimar na fogueira, feita no meio da rua onde também se levantavam os mastros enfeitados de murta e rosmaninho, à volta dos quais se havia de dançar noite dentro. E na minha cabeça ressoa o “Viva a Santo António… uma. Viva a Santo António … duas, contando até nove os pulos que dava sobre as chamas da fogueira.



Imagem daqui

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A vida secreta dos objectos - a caixinha de lata


Não tenham dúvidas. A vida dá cada volta... Vejam só o meu caso. Há anos, mas anos… que eu estava enfiada num saco de plástico cheio de outros pequenos sacos de plástico que guardam botões velhos. Velhos de idade porque nem todos chegaram a ser usados. São botões de sobras. Sobras do tempo em que a M. trabalhava na confecção de roupa “pronto-a-vestir”. Eu própria guardo há que tempos alguns botões velhos, umas argolas de plástico e até um gancho de cabelo adornado com um laço de veludo azul. Fraco uso, este que me foi dado depois de cumprida a minha missão de guardar cigarros.

Em mais de 40 anos, fui uma lata bastante viajada. Nasci na Holanda, na fábrica de cigarros de H. & J. Van Schuppen N. V. mas fui destinada a ser vendida em França. Um por um, fui despojada dos meus cigarros. Eram apenas 10, da marca Panter Mignon. Mas, caixinha de lata que era, fui tendo outras serventias, nomeadamente a de guardar alfinetes e outras pequenas bugigangas. Acabei chegando a Portugal e por aqui fiquei. Há anos que ninguém me ligava. Mas a vida dá cada volta! E na volta das arrumações e da busca de um qualquer fio de croché, a L. redescobriu-me. Resgatou-me do saco de plástico e tenho passado uns dias bem mais arejados, sobre a mesa de apoio do quarto dela.
A sério, ó latinhas desse mundo aí fora…Não desesperem nunca. Como eu, mais dia, menos dia, irão descobrir que há sempre uma nova vida à nossa espera.

sábado, 5 de junho de 2010

Egoísmo

Escolhi a hora do egoísmo para poder senti-lo só meu.

Ao longe ainda ecoavam as vozes alegres dos últimos banhistas que se apressavam em direcção aos seus chuveiros com a fome do jantar a arranhar-lhes o estômago. Os banheiros, esses já haviam guardado as almofadas das espreguiçadeiras e picado ponto da saída há algum tempo. O vento que soprava, cansado, fez de repente uma pausa. Indiferente, a maré prosseguia o seu vaivém que eu ouvia enquanto caminhava vereda adiante em direcção ao areal. Por fim, cheguei e senti-o sob os meus pés, ainda morno do sol que impiedosamente o queimou horas a fio. Como eu esperava, estava vazio...





Publicado também para a Fábrica de Letras ( Tema: Estava Vazio...)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ainda a vertigem do tempo... mas no Algarve

Não deixes que esse retrato te esqueça. Vai buscá-lo onde estiver. Há um passatempo que espera por ele.

A vertigem do tempo

"Acreditem: é terrível ser esquecido por um retrato. Só muito tarde percebi que o passado e o futuro existem no presente, o que fomos e o que seremos estão connosco agora. Aquele miúdo sou eu, aquele velho sou eu."

António Lobo Antunes, esta semana, na Visão.

Água de cores


Fui ao cabeleireiro e enquanto me deixava pentear observava uma estranha e colorida instalação de saquinhos para cubos de gelo, cheios de água colorida, que se encontrava sobre a porta de entrada. Fiquei realmente atraída por aquela imagem e pensei que tivesse sido algum trabalho realizado pelos filhos dos donos do salão, eventualmente relacionado com o Dia da Criança recentemente celebrado. Intrigada, não resisti a perguntar. Mas não. Era só uma experiência. Como há quem diga que um saquinho de água pendurado à entrada da porta afasta as moscas, o meu cabeleireiro resolver experimentar desta forma mais artística se a coisa funcionava. E funciona? Parece que não, disse-me. Mas olhe, até parece bonito.

Bolo de banana

Tenho uma receita de bolo de banana com cobertura de chocolate que se tornou no mais famoso bolo dos dias de festa de aniversário no meu trabalho. Todos os anos vejo-me obrigada a confeccionar um exemplar sob pena de ser excomungada do meu serviço por uma horda de colegas a salivar de gulodice. Todos os anos recito a receita para quem quiser ouvir, mas como no momento estão mais preocupados em devorá-lo do que em tomar notas, levam meses a fio a perguntar-me quando é que faço novamente o bolo de banana e quando é que lhes dou a receita.

A mim, foi-me dada há longos anos pela minha amiga R. Agora vou finalmente dá-la ao mundo ( nem que seja só ao pequeno mundo que passa por esta esquina) e ficar à espera de comer muitos bolos de banana confeccionados pelos meus queridos colegas. Além disso, uma receita fica sempre bem num blog...



Ora aqui vai:

3 ovos; 170 g. de açúcar; 2 colheres de chá de açúcar baunilhado; 125 g. de farinha; 1 colher de fermento em pó; 100 g. de manteiga derretida; 1 banana grande.

Batem-se os ovos inteiros com o açúcar e o açúcar baunilhado para obter um creme fofo e homogéneo. Mistura-se a farinha com o fermento e vai-se adicionando ao preparado, alternando com a manteiga derretida. Bate-se bem e por fim junta-se a banana em puré. Mistura-se bem e vai ao forno a cozer a 180º, em forma de bolo inglês untada e enfarinhada (eu prefiro usar papel vegetal).

Desenforma-se e deixa-se arrefecer. Procede-se então à cobertura do bolo com 100 g. de chocolate para culinária e 1 colher de sobremesa de manteiga que são previamente derretidos em banho-maria e batidos fora do lume de modo a tornar a cobertura brilhante.





Asseguro-vos que está muito bom...

Ah... é verdade, quando disse ao meu filho que ia publicar a receita, ficou escandalizado. Insistiu que não o devia fazer...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dias especiais

Sei de uma menina que, nos idos anos 40 do século passado, ganhou os seus primeiros sapatos aos nove anos de idade. Comprou-os com o dinheiro ganho numas férias da Páscoa a trabalhar num pinhal. A sua tarefa era a de impedir os charnecos de comer as ervilhas por ali plantadas. Tinha que fazer a sua primeira batida ainda antes do sol nascer. Levantava-se, por isso, muito cedo e percorria longo caminho até lá chegar. A história, contou-a em verso popular perto do fim da sua vida. Dizia no último verso que tinha ganho para uns sapatos de vitela que faziam toilette com a sua chita da tabela.

Nessa meninice não conheceu dia dedicado à criança. E agora, que em breve chegará um dia dedicado aos avós, já não está por cá para o conhecer.