domingo, 27 de fevereiro de 2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Pedras


Conforta-me o silêncio das pedras
lisas
arredondadas
polidas
pelo tempo
e pelas águas.


Perfeitas
moldadas à vontade dos elementos
submissas
torneadas a capricho
das ondas alterosas.


Conforta-me o silêncio das pedras
resgatadas às marés e hoje
adormecidas
na sua casa de vidro.

A vida do açúcar


Estamos sempre a aprender, não é assim? Pois eu, com alguma idade que já tenho, só bem recentemente descobri que o açúcar não tem prazo de validade.

Aí por altura das festas, quando a azáfama à volta dos doces estava ao rubro, o meu pai, que não gasta açúcar, apareceu-me com um pacote que, dizia ele, lá tinha em casa desde o tempo em que a minha mãe ainda era viva. Ora essa... então com mais de dez anos enfiado na despensa o dito açúcar já devia estar capaz era de ir para o lixo, pensei eu. Vá de virar e revirar o pacote à procura de uma data de validade. É que, por certo, o meu pai devia estar equivocado e devia ter sido ele, por qualquer razão, a comprar aquele açúcar. Mas não, nenhuma indicação de "consumir até", nem de "consumir de preferência antes de". Nada.

Por curiosidade procurei um dos pacotes de açúcar da minha despensa, por sinal um da mesma marca, e procedi a mais uma minuciosa inspecção. Nesse pacote, sim, havia uma indicação: "validade ilimitada". Pois é.... como é que eu nunca tinha reparado neste pormenor? Assim, o quilo de açúcar "vintage" que o meu pai me entregou naquele dia foi utilizado para fazer um delicioso doce de abóbora, que vou gastando ao pequeno almoço com uns pedaços de queijo de cabra fresco atabafado. Uma delícia que agora me faz sempre lembrar da longa vida do açúcar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Chocolate



Comecei a ouvir falar do assunto e não quis esperar muito para ver como era. Ao sair hoje do trabalho, fiz um desvio até Loulé e fui espreitar o Mercado, que até Domingo está de portas abertas até às 19h30 para acolher um pequeno festival de chocolate. Pequeno mas saboroso e mais... com chocolates "made in Algarve". Sim, sim... feitos à mão. Coisa artesamal e gourmet. Comprei os "Choco-Laranja", uma delícia de laranja confitada com cobertura de fino chocolate amargo.
Também há de figo. Isto tudo é sem remorsos porque a literatura associada ao chocolate explica o quanto ele é saudável. É um aliado do sono e da felicidade e dizem que contribui para a melhoria do sistema circulatório e do coração. Parece que ajuda no crescimento e manutenção óssea, previne o envelhecimento, estimula a actividade cerebral e, não contente com isso, ainda é um poderoso afrodisíaco.



Então... qual é a dúvida? Aproveite-se, não?
Entretanto, daqui a dias há mais chocolate, pelas bandas de Vilamoura.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sinais do tempo


Não sei se já repararam, mas as andorinhas estão de volta... e andam alegremente afugentando o Inverno. Gosto disto.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Passeio de Domingo (37)




Uma hora de caminhada por trilhos da aldeia e arredores foi o suficiente para observar flores e bichos.



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A história do porquinho-da-índia


Alguns dos meus livros de infância passaram a morar, há alguns anos, na estante do quarto da minha filha. Estão lá, devidamente arrumadinhos, os meus livros dos Cinco, numa edição da época em que apresentavam as capas com desenhos e não com fotografias como já por aí vi.

Hoje, numa visita à dita estante, para ver se algum dos volumes que lá estão, quereria acompanhar-me até à minha mesa-de-cabeceira, descobri um pequeno livro de que já não me lembrava: “Gulliver Guinea-Pig’s mystery trip”.

É uma história infantil que me foi oferecida, em 1974, pela Helen, a minha correspondente de língua inglesa de então. Nessa época, era habitual, na escola que eu frequentava, fomentarem-se estes intercâmbios linguísticos. Era no tempo em que eu escrevia cartas à mão, brincava com a Barbie, fazia ballet e não imaginava o que pudesse ser um computador, menos ainda o que seria o correio electrónico.

A Helen, de quem ainda guardo uma fotografia na caixa das recordações, autografou-me o livrinho em francês, língua que, por seu lado, estudava, sendo eu, para o efeito, a sua correspondente.

Entretanto, a minha filha, por certo quando aprendeu a escrever, fez-me o favor de espalhar o desenho do seu nome em várias páginas do livro. Marcas de posse indeléveis que fazem de cada livro um livro único.

Gosto destes pequenos detalhes.

Gosto de recuperar objectos esquecidos e rever-me neles.

Acho que não me deito hoje sem ler a aventura do pequeno porquinho-da-índia.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O pintor



Desconfio que anda por aí um pintor que, em certos dias, atacado de loucura, resolve mudar a cor do céu. Então, fora de si, vai pincelando o azul de rosa e riscando a grande tela com fervor. É em vão o seu esforço, porque o dono do quadro celeste, logo, logo tudo manda limpar e de pronto a cor tradicional restabelece.





Uma pequena pitada de loucura para a Fábrica de Letras que a esse estado dedica o tema de Fevereiro.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Passeio de Domingo (36)


Por obra da malfadada gripe, o passeio hoje ficou dentro de portas. Só consigo mesmo andar pelos cantos da casa.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

A vida secreta dos objectos - O termómetro

Até que enfim! Estava a ver que não chegava a trabalhar este Inverno. Isto de um termómetro estar no desemprego na maior parte do tempo é aflitivo. Já andava a ficar desesperado, fechado ali naquela gaveta da cómoda, entre papéis e carteiras em desuso, com não sei quantas caixas de óculos que deixaram de servir a encalhar constantemente no meu invólucro…
Mas vá lá… há três dias que entrei ao serviço, a monitorizar a febre dela. Pegou-lhe finalmente o bicho e assim sempre me dá o que fazer. Só que em breve acaba-se o trabalho e lá vou eu ficar novamente arrumado.
O que eu gostava mesmo era de ter conseguido um lugar na enfermaria do hospital. Aí sim é que um termómetro se vê realizado. Diariamente em funções, medindo febres e febrões, ai… quem me dera!
Enfim, a cada um a sua sorte. Olha, lá vem ela para mais uma medição. Deixem-me aproveitar enquanto é tempo.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Siracusa

Isto hoje não me saía da cabeça. Tive que procurar e colocar aqui.


J'aimerais tant voir Syracuse
L'Île de Pâques et Kairouan
Et les grands oiseaux qui s'amusent
A glisser l'aile sous le vent.

Voir les jardins de Babylone
Et le palais du grand Lama
Rêver des amants de Vérone
Au sommet du Fuji-Yama.

Voir le pays du matin calme
Aller pêcher au cormoran
Et m'enivrer de vin de palme
En écoutant chanter le vent.

Avant que ma jeunesse s'use
Et que mes printemps soient partis
J'aimerais tant voir Syracuse
Pour m'en souvenir à Paris

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

No consultório

Onze e meia da manhã, na sala de espera do consultório médico, a televisão está ligada, suponho que para entreter os pacientes enquanto aguardam a sua vez de ser atendidos.

As consultas são previamente marcadas e o horário parece cumprir-se com razoável pontualidade, já que, para além de mim, apenas um senhor de idade se encontra sentado numa cadeira junto à janela.

O televisor sintoniza a tvi e o Goucha à conversa com Cinhas e Caneças. O alarido é tremendo. Falam todos ao mesmo tempo. Riem muito. Falam do Cristiano Ronaldo, da Irina e de um qualquer estudo relacionado com discussões conjugais, por sua vez relacionado com uma marca de papel higiénico. A apresentadora que acompanha o Goucha - parece que se chama Cristina – tem uma voz estridente e quase grita para sobrepor a sua fala às falas da conversa que corre. Começo a ficar agitada. Sinto-me como se estivesse ao lado de um galinheiro em polvorosa. O som do aparelho até nem está muito alto, mas o “debate” deixa qualquer um em frangalhos.

Para rematar, quando chega o momento de um concurso em que entra em cena uma roda da sorte, toda a assistência do programa, composta exclusivamente por senhoras com cara de dona de casa, se põe a rodar as mãos e os antebraços numa coreografia de um só movimento contínuo. Olho para aquelas senhoras, feitas tontinhas de serviço, e suspiro de alívio quando sou chamada a entrar no gabinete médico.


E isto era uma consulta de oftalmologia… olha se eu fosse tratar dos nervos!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A ler

É na cama que mais gosto de ler. Não deitada, nem sequer muito recostada. Levanto a almofada, finco o assento no seu lugar e encosto-me à cabeceira. No aconchego macio dos lençóis, encontro o melhor canto de leitura cá de casa.
Se as páginas se apresentam com conteúdo empolgante, demoro-me na mesma posição, incapaz de interromper a história que corre sob os meus olhos. Até que chega aquela dor insuportável e, com o traseiro já dormente, me obrigo a escorregar, apoiando outro lado do corpo, ou até a deixar as páginas que faltam para o dia seguinte.
Outras vezes, porém, a sessão de leitura fica mais curta. Ou porque a história está morna, ou porque estou demasiado cansada, instala-se um peso sobre os meus olhos, amolece cada músculo do meu corpo e Morfeu domina-me de repente. Fico então sentada, de livro na mão e cabeça pendente, balançando naquela linha divisória, entre a vigília e o sono.
Acho que até chego a sonhar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O colchão

Há cenas de filme em que batalhas de almofadas resultam em chuva de penas. Vejo-as esvoaçar, leves, soltas, brancas, macias. Mas isso é com almofadas de penas... e até apetece.
Agora ponho-me a imaginar como teria sido a batalha, não campal, mas entre portas, que eu travei, quando criança, com uma prima da minha idade, contra o colchão que afofava a cama do quarto dos fundos. Não que o dito fosse especialmente fofo. Antes pelo contrário, imagino eu, já que era um colchão cheio de camisas de milho. Sim, camisas de milho, as folhas secas que revestem a maçaroca e que após a desfolhada eram recurso, entre outras coisas, para encher colchões. Outros tempos, no meio rural.
Do acontecimento não tenho memória. Mas lembro-me da minha mãe contar, de um dia em que ela e a mãe da minha prima nos deixaram sozinhas em casa - má ideia, claro - e ao regressarem deram com uma revolução de camisas de milho, espalhadas por todo o lado, e com um colchão esventrado e moribundo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Reinterpretar o artesanato



Técnicas ancestrais, soluções actuais. Assim se designa um projecto que está em curso no Algarve e que se propõe reinterpretar e valorizar o artesanato regional. Partindo dos saberes e fazeres locais, inova-se o produto artesanal tendo em conta as necessidades contemporâneas.
Design e Tradição, aqui, no Projecto TASA.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fevereiro

Tenho ali na minha estante um livro de provérbios. Uma das suas entradas diz simplesmente "Fevereiro, racoqueiro". E depois, diz numa nota, que a galinha faz racocão quando se espoja no chão. E que é o que também acontece com a perdiz, depois que entrou no namoro. Além do mais, parece que recocar é o cantar manso e blandicioso das aves no período do acasalamento. Portanto, para além dos Valentins que por aí se avizinham, a sabedoria popular confirma que Fevereiro é mesmo o mês do amor.
Que livro é este? É "Os provérbios estão vivos em Portugal", de José Ruivinho Brazão, numa edição de 2004 da Editorial Notícias.