terça-feira, 27 de março de 2012

O fascínio da caixa ATM

Há pequenas histórias inimagináveis que se cruzam connosco, bem no meio de uma conversa banal, durante a pausa do almoço Esta chegou-se ao pé de mim pela boca de uma colega, em resposta ao comentário que fiz por ver uma mulher junto a uma caixa multibanco fazendo nela inúmeras operações. Também eu, por vezes e certamente para desespero de quem me segue na fila, junto uma quantidade jeitosa de contas por pagar e ocupo prolongadamente um terminal desta belíssima invenção que é uma caixa ATM.

Mas, voltando à história… Contou-me ela que uma colega do seu anterior local de trabalho, costumava ir ao multibanco todos os dias. Invariavelmente, à hora de almoço, a mulher tinha que levantar dinheiro, efetuar um pagamento ou proceder a uma consulta de dados. Era sempre a mesma história. Quando lhe perguntou porque é que não levantava logo uma quantia mais avultada que lhe permitisse passar alguns dias sem ter de voltar ao multibanco, a tal colega respondeu-lhe que não. Que gostava assim. Gostava de olhar para a máquina e vê-la dar-lhe ali, em dígitos eletrónicos, a informação sobre o dinheiro que ela ainda tinha na conta. Não lhe bastava o talão de papel. Tinha de carregar nas teclas, introduzir os códigos, para finalmente ver surgir perante os seus olhos o milagre tecnológico dos seus dados financeiros afixados no ecrã.



sexta-feira, 23 de março de 2012

Bom dia, olá, como está…


Caminho pela cidade. De manhã, caminho entre o local de estacionamento do carro e o serviço. Caminho em sentido inverso ao fim do dia. E no intervalo do almoço, caminho ao Deus dará, mirando montras, olhando jardins, muralhas e por vezes a doca. Cruzo-me com pessoas conhecidas. De sempre. De vista. E também com desconhecidos. Cruzo-me há anos com um homem gordo, de bigode que anda ora só, ora acompanhado da mulher. Cumprimenta-me sempre. Fala bom dia. Como está? Não o conheço. Só o vejo e respondo ao seu cumprimento. Também me cruzo com gente que conheço. Entre eles há até quem já tenha sido meu colega de trabalho. E desses há até quem passe sem me ver. Não fala bom dia. Não acena. Só passa.

Ainda sobre desafios, correntes e selos...

A Briseis, lá do seu pedestal,  lançou-me um desafio que traz um selo agarrado. É bem bonito este selo. E fica já aqui postado. A graça é que, por sinal, se trata de um desafio que já passou por estas bandas e ao qual respondi  com este arrazoado. Daquela vez, certamente fruto das muitas voltas que estes desafios dão blogosfera fora, chegou-me já sem selo. Agora, graças à Briseis, recuperei-o.  Quem seguir o link das minhas respostas, poderá, se quiser, agarrar o selo e a corrente. 

quinta-feira, 22 de março de 2012

Syracuse

Eu também gostaria de ver... Mas para já, gosto de ouvir.




J'aimerais tant voir Syracuse
L'ile de Paques et Kairouan
Et les grands oiseaux qui s'amusent
A glisser l'aile sous le vent

Voir les jardins de Babylone
Et le palais du Grand Lama
Rever des amants de Verone
Au sommet du Fuji Yama

Voir le pays du matin calme
Aller pecher le cormoran
Et m'enivrer de vin de palme
En ecoutant chanter le vent

Voir le pays du matin calme
Aller pecher le cormoran
Et m'enivrer de vin de palme
En ecoutant chanter le vent

Avant que ma jeunesse s'use
Et que mes printemps soient partis
J'aimerais tant voir Syracuse
Pour m'en souvenir a Paris

quarta-feira, 21 de março de 2012

21 de março


Hoje é o dia mundial da poesia.

Hoje é o dia mundial da floresta.

Hoje é o dia mundial da árvore.

Hoje é o dia internacional da cor e da luz.



Confesso que não sei para que dia me hei de voltar.





segunda-feira, 19 de março de 2012

A vida secreta dos objetos: o urso de peluche

Ai… ao que cheguei. Um urso vai para velho e logo fica para aqui esquecido num qualquer muro de canteiro. Já vai para duas noites que passo aqui ao relento. Bem sei que ainda tenho algum pelo que me protege um pouco das baixas temperaturas, mas isso não é tudo. Apesar de não chover, a noite sempre traz humidade. Mal escurece e começa logo a cair aquela leve cacimba que se me entranha no corpo. O que vale são os dias de sol. Ajudam-me a retomar a forma. De qualquer maneira, já estou a ficar aborrecido deste muro. Por muito que haja movimento ali na estrada – e estão quase sempre a passar automóveis e motorizadas e carrinhas de caixa aberta… - já nada me distrai. E depois, nem sequer olham para mim. Não me veem. E quem já nem tem olhos sou eu. Estou feito num farrapo velho. Um urso de peluche sem olhos. É para perceberem o trato que tenho levado, anos a fio, na mão das miúdas. Lembro-me de como era disputado por elas. Nessa época dispunha ainda de todas as faculdades de um verdadeiro urso de peluche. Era giro. Era macio. Elas gostavam de me apertar contra os seus corações. E eu ouvi-os bater. E ouvia os risos delas. E as cantigas. Ah… mas o melhor era mesmo quando chegava a hora de dormir. Eu tinha o meu lugar reservado no travesseiro. Uma ou outra abraçava-me e eu senti-me no paraíso. Os anos passaram e fui perdendo a minha beleza de outrora. De tal forma que há dois dias já que fui deixado aqui no muro. Abandonado. Completamente abandonado.


domingo, 18 de março de 2012

Passeio de domingo (88)


Hoje é um daqueles domingos que pede um passeio emprestado a outro  porque sabe antecipadamente que não vai poder passear. O empréstimo foi pacífico. É a continuação do passeio do último domingo que depois da serra rumou ao litoral, até Cacela Velha.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Coisas de Amélie


Houve um tempo em que um dos meus devaneios aqui na Esquina foi mostrar um galo de Barcelos a passar férias no Algarve. Uma prima minha comentou comigo que aquelas fotografias a tinham divertido bastante e que lhe tinham, lembrado a Amélie Poulain quando fez viajar o gnomo do jardim do seu pai e lhe fazia chegar os retratos do boneco nos mais diversos destinos turísticos.
 Eu não conhecia o filme da Amélie e só depois do comentário da minha prima é que o quis ver. Adorei-o, claro.


Hoje descobri o projeto Amélie, pelos vistos inspirado neste filme maravilhoso. Na verdade, eu já passei por alguns papeis destes colados em postes… mas só agora percebi  do que se tratava. E claro… gostei.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Escrever

Preciso de escrever aqui qualquer coisa. É suposto eu escrever aqui qualquer coisa de vez em quando. O problema é que ando no meio de uma autêntica guerrilha de palavras. E de frases. Parece que conspiram contra mim. Organizam-se em fações distintas e atormentam-me. Vão-me puxando ora para um lado, ora para outro. De tal modo que me fazem andar numa roda-viva. É uma situação absolutamente extenuante e em nada produtiva.

Ainda esta tarde, quando saí do trabalho, acompanharam os meus passos palavras como respirar, leve, caminhar, jardim, canto das aves, descanso. Mas enquanto estas palavras me puxavam para o sorriso, já se começavam a insinuar uma série delas para me apressar noutra direção. Supermercado, compras, carne, feijão, arroz, leite, depressa. A coisa foi piorando com a aproximação veloz de outras tantas como trânsito, anoitecer, descarregar, cozinhar. Então e aquelas que começaram também a gritar por mim a partir do quarto e dos cestos de roupa suja. Lençóis, camisas, toalhas, alguidar… todas, todas chamando por mim e pela máquina de lavar. Um autêntico desassossego. E se fossem só estas… Mas não. Tinham ainda que se juntar ao barulho os termos loiça, lixo, corda, estender, varrer.

Em dado momento ainda tentei escapar-me e fazer de conta que não via algumas delas. Quis antes começar a escrever estrelas, noite, luar. Quis juntar no mesmo pedaço de papel palavras doces, felizes, amigas. Coitadas. Elas bem se chegaram ao pé de mim mas no mesmo instante caiu-lhes em cima uma rajada de realidade, tempo a fugir, roupa por dobrar, horas de dormir.

Preciso de escrever aqui qualquer coisa, mas antes preciso de arrumar as palavras, separá-las por cores e tamanhos, prepará-las para uma sã convivência. Com calma. Com tempo. Sim, hei de escrever aqui qualquer coisa.

domingo, 11 de março de 2012

Passeio de domingo (87)


Um passeio pela serra do Caldeirão, até Vaqueiros, no concelho de Alcoutim, onde hoje havia uma feira do pão quente e do queijo fresco. E não só. 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Pensamentos

Andam os pensamentos soltos num autêntico desvario. Tento arrumá-los em posição ordeira. Uma lista é o que preciso. Mentalmente começo a alinhá-los. Primeiro escolho a tarefa que me parece mais urgente. Em seguida desdobro-a, como quem desdobra uma toalha sobre a mesa e, uma a uma, vou colocando as peças com que a irei compor. Mas são danados os pensamentos. Aproveitam-se da mais pequena brecha para se infiltrarem no meio de um assunto que não lhes diz respeito. Quando sei … já vagueio noutra incumbência, noutra necessidade, noutra história. Entram-me em cena personagens de ontem e de amanhã. Misturam-se diálogos e cores. Encadeiam-se imagens numa corrente infinita. Paro. Tenho que recomeçar. Retomo a minha lista. Concentro-me. Desconcentro-me. E lá vou eu novamente arrastada pela louca espiral dos pensamentos. Indomáveis. Livres como só eles podem ser.

terça-feira, 6 de março de 2012

A Lurdes

Estava sentada na paragem do autocarro. Era ela. Só podia ser ela. E eu não conseguia deixar de olhar para ela, para ter a certeza. Chegou o autocarro. Subimos. Ela não tinha reparado em mim. Tive de perguntar. És tu? Lembras-te de mim? Ah…há quanto tempo?

Trinta anos. Trinta anos por aí que não nos víamos. Claro que era ela. Claro que nos reconhecemos. Estamos iguais. Iguais. Sem contar com algum peso a mais. Sem contar com uma ou outra ruga. Ah mas eras tão lourinha… agora tens o cabelo mais escuro, diz ela. Pois é. Escureceu com o tempo e com a cor que veio para disfarçar a cor do tempo.

Falamos dos filhos. Do trabalho. Da vida. Lembras-te?

Sim.

Mas no meio da conversa há uma ou outra história, uma ou outra pessoa de que não me consigo lembrar. Disfarço. Como é possível ela lembrar-se e eu não? Sem nos procurarmos encontrámo-nos. Sabemos agora uma da outra. Ela sabe que ainda continuo no mesmo local de trabalho. Eu fiquei a saber do novo local de trabalho dela.

Voltaremos a nos encontrar? Talvez. Não sei. Regresso a casa com uma estranha felicidade. É esquisito encontrar o passado assim, numa paragem de autocarro.



domingo, 4 de março de 2012

Passeio de domingo (86)


É uma mania como outra qualquer. Gosto de fixar troncos ou pedras em que se instalaram líquenes. Porque hoje não podia passear em direto, resolvi deixar aqui, já pronto, um passeio em diferido que junta líquenes de várias voltas pelos campos algarvios.

sexta-feira, 2 de março de 2012

quinta-feira, 1 de março de 2012