quarta-feira, 30 de março de 2011

Brevemente, numa árvore ao pé de mim



Não tarda estão maduras e hão de chamar por mim. A sua cor dourada não deixará margem para dúvidas sobre a doçura que encerram. Gulosamente vou comê-las, deixando os seus grossos e lisos caroços castanhos cair-me da boca para a mão ou para o prato. Umas atrás das outras, vou comê-las sem conseguir parar num acto quase de vício.

Que bom... está a chegar o tempo das nêsperas.

terça-feira, 29 de março de 2011

Direitos

... e uma boa forma de os lembrar.

Filatelia da blogosfera

Nunca tive muito espírito de coleccionista embora, por vezes me dê vontade de escolher um tema e de começar uma colecção. Logo em seguida desisto da ideia. Dá-me sempre aquela preguiça... Acho, por exemplo, que seria bem interessante coleccionar postais ou selos de correio. Mas não tenho a predisposição necessária. Não há nada a fazer.

Aqui, pela blogosfera, há outro tipo de selos. São selos de amizade, que uns criam e oferecem a outros, que por sua vez oferecem a outros, divulgando-se mutuamente e criando correntes de blogues amigos. Mas, também com este tipo de selos, eu sou um tanto ou quanto "despassarada" e raramente procedo como prescrito no acto de recepção de um deles. A verdade é que sou um bocado "corta-correntes". Mas fiquei muito agradecida à Manuela, que é um doce de blogger e que gentilmente me atribuiu um desses mimos.



domingo, 27 de março de 2011

Passeio de Domingo (42)





Uma longa caminhada por Vilamoura, onde não me importei que faltasse o azul do céu porque muitas outras cores disseram presente à chamada.





sábado, 26 de março de 2011

Gente feliz com livros

"...um livro assim, vivido, é difícil de encontrar, que os livros chegam-nos mortos e somos nós que lhes damos vida..."

É isso. É mesmo isso. Assim mesmo, como ela escreve no post intitulado "Pó".

A poupa

Quase todos os dias a vejo passar num voo rápido. Ora para baixo, ora para cima. Da horta para o mato, do mato para a horta. São breves instantes em que o seu bater de asas me prende o olhar. Mas logo se esconde por detrás do verde de uma árvore. Logo desaparece por detrás do monte. Parece um leque voador, esta poupa, quando passa abrindo, largas, as suas asas riscadas de branco negro. Deixa-me feliz por alguns segundos...aqueles poucos segundos em que lhe acompanho o voo. Deixa-me triste, porque não consigo "caçá-la" com a lente para depois eternizá-la aqui.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Papoilas



Ah... como eu gostava de ter escrito como aqui se escreveu sobre as papoilas.

Gostava de ter derramado todas estas palavras sobre a página branca do meu monitor e de as ter depois ordenado com sentimento e sentido estético. É que eu também gosto muito de papoilas e até acho graça às que não são vermelhas, como umas cor-de-rosa que vi no outro dia aos pés do limoeiro, ali... na horta.

Mas claro, são vermelhas as papoilas deste texto. Vermelhas de paixão, de beleza e, para mim, até de inveja - que noutras circunstâncias seria verde - por não ter escrito um texto assim.

Esquisitices

Quem é que, no tempo da escola não brincou com alguns colegas àquele jogo textual, que consistia em escrever uma ou mais frases, dobrar a folha até deixar ver apenas as últimas palavras e passar a outra pessoa que continuaria a escrita, fazendo, por sua vez, nova dobra no papel e assim sucessivamente até ao fim da folha? Depois procedia-se à leitura do texto e o resultado era, na maior parte das vezes hilariante. Claro que era hilariante sobretudo para aqueles que o escreviam.

A esse jogo literário se chama cadáver-esquisito, numa tradução do original "cadavre-exquis" inventado por surrealistas franceses.

Ora, houve quem se lembrasse de reeditar essa brincadeira e o resultado é certamente surreal e bastante esquisito. Quem o escreve só pode, também, divertir-se muito.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Temas do dia

No dia da árvore, que também é o dia da poesia, vejo o Algarve como a Teresa Rita Lopes quando escreve:

Ninhos de Mar

Nos troncos mais altos
da alfarrobeira
ninhos
azuis de mar ao longe.

in A Fímbria da Fala, Porto, Ausência, 2002 , mas lido in Algarve todo o mar: colectânea, Lisboa, Dom Quixote, 2005

domingo, 20 de março de 2011

Passeio de Domingo (41)




Pela Praia do Almargem (Quarteira), com vista para a lagoa e suas margens e ainda com tempo para uma pausa no bar, para tomar uma água tónica e ouvir os ingleses interpretar músicas dos Beatles.




sábado, 19 de março de 2011

Maria das Bananas

Às vezes pergunto-me porque é que, de repente e assim do nada, me lembro de alguém ou de algum episódio passado e, a partir daí, essa lembrança fica-me martelando o pensamento.

Não sei porque carga de água me fui lembrar de uma figura que circulava pelas ruas de Loulé no tempo em que eu lá frequentava o ensino secundário, no final dos anos 70.

A Maria das Bananas vagueava pela vila, hoje cidade, falando alto, com voz grossa, puxando por vezes de uma agressividade masculina que combinava com o bigode que lhe debruava o lábio superior.

Andava, quase sempre, de cigarro na mão ou na boca, vociferando com quem passava.

Eu, miúda, tinha medo dela. Medo da sua aparência diferente, do seu alarido, daquilo que eu achava ser a sua loucura. Para mim, era a louca de Loulé.

Pergunto-me se ainda será viva.

Nos últimos dias tem-me vindo à memória a sua imagem, até que hoje decidi “googlá-la” para ver se encontrava algum escrito sobre ela e exorcizar a lembrança. Poucas referências me foram devolvidas pela máquina. Mas foram-me devolvidas duas fotografias. Estão datadas de 1986 e quem as tirou também aguarda que alguém lhe diga o que terá sido feito da Maria das Bananas.

Dei por mim a olhar para estas fotografias e a pensar que, se fosse hoje, bastaria depilar-lhe o buço para poder facilmente imaginá-la publicada num desses blogues que “caçam” as tendências urbanas da moda. J

sexta-feira, 18 de março de 2011

A super lua



Dizem-nos que a lua estará amanhã mais próxima da terra. Tão próxima como já não acontece há 18 anos. Preparo-me então para olhar para o céu amanhã à noite... sim, porque as noites de lua cheia são espectaculares por aqui.

Até lá, parece-me que ela - a lua - também se está a preparar para o "encontro". Senão porque estaria já tão linda neste fim de tarde... aí pelas 18h30?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Apenas flores

A Primavera anda numa impaciência que só visto...
Ainda faltam uns dias - poucos é verdade - para a sua chegada oficial, mas basta olhar em redor para percebermos que ela não está pelos ajustes e que começa a invadir a nossa vida. As acácias decidiram florescer furiosamente e iluminam até o dia mais cinzento que se possa apresentar. Os malmequeres já cobrem os campos. Pequenos lírios dominam a erva, rente ao chão. E eu até fiquei a conhecer a esteva cor-de-rosa... eu, que achava que ela apenas se vestia de branco.



terça-feira, 15 de março de 2011

As palavras

Fui guardando aquelas palavras aos poucos. Juntei-as uma a uma para poder depois combiná-las. Seriam emparceiradas à medida dos sentidos. Na melhor forma que encontrasse, eu as disporia lado a lado. Ou então em camadas regulares. Talvez pudesse também formar alguma diagonal que, ao de leve, quebrasse o equilíbrio. Guardei-as com cuidado, sem as apertar demais, com medo que se amolgassem umas contra as outras. Guardei-as durante vários dias, cobertas por um véu de pensamento. Esperava que chegasse o momento. O momento certo. Mas hoje, ainda há pouco, quando a chuva voltou a cair sobre o asfalto da minha rua, dei por elas a escorrerem pelo varandim do pátio da entrada. A água levou-as rua abaixo. Empurradas pela corrente molhada, juntaram-se em monte junta à grelha do esgoto e giraram velozmente em remoinho. Desapareceram sem um ai que as acudisse.

domingo, 13 de março de 2011

Passeio de Domingo (40)




À falta de um, trago dois passeios. Em cima fica um pouco do caniçal de Vilamoura por onde fiz um desvio da minha rota a caminho da farmácia.


Em baixo fica o campo, sempre o campo, aqui do meu "bairro", por onde faço a caminhada da ordem.





Histórias ao serão

Ontem não cheguei a passar por esta esquina. Afazeres domésticos e convívio familiar afastaram-me das teclas. Em compensação desfrutei de um serão de Sábado a ouvir contar histórias de outros tempos, relatadas na primeira pessoa pelo meu pai e pelo meu tio F. Histórias da sua meninice, passadas nos anos 30 e 40 do século passado, que trouxeram um toque de encantamento à mesa do jantar. Às tantas, falou-se de cobras e quase fui transportada para as páginas do Dia dos Prodígios, onde através da escrita de Lídia Jorge, a Jesuína Palha conta como matou a cobra com mais de trinta canadas sobre a espinha e a cabeça. Mas, “ai Jasus”, que a bicha saiu voando por cima da cabeça do povo que se tinha ajuntado para ver tal execução.


Nas histórias deste meu Sábado à noite, houve cobras grandes, como a de Jesuína Palha. E houve também as traquinices do meu tio F., quando criança. Ele contou da cobra grande que o meu avô matou nas terras do morgado de Quarteira – hoje mais conhecidas por Vilamoura – onde era rendeiro. Foi durante mais um dia de trabalho duro em que o meu tio F., ainda criança, também tinha a sua quota-parte nas tarefas agrícolas. Ao final do dia havia de regressar a casa com os bois, numa caminhada de uns bons cinco quilómetros. Nesse dia atou a cobra morta com um baraço e com a ajuda dos bois arrastou-a até à estrada nacional 125, que, segundo ele explicou, nessa altura era bem mais estreita do que hoje, mas já asfaltada. E foi na 125 que o meu tio largou a cobra, atravessada em toda a sua largura provocando o susto dos passantes e algumas travagens na via. Só que aquela cobra, ao contrário da prodigiosa, não voou.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Trompe L'oeil




Passei por ali em hora diferente da habitual quando o vi pela primeira vez. Até àquele momento nunca me tinha apercebido da sua presença. No entanto já ali devia estar há muito tempo.
O hábito cega-nos. Só quando mudamos uma rotina conseguimos ver algo novo.
Surpreendeu-me aquele velho, debruçado na janela. As mãos de fora do parapeito. Cruzadas. O olhar vago e triste. Fixo. O cabelo branco emoldurado em fundo negro.
Agora, sempre que por ali passo, de novo na hora habitual, sinto o olhar irresistivelmente atraído para aquele vão de janela. Está lá o olhar do velho que suga o meu como um íman. Está ali, especado sobre a janela entaipada daqueles velhos casebres devolutos. Ao lado, as paredes ostentam grafitis com mensagens de vitória desta expressão artística. O velho, esse, "engana-me o olho", em preto e branco.
E fascina-me.

terça-feira, 8 de março de 2011

Os dias

Os dias passam iguais
desfeitos em instantes
quebradiços.

Como iguais são as ondas
que grandes ou pequenas
se desfazem em espuma
fugidia.

Os dias passam diferentes
nas palavras
circunstanciais.

Como é de circunstância
a maré viva
já marcada, já esperada
no calendário da matemática humana.

Os dias são iguais
e todos são pertença minha
no tanto que se quebram contra o corpo
e marcam nele o tempo
de uma vida de mulher.

domingo, 6 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

Santinho

Depois de uns minutos de espera, a cliente viu a rapariga sair pela porta lateral do balcão de atendimento do talho e avançar até à secção da charcutaria para a atender.

Disse-lhe que pretendia 150 g. de fiambre e aguardou enquanto ela o fatiava.

Enquanto decorria o processo de pesagem do fiambre, a rapariga espirrou. Desviou a cara da balança para o fazer e inclinou-se ligeiramente para o chão. Disse Santinho. Um espirro nunca vem só. E a cena repetiu-se duas ou três vezes. O talhante, que mostrava ar de coordenador da secção, fez-lhe um reparo. Ela respondeu “Eu disse Santinho”. A cliente lembrou-se dos ensinamentos repetidos à exaustão quando a gripe A estava na moda, sobre como espirrar ou tossir colocando a boca junto ao braço para aí limitar a área de dispersão de vírus ou outros bicharocos. A rapariga continuou espirrando e dizendo Santinho.

Conformada, a cliente achou que o Santinho combinava com as argolas brancas e gigantes que a rapariga trazia nas orelhas e com os anéis que lhe reluziam nos dedos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Olhar e ver

O que é que vemos quando olhamos?
O que é que vemos quando olhamos para uma antena de televisão? Há quem veja um insecto e se alguma coisa falta para que seja um insecto, acrescenta-se à imagem e pronto.
O que vemos ao olhar para um qualquer poste, na rua? Há quem veja a Marge Simpson. E se falta algum elemento para que seja mesmo a Marge Simpson, coloca-se esse elemento na imagem e pronto.
Descobri... já nem sei bem em que passeio pela internet, esta ilustradora francesa - Sandrine Estrade Boulet - que "imagina imagens" espontâneas, positivas, divertidas. Ela olha para os cenários quotidianos e vê neles a possibilidade de criação de algo alegre. Para isso mistura a fotografia e o desenho e acrescenta-lhe uma pitada de poesia.

Descubram-na também através do seu blogue e apreciem o seu trabalho neste site.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A vida secreta dos objectos - O gato do Shrek

Alguém agarrou no pacote de cereais de chocolate e retirou-o da prateleira do supermercado. Quando colocou o pacote no carrinho e avançou corredor fora, percebi, pelo movimento deslizante, que tinha chegado a minha vez e que, em breve, iria ver a luz do dia. Acelerou-se-me a pulsação e comecei a ficar irrequieto, ansioso por me soltar do invólucro de plástico em que me encontrava.
Ainda tive de esperar algum tempo antes de ser retirado do mar de cereais de chocolate em que, até então, vivia e sobretudo da escuridão que reinava no pacote totalmente fechado.
Estava impaciente por conhecer a criança a quem eu iria pertencer. Antecipava já as cócegas que havia de sentir quando ela agarrasse nos lápis de cor ou nos pincéis e guaches para me colorir a preceito. E imaginava o reencontro com os meus amigos, eventualmente já pintados: o maluco do burro, o grande Shrek, a doce Fiona... Quantos deles já estariam à minha espera?
Quando, finalmente, fui libertado do pacote de cereais, nem queria acreditar no que via. Afinal não havia qualquer criança por ali. Quem ia comer os flocos de chocolate era um rapazola quase a chegar à maioridade.
E agora? Que destino seria o meu? Não vislumbrava quem me pudesse colorir. E continuo sem saber o que me vai acontecer. Estarei eu condenado à brancura eterna? Ah... céus... e se me deitam fora por falta de serventia? Um gato como eu não aguenta esse triste destino.
Haverá por aí alguém que me possa valer?


terça-feira, 1 de março de 2011

Slipping through my fingers

Às 22h25 de hoje, 1 de Março, terão passado 20 anos sobre o dia em que mais soprei na vida. Inspirava e soprava, soprava... horas e horas seguidas.
Até que nasceste.
E o tempo voa. Ah como o tempo voa!
E com ele, também tu ganhas asas.

Parabéns, filha.