domingo, 13 de março de 2011

Histórias ao serão

Ontem não cheguei a passar por esta esquina. Afazeres domésticos e convívio familiar afastaram-me das teclas. Em compensação desfrutei de um serão de Sábado a ouvir contar histórias de outros tempos, relatadas na primeira pessoa pelo meu pai e pelo meu tio F. Histórias da sua meninice, passadas nos anos 30 e 40 do século passado, que trouxeram um toque de encantamento à mesa do jantar. Às tantas, falou-se de cobras e quase fui transportada para as páginas do Dia dos Prodígios, onde através da escrita de Lídia Jorge, a Jesuína Palha conta como matou a cobra com mais de trinta canadas sobre a espinha e a cabeça. Mas, “ai Jasus”, que a bicha saiu voando por cima da cabeça do povo que se tinha ajuntado para ver tal execução.


Nas histórias deste meu Sábado à noite, houve cobras grandes, como a de Jesuína Palha. E houve também as traquinices do meu tio F., quando criança. Ele contou da cobra grande que o meu avô matou nas terras do morgado de Quarteira – hoje mais conhecidas por Vilamoura – onde era rendeiro. Foi durante mais um dia de trabalho duro em que o meu tio F., ainda criança, também tinha a sua quota-parte nas tarefas agrícolas. Ao final do dia havia de regressar a casa com os bois, numa caminhada de uns bons cinco quilómetros. Nesse dia atou a cobra morta com um baraço e com a ajuda dos bois arrastou-a até à estrada nacional 125, que, segundo ele explicou, nessa altura era bem mais estreita do que hoje, mas já asfaltada. E foi na 125 que o meu tio largou a cobra, atravessada em toda a sua largura provocando o susto dos passantes e algumas travagens na via. Só que aquela cobra, ao contrário da prodigiosa, não voou.

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