domingo, 30 de outubro de 2011

Passeio de domingo (72)




Ausente do Algarve neste fim de semana, repesquei imagens do ano passado para um passeio de domingo previamente agendado. Em Silves.







sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Batata-doce

A casa, virada a sul, debruçava-se sobre a paisagem inclinada e as suas vistas alcançavam, no horizonte, uma faixa de mar um pouco mais azul do que o céu. Tinha um pátio longo com duas cisternas que recebiam as águas da chuva e, no lado poente, ligada perpendicularmente ao edifício principal, estava a casa do forno. Numa fornalha crepitava o lume. Havia alguma azáfama da gente crescida mas falha-me a memória sobre os afazeres em curso. Seria dia de cozedura de pão? Não sei. O que sei é que nesse dia, na casa da minha avó, também se fritava batata-doce. Fritava-se batata-doce às rodelas e eu, entre duas corridas pelo pátio fora, ia buscar uma ou outra rodela para comer. Perdi também a lembrança do sabor da batata-doce frita. Todos os anos, no outono come-se batata-doce aqui em casa. Assada, cozida, de sobremesa ou a acrescentar o jantar de feijão. Mas nunca mais comi batata-doce frita. Agora que me lembrei daquelas rodelas douradas, sei que não vou descansar enquanto não recuperar esse sabor perdido.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A colcha de croché

No quarto em que tinham a máquina de costura, encostada à parede estava uma cama coberta com uma colcha de croché. Era uma colcha de lã composta de rosetas das mais variadas cores e ligadas entre si pelo preto que rematava cada uma delas. Restos de lã azul, rosa, amarela, branca, verde, vermelha, castanha, laranja, foram reunidos pacientemente em fiadas de pauzinhos de croché que formaram cada roseta e cada tira de rosetas pregadas umas às outras até cobrirem por completo a pequena cama que estava encostada à parede no quarto da costura. Nela me sentei muitas vezes observando o trabalho das primas que talhavam e cosiam saias, calças e vestidos. Nela me sentava e para me entreter aprendia a chulear e a casear, brincando às moças crescidas. Era bonita a colcha de lã. Simples. Garrida. Alegre. Tinha o toque hippie da época.
Não sei porque me lembrei hoje daquela colcha de rosetas coloridas. Fiquei com vontade de ter uma. Mas faltam-me as sobras coloridas de novelos de lã, falta-me coragem para a empreitada e já passei da idade para brincar às moças crescidas.





Amostra a partir de imagem daqui

domingo, 23 de outubro de 2011

Passeio de domingo (71)







Só ali... até à horta, para confirmar o contentamento geral depois das primeiras gotas de chuva deste outono.








sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Maria Júlia

No último dia do mês de setembro encontraram a Maria Júlia sentada na cadeira velha que tinha debaixo do alpendre, com a cabeça pendida sobre o ombro direito. Foi a vizinha Ausenda que deu com ela assim, naqueles termos. Fora lá pedir meia dúzia de limões, que os seus ainda estavam verdes na árvore e pouco sumo deitavam.
Maria Júlia não atendeu ao seu brado e assim, Ausenda foi entrando portão adentro. Contornou a modesta casa caiada de branco e seguiu para as traseiras onde por fim a avistou. Chegando perto percebeu que a Maria Júlia já não estava ali. Saiu em alvoroço… Ai acudam aqui!

Maria Júlia não tinha filhos e depois da morte do marido, havia pouco mais de dois anos, vivia só. Esses dois anos até os passara em acalmia depois de uma vida inteira sujeita aos impropérios que o seu homem lhe lançava a cada bebedeira. O Inácio nunca lhe batera mas arremessava-lhe dia e noite com palavras ruins. Maria Júlia encolhia-se e, em cada dia que passava, abrigava-se das mortificações do álcool com a ajuda do sol que brilhava lá fora, das flores alegres da buganvília que lhe trepava às paredes da casa e do cacarejar animado das galinhas no quintal. Nunca se lhe ouviu um queixume. Sorria às vizinhas e só o seu olhar denunciava por vezes um triste alheamento apenas percetível aos mais atentos.

Aos gritos de Ausenda acorreram os demais moradores do monte e passado algum tempo chegou a ambulância. Levaram a Maria Júlia para os procedimentos legais enquanto as vizinhas lamentavam o sucedido. Uma mulher assim… ainda tão nova.

No dia do funeral vieram as primas direitas, de Lisboa, que outros parentes vivos a Maria Júlia não tinha. Por entre as orações e a encomenda da sua alma à luz eterna, corriam em sussurro as conversas sobre as causas da morte. Ninguém sabia ao certo, mas constava que a autópsia da Maria Júlia tinha espantosamente revelado que no seu coração estavam cravadas muitas palavras. Uma lista interminável de palavras ruins.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A sede

Fiquei a saber que afinal a água não é um bem essencial.

Diz o jornal que a água engarrafada passa a ser taxada a 23%. Pensei: olha, lá terei que beber água da torneira. Só depois me lembrei que isso era se a torneira ma trouxesse devidamente tratada. Aqui na terra bem andaram há dois anos atrás a esburacar estradas e caminhos com as obras do abastecimento de água… mas até hoje essa água não chegou. É pois fácil de imaginar o tamanho da minha sede. Ela cresce dia após dia. Já estou até definhando e não tarda fico completamente desidratada

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tempo

O tempo endoideceu naquela montra da baixa.

De um dia para o outro a montra encheu-se de relógios. Relógios de parede, relógios de cuco, relógios redondos, relógios quadrados, relógios despertadores, relógios e mais relógios. Todos com os ponteiros ensandecidos rodando a velocidades estonteantes. Uns rodam no sentido certo como se espera que rodem os ponteiros de um relógio. Outros fazem o percurso inverso, contrariando a lei dos mecanismos aprovada para o mundo da relojoaria. Da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda os ponteiros rodam furiosamente manifestando-se contra a ordem do tempo.

Fico parada a olhar a montra, fascinada pelo atrevimento das máquinas que servem de cenário para as meias que são o que se vende naquela loja. No bulício da sua frenética atividade não se ouve qualquer tic-tac. Os ponteiros deslizam velozes mas sem rumor. No entanto imagino ouvir certa algazarra, como se todos eles e cada um se estivesse a rir na minha cara. Como quem me diz que louca sou eu que não me liberto das peias do tempo.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Aquelas pessoas

Estão a ver aquelas pessoas que fazem afirmações falsas com tanta convicção que acabam por se convencer a elas próprias?

Estão a ver aquelas pessoas que nunca querem fazer “determinada coisa” porque não gostam, nunca gostaram, não suportam … mas quando lhes convém, nem que seja por graxa ao chefe, fazem-no com todo o deleite?

Estão a ver aquelas pessoas que quando contrariadas acusam os outros daquilo que lhes é imputado?

Estão a ver aquelas pessoas que para se afirmar perante quem manda não hesitam em denegrir quem está ao lado?

Estão a ver aquelas pessoas…?
Pois há dias em que não tenho paciência.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

sábado, 8 de outubro de 2011

Calor

Hoje sinto-me assim.



"O calor, como uma roupa invisível, dá vontade de o tirar"
in Livro do desassossego, composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

E tu, que tosta queres?

Num destes dias resolvi encomendar uma tosta de frango para o meu almoço, ali na pastelaria que está junto ao meu local de trabalho. O dono da pastelaria, embora estando já meio careca é com toda a certeza mais novo do que eu. Aproximei-me do balcão e disse-lhe que pretendia encomendar uma tosta para as 12h30. Ele perguntou-me “como é que te chamas?” e “que tosta queres?”. Depois anotou diligentemente num post-it amarelo o meu nome e as iniciais do meu serviço. Assim sendo, ele não me confundiu com nenhuma jovem estudante da secundária que fica na rua da frente. Como também não mantenho nenhum tipo de convivência particular com o dono da pastelaria e nunca o tratei por tu, prefiro ficar “convencida” de que mantenho um ar de miúda.

Há dias em que gosto mesmo de me iludir.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Pedras




Indiferentes ao calor, à crise, aos mercados, às agências de rating, ao feriado da República, ao cão que passa ao lado, aos pássaros em algazarra, aos grilos que ainda cantam de noite, ao vento e à poeira que leva, às vozes dos donos da casa e às das vizinhas tagarelas, estão cinco pedras no poial. Não sabem porque lá estão nem se lembram desde quando. Nem sequer pensarão. Não têm serventia. Não incomodam ninguém. E já ninguém as vê ali. Indiferentes são. Indiferentes estão.

domingo, 2 de outubro de 2011

Passeio de domingo (68)





Neste primeiro domingo de outubro, na impossibilidade de chegar a casa em tempo útil para postar um passeio fresquinho - do dia - fui repescar um passeio que já tem um ano. Parece-me contudo que este cair de tarde na praia ainda está no prazo de validade.