quinta-feira, 30 de maio de 2013

Espia

Percorro as pastas que encerram os ficheiros das fotografias. Há árvores. Há flores. Há bichos. Há pedras. Há casas. Há praias. Há serros. Há céu. Há nuvens. Há mar. Por vezes há pessoas. Pessoas ao longe que não podem ser reconhecidas. E outras de quem, embora desconhecidas, o esforço do zoom me desvenda as feições. Não sei quem são. Elas ignoram que as fixei num ficheiro jpg. É um tocador de gaita de foles que, num dia frio, anima um grupo de jovens no areal. É um casal de noivos que posa junto a um rochedo para mais tarde recordar. É um mariscador na Ria Formosa. É um cicloturista. É um pescador. É um surfista. É o rosto de quem foi à feira. É quem está na festa popular. É quem se atravessou na rua no preciso momento em que eu disparava. Nenhum deles sabe que os posso observar naquele instante que congelou para sempre a sua imagem. De cada vez que os olho, sinto-me como intrusa. Sou espia a vigiar uma fração de segundo eternizada.  

terça-feira, 28 de maio de 2013

A culpa tecnológica

Será tarde demais para o correio analógico? Como é possível que a geração mais tecnológica e conectada de sempre não saiba como endereçar uma carta? Essas são as perguntas feitas por um pai que acaba de descobrir que o seu filho, excelente aluno e a terminar o ensino secundário, não o sabe fazer. 

domingo, 26 de maio de 2013

Passeio de domingo (149)



Por muitas vezes que lá vá, encontro sempre um motivo de interesse diferente. Aposto que quem por aqui passeia comigo ao domingo já adivinhou que, mais uma vez, fui até à Lagoa dos Salgados.






quinta-feira, 23 de maio de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

12 meses: maio


O mês é maio. A palavra escolhida para o ilustrar é filho. Por isso é hoje que deixo aqui a fotografia associada ao mês e à palavra, já que faz hoje 20 anos nascia o mais novo cá de casa.
Parabéns filho!



Esta é mais uma participação no desafio “12 meses” proposto pela j. do blog azul turquesa

terça-feira, 21 de maio de 2013

Caminho de flores


Passo pela rua das papoilas. Assim é o seu nome. Mas mais do que papoilas, há margaridas na beira da estrada. Há também pasto seco e platinado nos campos de alfarrobeiras que atravessa. E cardos roxos, em flor. E depois há os canteiros das casas. Uma sardinheira fuschia ao princípio da rua. A madressilva delicada que perfuma o caminho alguns metros à frente. Brancas e altivas, as coroas imperiais do jardim de uma outra casa impõem a sua beleza. E a seguir há roseiras que florescem aos cachos. Muitos cachos de rosas, de um cor-de-rosa claro que lembra um vestido de princesa numa história de encantar.

domingo, 19 de maio de 2013

Passeio de domingo (148)


O passeio não é de hoje porque estou na capital, de roda dos filhos.  Ficou agendado para não falhar ao domingo. Está diferido em apenas três semanas e foi realizado num percurso entre a Quinta do Lago e o Ludo, à beira da Ria Formosa. 








sexta-feira, 17 de maio de 2013

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Beijos públicos


Dois jovens estudantes universitários procuraram hoje o meu serviço para apoio num trabalho académico. Depois de consultarem a documentação que lhes foi facultada, solicitaram algumas fotocópias. Enquanto eu as tirava, os dois encostaram-se à ombreira da porta que se encontra mesmo junto à fotocopiadora, ficando nas minhas costas, a menos de meio metro de mim, e começaram aos beijos. Muitos beijos. Beijos repenicados. Repenicadinhos. Repenicadíssimos. Conversavam e trocavam beijos. Eu nem queria acreditar. Abateu-se sobre mim a vergonha que eles, pelos vistos, não tinham. Esforcei-me por me concentrar nas fotocópias, na posição da página sobre o vidro, nas definições de tamanho do papel, na redução da imagem a copiar, no botão em que tinha que carregar… E eles, aos beijos. Tantos, que até a colega que estava sentada na secretária em frente teve que se levantar, também, ela incomodada com a tanto amor, e sair para o gabinete ao lado. 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Bonecos


Preciso dar umas voltas pelas ruas de Faro para ver se está a acontecer algum surto de bonecos na cidade.

É que esta tarde surpreendi-me com um boneco a assaltar uma casa. Totalmente à vontade, sem aparentar pingo de inibição, o boneco assaltante estava pendurado na platibanda e desenvolvia um último esforço no sentido de içar o corpo para cima da açoteia do edifício.


Ainda fiquei a olhar durante alguns minutos, incrédula com a desfaçatez do boneco. Escusado será dizer que não me ligou absolutamente nenhuma e não tive mais senão que prosseguir o meu caminho enquanto ele, indiferente a outros passantes que também olhavam espantados, se manteve insistente na sua escalada.

Pouco depois, outro boneco se atravessou no caminho do meu olhar. Eu nem queria acreditar quando o vi caído na faixa de relva que bordeja o passeio da rua que eu descia. Assustei-me pensando se estaria morto. Mas logo percebi que devia ser boneco saído de alguma farra e que, podre de bêbado, se jogou ali mesmo ao chão ferrando a dormir.


Fiquei curiosa. Será que Faro está com mais bonecos destes espalhados pelas ruas ou serão os que testemunhei casos isolados?

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Petite fleur



Só porque quis ouvir esta voz e achei bem este tema para uma sexta-feira à noite...

quarta-feira, 8 de maio de 2013

A vida secreta dos objetos: o frasco de álcool gel



A sério. Sabem há quantos anos estou para aqui encostado a outros frascos na prateleira do roupeiro? Pois. Há mais de dois anos.

Aquilo em 2009 foi uma loucura. À custa da pandemia prevista de gripe A, eu e os meus pares éramos os produtos mais procurados no mercado. Chegaram a verificar-se situações de autêntico desespero no interior das malas de mão das senhoras. É que era imprescindível que contivessem um pequeno frasco de álcool gel para usar em qualquer situação de necessidade de higienização das mãos.

Aquilo é que foi uma campanha a sério. Até esgotámos nas farmácias. Também é verdade que a produção aumentou porque, em seguida, passámos a estar disponíveis em qualquer supermercado.  Aqui em casa tenho a companhia de mais dois frascos. Um deles, verdade seja dita, está praticamente vazio. Eu ainda estou aqui para as curvas com metade da minha capacidade útil e outro ainda nem sequer foi encetado.  Mas qual quê? Para que servimos? Depois daquela febre toda, acabámos por sair da mala de mão, que se está sempre a queixar de peso excessivo, e arrumaram-nos na prateleira.

Hoje em dia, contentam-se em lavar as mãos com sabonete antibacteriano ou com aquele que estiver disponível enquanto nós, os frascos de álcool gel, entrámos completamente em desuso. Bem tentamos chamar a atenção quando ela vem buscar qualquer acessório aqui nas nossas redondezas, mas os tempos são de crise e não temos conseguido qualquer novo posto na mala de mão.

Isto assim não é vida. Estou seriamente a pensar tomar uma atitude mais enérgica. Tenho que convencer os meus pares a fazer lobby junto da OMS ou pelo menos da Direção Geral da Saúde para que promovam uma campanha capaz de nos criar novo emprego.

domingo, 5 de maio de 2013

Passeio de domingo (146)



De regresso à santa terrinha, andei pelos campos agrícolas de Vilamoura a fazer o ensaio geral para o Dia da Espiga que é já na próxima quinta-feira.






sábado, 4 de maio de 2013

Ovos-moles


Porque é que me lembro de estar num comboio parado numa estação e da minha mãe me comprar uma barrica de ovos-moles?

Isso só poderia ter acontecido na estação de Aveiro. Ou será que a venda das barricas chegava a Lisboa? É que ainda hoje perguntei ao meu pai se, quando eu era criança, alguma vez tínhamos viajado até ao norte de comboio e ele disse-me que não. De comboio só para França e não se passava por Aveiro. 

O certo é que tenho esta imagem comigo. Sei que me compraram uma barrica de ovos-moles numa estação de comboios. A minha mãe já não está cá para me confirmar esta memória. Mas ela ficou de tal modo gravada em mim que há dois dias atrás, antes de sair de Aveiro, tive que comprar uma barrica. Está cheia de ovos-moles. Mas já é por pouco tempo. Está na hora de jantar e eu estou aqui só a suspirar pela sobremesa.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Fotografias de férias


Os dias de férias correm tão velozes como os de trabalho, quando temos muito trabalho. Quando damos por ela… estão a terminar. 
Agora que pego na máquina para descarregar as fotografias tiradas, fico a pensar que uma delas não poderei descarregar nunca. Tirei-a só com os olhos durante o almoço de ontem. Não foi a uma paisagem. Não foi a um objeto. Não foi a uma flor. Foi a uma velhinha toda janota que estava sentada na mesa em frente à minha. Almoçava de óculos escuros porque estava virada para o exterior do restaurante. Usava um anel volumoso no dedo indicador. E tinha o penteado mais extraordinário que alguma vez vi a uma velhinha. O corte assimétrico emoldurava-lhe o rosto na perfeição e por cima dos seus cabelos cinza destacavam-se, alternadamente, largas madeixas cor de laranja e castanhas.

É. Para além da paisagem que percorri, estas mini-férias ficarão também registadas na minha memória como aquelas em que me cruzei com uma velhinha janota de cabelo às riscas.