domingo, 31 de maio de 2020
sábado, 30 de maio de 2020
quinta-feira, 28 de maio de 2020
Sonha-me
sonha-me a lápis,
com traço leve e esfumado
e embrulha-me,
depois,
em papel de seda,
muito suavemente
terça-feira, 26 de maio de 2020
segunda-feira, 25 de maio de 2020
Ervas virtuosas
[Excertos
selecionados. No original, não forçosamente por esta ordem]
Necessário
é observar e prevenir, que quem quiser servir-se utilmente destas
ervas deve colhê-las apenas do vigésimo dia da Lua até ao último.
Pode colhê-las durante todas as horas do dia, mas deve-se saber que,
ao arrancá-las, se nomearão as virtudes da erva e o uso que dela se
quer fazer. (...)
Lírio-do-vale
Oferecer
um ramo de lírios-do-vale à pessoa amada vem reanimar este amor (…)
Mandrágora
(…)
Possuir uma Mandrágora é abrigar em casa um pequeno génio que
garante saúde, riqueza e o dom de conhecer o futuro. (…)
Malva
(…)
o extracto da malva é um poderoso antídoto contra as poções de
amor.
Verbena
(…)
O seu suco, bebido em água quente com mel, dá bom hálito e
respiração livre. Torna as pessoas amorosas porque o seu suco faz
muito esperma. Além disso, quem a trouxer consigo será vigoroso no
coito, desde que só tenha esta erva.
Sempre-noiva
(…)
Se alguém a beber, ela excitá-lo-á muito para o amor e dar-lhe-á
forças para praticar o coito.
Raminhos, Maria da Encarnação, Mézinhas populares do Algarve:
chás, óleos, compressas, cataplasmas e vapores, Portimão,
Edições ContrªMargem, 1999
domingo, 24 de maio de 2020
Passeio de domingo (490)
Bem fui à praia, mas viciada na apanha de conquilha, rodando o pé como quem dança o twist para as fazer sair da areia, acabei por não fotografar nada de jeito. Chegado o fim de tarde, lá fui passear para o sítio do costume.
Xerém
Ontem
comi berbigão da praça. Guardei-lhe o caldo, seus sucos misturados
com cebola picada, alho, coentros e azeite. Nesse caldo, cairá, logo
mais, o carolo de milho, que farei por almarear* de tanto o mexer com a
colher de pau, contrariado-lhe as bolhas e os salpicos que vai querer
soltar enquanto coze. Umas pequenas gambas hão de cair nas papas ao
final da cozedura. A anteceder o prato de xerém, terei aberto, de
novo com alho e coentros, as conquilhas que apanhei hoje de manhã, pela
maré.
*deixar tonto
Ontem
lavei as varandas e
os pátios com a mangueira
limpei o pó da mesa
e das cadeiras de jardim
untei-as com óleo
teca
comprei amêijoas e
berbigão
não comprei a
caneta que pretendia porque a papelaria agora fecha ao sábado
comi sardinhas
assadas ao almoço
fiz uma máquina de
trapos
comi um corneto ao
lanche
reparei que o
cipreste está seco
percebi que os
pássaros não se importam
confirmei na balança
e nos calções que estou mais magra
decidi que hoje ia à
praia
quarta-feira, 20 de maio de 2020
Vertigem
circulo
por aqui
em volta
das palavras
desvio-me
e regresso
com mais
rodeios
por fim
desisto
e apenas
me afundo
na vertigem
das flores
ancoradas
no asfalto
terça-feira, 19 de maio de 2020
domingo, 17 de maio de 2020
sábado, 16 de maio de 2020
Normalidade
Neste
final de segunda semana de início de desconfinamento, precisada de
algumas aquisições não indispensáveis, mas a dar jeito para ir ao
encontro do tão falado novo normal, abalei-me até certas lojas, das
tais até 200 metros quadrados, em busca de presentes de aniversário,
efeméride da qual o corrente mês de maio é fértil, no que a
família e amigos respeita. O movimento de pessoas pareceu-me
razoável, quase ninguém nas lojas, uma fila imensa de carros para o
“drive thru” do restaurante de serviço rápido, gente a
passear de bicicleta, gente a passear a pé, o sol a brilhar. Tudo
quase normal, máscaras à parte. Até uma mulher a pedir boleia com
um cartaz manuscrito do destino desejado.
quinta-feira, 14 de maio de 2020
terça-feira, 12 de maio de 2020
segunda-feira, 11 de maio de 2020
Táxi
A
fila de táxis é longa, tal como a espera dos taxistas, que a
entretêm com uma animada conversa, uns seis ou sete alinhados e sem
filtro, comedidos num descomedido distanciamento social de quarenta a
cinquenta centímetros.
quinta-feira, 7 de maio de 2020
Da voz das coisas
Só a rajada de vento
dá o som lírico
às pás do moinho.
Somente as coisas tocadas
pelo amor das outras
têm voz.
Fiama Hasse Pais Brandão
Desencontro
Era
para estar a ver a lua. Mas não. Já fui à varanda quatrocentas e
cinquenta e sete vezes, ou coisa parecida, e nada. Só nuvens e, num
pequeno rasgo de céu, mesmo aqui por cima de casa, um pequena
estrela solitária.
segunda-feira, 4 de maio de 2020
domingo, 3 de maio de 2020
sábado, 2 de maio de 2020
Bamboleo
Já
a carregar no botão de entrega do irs, sou obrigada a voltar atrás
para verificar um alerta. Falta-me afinal preencher um anexo, que
habitualmente não incluo. Assunto de alienação onerosa de qualquer
coisa de que nem me lembrava. Faltam-me os dados necessários, adio,
contrariada, a tarefa. Lá fora, a tarde está como de verão. Encho
a mão de um mix de frutos secos e saio para a rua. Encosto-me à
parede do pátio e, enquanto como, espreito a estrada onde, à falta
de trânsito, quatro homens jogam à bola no lado nascente. A
poente, aproveitando o sol, está a vizinha sentada no muro baixo que
lhe demarca a casa. Um melro, empoleirado no poste da luz, está
especialmente inspirado e canta como se não houvesse amanhã. Ao
desafio com o pássaro, elevam-se no ar, vindos de outra casa
vizinha, os ritmos bamboleantes e as vozes roucas de um vetusto
grupo cigano.
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