domingo, 30 de dezembro de 2018

Tudo a postos


Julgo que o menino jesus não gostou de eu o ter posto a dormir de conchinha e que, por isso, me deixou uma gripe no sapatinho. Depois de uns dias de cama em caldo de febre, dói-me agora toda a pele do corpo e desfaço-me em fluidos pouco recomendáveis. Abano em arranques de tosse cavernosa e choro os dias de férias perdidos. Mal empregados.
Já andei pelas redes a ver os balanços dos amigos, todos com a suas fotos de perfil enfeitadas para 2019. Tudo a postos. Eu, para variar não faço balanços. Sou também de parcas resoluções. Mas não deixo de estar preparada para o ano que aí vem. Sim, sim. Aqui mesmo ao lado do computador repousa a indispensável folhinha orientadora do ano. O meu exemplar do verdadeiro almanaque Borda d’Água.

sábado, 22 de dezembro de 2018

A osga


Encontrei uma osga escondida na caixa onde guardava as figuras de um presépio. Assustei-me e arrepiei-me de tê-la ali tão perto dos meus dedos enquanto retirava os Reis Magos dos seus encaixes de esferovite. Assustada eu, mas ela mais ainda. Lá fui sacudindo a caixa com jeito para a deixar sair. Escapuliu-se em busca de outros cómodos na arrecadação. Deitei a caixa fora e armei o presépio. Pensando bem, quem sabe se no presépio original, numa qualquer fenda da manjedoura, não andou por lá escondida uma osga.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Les feuilles mortes



Almoço


É cedo. Na sala, ainda silenciosa, do restaurante-serve-te-a-ti-próprio apenas quatro pessoas ocupam quatro mesas. Cada uma com o seu tabuleiro. Cada uma com o seu telemóvel. Vão comendo e enquanto mastigam vão tocando nos pequenos ecrãs luminosos. Ocupo uma quinta mesa. Hoje também almoço sem companhia. Mas tomo posição e dispenso a do telemóvel que mantenho confinado na mochila pendurada nas costas da cadeira. Pobres coitados, penso, tão sós que nem à refeição se desligam das redes. Não preciso de tal sucedâneo, convenço-me. Pura ilusão, bem sei. Sou tão só quanto eles.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Post de pedra e cal


O lugar das palavras


Supondo que queria substituir imediatamente todas as palavras da minha linguagem por outras; como poderia eu determinar o lugar onde uma das novas palavras se coloca? São as ideias que mantêm o lugar das palavras?

Wittgenstein, L., Fichas (Zettel), Edições 70, 1989.


domingo, 9 de dezembro de 2018

Passeio de domingo (429)


Fui ver as ondas do mar.








Devagarinho


Abro devagarinho a janela. Tento não fazer muito barulho para o silêncio que se instalou por aqui não estranhar. Apesar do meu cuidado, as dobradiças rangem um pouco. Estão mesmo com falta de uso.