quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tempo

O tempo endoideceu naquela montra da baixa.

De um dia para o outro a montra encheu-se de relógios. Relógios de parede, relógios de cuco, relógios redondos, relógios quadrados, relógios despertadores, relógios e mais relógios. Todos com os ponteiros ensandecidos rodando a velocidades estonteantes. Uns rodam no sentido certo como se espera que rodem os ponteiros de um relógio. Outros fazem o percurso inverso, contrariando a lei dos mecanismos aprovada para o mundo da relojoaria. Da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda os ponteiros rodam furiosamente manifestando-se contra a ordem do tempo.

Fico parada a olhar a montra, fascinada pelo atrevimento das máquinas que servem de cenário para as meias que são o que se vende naquela loja. No bulício da sua frenética atividade não se ouve qualquer tic-tac. Os ponteiros deslizam velozes mas sem rumor. No entanto imagino ouvir certa algazarra, como se todos eles e cada um se estivesse a rir na minha cara. Como quem me diz que louca sou eu que não me liberto das peias do tempo.


12 comentários:

  1. Ora, aí está uma grande ideia. Pois quem é que ia olhar para uma montra de meias com este calor?! Mas, assim, até eu fiquei com vontade de ir à baixa...
    Rog

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  2. Mais uma vez, grande ideia e excelente concretização. Parabéns.

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  3. Provavelmente os relógios chamam mais a atenção do que as meias na montra, sem mais nada. Pelo menos a tua, chamaram! :)))

    Beijocas!

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  4. Redonda,
    devolvo :)

    Rog,
    É mesmo e olha-se mais para os relógios do que para as meias :)

    Gi,
    É que gostei verdadeiramente de ver aqueles relógios com os ponteiros em corrida inexorável contra o tempo. A grande ideia é de facto de quem imaginou estas montras para a Calzedonia... ´

    Teté,
    Chamam mesmo. Perguntei à empregada se era coisa única daquela loja. Não é. A "loucura do tempo" deverá estar em todas as Calzedonia... e apesar de, segundo também me disse, muitas pessoas se interessarem pelos relógios para compra, na certa algumas sempre acabarão por comprar meias :))

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  5. Eu tenho um amante de relógios em casa por isso há tique-taques de toda a espécie, em uníssono e desencontrados e até há despertadores que tocam a horas improváveis...:-))
    Quem vem de fora acha estranho, eu já me habituei!
    Daqui por uns dias, diga mais alguma coisa sobre os contos, ok?

    Abraço

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  6. Chama a atenção , a si não escapou :)Gostei pois nunca vou pela Baixa de Lisboa.

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  7. Rosa dos Ventos,
    Direi sim...

    Briseis,
    :)

    annie hall,
    Estes estão na baixa de Faro, mas imagino que em Lisboa a montra desta loja estará igual :)

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  8. Provavelmente, loucos somos todos nós que nos deixámos domar por essa e outras máquinas
    Bom fds

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  9. Como uma simples montra pode dar origem a um excelente texto :)
    O tempo esse maldito que tanto nos atormenta.

    beijinhos

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  10. Carlos,
    É isso... e falta-nos tantas vezes a força ou a coragem da libertação.

    Fê,
    Obrigada pela apreciação :) Quanto ao tempo... resta-nos continuar a reclamar contra ele.

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  11. O tempo.
    Sempre o tempo que nos atrasa ou adianta os passos.
    Fantástica fotografia e muito bom o texto!

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