Preciso de escrever aqui qualquer coisa. É suposto eu escrever aqui qualquer coisa de vez em quando. O problema é que ando no meio de uma autêntica guerrilha de palavras. E de frases. Parece que conspiram contra mim. Organizam-se em fações distintas e atormentam-me. Vão-me puxando ora para um lado, ora para outro. De tal modo que me fazem andar numa roda-viva. É uma situação absolutamente extenuante e em nada produtiva.
Ainda esta tarde, quando saí do trabalho, acompanharam os meus passos palavras como respirar, leve, caminhar, jardim, canto das aves, descanso. Mas enquanto estas palavras me puxavam para o sorriso, já se começavam a insinuar uma série delas para me apressar noutra direção. Supermercado, compras, carne, feijão, arroz, leite, depressa. A coisa foi piorando com a aproximação veloz de outras tantas como trânsito, anoitecer, descarregar, cozinhar. Então e aquelas que começaram também a gritar por mim a partir do quarto e dos cestos de roupa suja. Lençóis, camisas, toalhas, alguidar… todas, todas chamando por mim e pela máquina de lavar. Um autêntico desassossego. E se fossem só estas… Mas não. Tinham ainda que se juntar ao barulho os termos loiça, lixo, corda, estender, varrer.
Em dado momento ainda tentei escapar-me e fazer de conta que não via algumas delas. Quis antes começar a escrever estrelas, noite, luar. Quis juntar no mesmo pedaço de papel palavras doces, felizes, amigas. Coitadas. Elas bem se chegaram ao pé de mim mas no mesmo instante caiu-lhes em cima uma rajada de realidade, tempo a fugir, roupa por dobrar, horas de dormir.
Preciso de escrever aqui qualquer coisa, mas antes preciso de arrumar as palavras, separá-las por cores e tamanhos, prepará-las para uma sã convivência. Com calma. Com tempo. Sim, hei de escrever aqui qualquer coisa.
O palavrear das tuas palavras foi convenientemente seletivo. Deverás chamar a atenção à/ao chefe das palavras que já vai sendo tempo de se atualizar e de deixar de ser discriminatório(a) e que pense e verbalize novas palavras como: tarefas, distribuir, responsabilizar, filhos, companheiro, descanso, merecido, colaboração, eliminar o “faz-de-conta”, autonomia, auto-estima....
ResponderEliminarAbraço
E foi um belo texto, um texto de verdade onde o cansaço sobressai!
ResponderEliminarUm texto repetitivo que precisa de um hiato onde possas respirar!
Amanhã, vais ver, vai ser dia de sorrisos...
Toma um xi.
E não escrevendo, devido à desarrumação e solicitação constante de palavras tão diversas, já escreveste e muito bem! Afinal, um destino não só teu, mas partilhado com tantas mulheres (especialmente, embora não negando também o de alguns homens)!
ResponderEliminarBeijocas!
Cá pra mim, quando não estou com pachorra para loiça, roupa e seus derivados, pura e simplesmente não lhes dou ouvidos... Que gritem o que quiserem. Debaixo da luz do luar, se o olharmos com olhos de ver, fica difícil ouvir outras coisas. E, a seu tempo, hás-de também sossegar e escrever aqui mais qualquer coisa. Hoje não te saíste nada mal.=)
ResponderEliminarMesmo assim tens palavras boas e frases ainda melhores, no meu caso está bem pior... só me apetece dizer asneiras, e começa logo quando ouço as notícias às 6,30 da matina... ;)
ResponderEliminarBjos
tenho o mesmo problema.
ResponderEliminarLuísa,
ResponderEliminarVida de mulher não é fácil, não.
Gostei muito do texto.
Beijo :)