segunda-feira, 28 de junho de 2010

Esquecida

Há quantos anos, já, deixei de ver aquela mulher de idade que todos os fins de tarde, se encontrava encostada à parede de casa, olhando o trânsito que passava. Serão dois? Três? Sempre pela mesma hora, sempre com um cão de pequeno porte, apoiada no muro, esperava o dia findar olhando a estrada. Os olhos criam hábito, um hábito que acaba por cegá-los. Deixam de ver o que todos os dias vêem, adormecidos pelo torpor da repetição dos cenários. Os meus, acordaram, hoje, de repente, porque, sei lá como, perceberam que mulher já não estava ali. Foi talvez por causa do tamanho do loendro que cobre agora quase toda a parede lateral da casa. É pequena e as ervas daninhas, já secas dos primeiros calores do Verão, chegam bem ao parapeito das janelas. Arrombaram-lhe a porta e ao passar, como todos os dias, olhando pelo vidro da janela do carro, vi ou julguei ver, nas traseiras da casa, uma mola de roupa esquecida na corda, que serve agora de pilar à pequena teia de uma qualquer aranha.




6 comentários:

  1. ...será uma aranha de cruz!

    (desde menina que a acho a mais interessante -das que conheço, claro - para mim são as mais bonitas...com aquela cruz parecida com a da Ordem dos Hospitalários...quase igual à do Nuno Álvares Pereira...
    :))

    ResponderEliminar
  2. Belo texto e espantosa foto... Parabéns, cara Luísa!

    ResponderEliminar
  3. Arménia,
    Na verdade, não a vi... só mesmo a sua teia. :)

    ResponderEliminar
  4. Excelentes são os que assina no Interioridades, AC. :)

    ResponderEliminar