Todos os dias, desde o início do ano, olho para a
nespereira. Não tenho como não olhar para ela. Com os dois limoeiros que se encontram
junto à rede que cerca a horta, ela está no primeiro plano da minha paisagem
diária, religiosamente observada através da janela da sala. Vi-lhe primeiro o verde-escuro
das folhas e o branco das flores. Vi nascerem-lhe os frutos, pequenos e verdes.
Vi-os crescer em amarelo quase limão. Vejo-os, mutantes para quase laranja.
É nesse amarelo
alaranjado que amadurecem agora as nêsperas, umas mais depressa que outras, conferindo
à árvore um novo colorido. Gosto das apressadas, como as que me chegaram hoje à
mesa, numa seleção cuidada do dono da horta. Pego numa delas, esfrego-lhe o
veludo para fora até lhe deixar apenas o cetim da pele à vista. Reparo que já
apresenta algumas rugas de expressão e até uma ou outra pequena mancha castanha.
Como envelhece depressa, uma nêspera… Mas é assim, amadurecida, que ela passa
no teste da doçura.