Foi uma das novas rotundas, entre as muitas desenhadas este
ano na estrada principal, que desvendou a pequena horta de citrinos. Está do
lado direito da estrada e quando ali passo pela manhã, enquanto rodo o volante
para a esquerda, perfazendo o necessário semi-círculo junto ao redondel, olho
invariavelmente para lá. Até nem foram as laranjeiras, viçosas, por sinal, que
me espicaçaram a vista. E nem tão pouco foram uns quantos girassóis em que hoje
reparei. Não. O que todos os dias me encanta são os cata-ventos. Estão
acoplados à cerca que separa a horta da estrada e são tantos que a sua conta é
impossível de fazer no tempo breve da minha passagem. São cata-ventos muito
rudimentares, feitos de cana, mas cada um enfeitado com uma forma geométrica de
cor diferente. A horta parece-me assim um jardim misterioso, ladeado de engenhos
capazes de atrair ventos e outras energias, que o dono, um jardineiro sonhador,
aproveita para adubar as árvores e a imaginação das criaturas que, a caminho do
trabalho, precisam, em cada dia, de uma pequena dose de evasão.