segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Destino

Durante aqueles quatro dias manteve-se queda e silenciosa no pequeno saco de plástico com fecho éclair, encostada a um dos cantos do necéssaire vermelho. Fizeram-lhe companhia a bisnaga do creme e o pincel da barba. O ar era fresco e por vezes enchia-se de humidade que caía com o vapor do chuveiro. Cheirava a gel duche de flor de laranjeira e a shampoo de alperce. Não era mau. Mas quatro dias ali encostada… só tendo contado com uma atividade… começou a ficar impaciente. Os movimentos regulares dos acessórios que preenchiam o restante espaço da bolsa de toilette acabaram por lhe fazer saltar a tampa protetora das lâminas. Sentiu-se um pouco mais solta, cheia de apetite. Foi então que a mão de aproximou do necéssaire. Ia agarrá-lo para proceder à sua arrumação e guardá-lo no saco de viagem, já pronto a seguir para carro. Quis o destino que o polegar se encostasse com força à sua cabeça, permitindo-lhe afincar com regozijo a lâmina afiada naquela tenra carne. Ela soltou um pequeno grito, colocou o dedo sob a água corrente da torneira e enquanto o lavatório se tingia de rubro, a gilette, esboçando um sorriso malvado, encostava-se saciada e cheia de gozo à bisnaga do creme de barbear.

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