segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A régua

Sobre a mesa da cozinha do meu pai encontrei, hoje, uma velha régua escolar que me pertenceu. Velha, velhinha mesmo. É uma régua quadrangular com quatro cores. Tem um lado amarelo, um vermelho, um azul-escuro e outro preto. O lado preto está graduado e eu, de forma tosca, para a identificar, escrevi o meu nome em letras maiúsculas sobre o lado amarelo. Está velha e gasta esta pequena régua de madeira mas vê-la assim, inesperadamente, recuperada de não sei que recantos esconsos da casa, deixou-me numa emoção só. Questiono-me como foi possível a minha pequena régua chegar até aos dias de hoje. Lembro-me que, no meio de móveis e outras traquitanas, viajou de França no regresso dos imigrantes. Pergunto-me por que milagrosos acasos não foi deitada fora numa das inúmeras ações de limpeza que periodicamente se empreendem e de que bastas vezes me arrependo por concluir, tempos depois, que lá se foi mais uma recordação. Quem a vê, agora, vê apenas um bocado de madeira velha, riscada, descascada. Aos meus olhos, porém, apresenta-se como um verdadeiro tesouro. Não me canso de olhar para ela, de lhe tocar e, com um sorriso bacoco, mostro-a ao me filho que se escusa a comentários e deve pensar que a mãe está tontinha de todo. Ligo-me à Net e vasculho as imagens do Google para ver se lhe encontro exemplar semelhante. Tudo serve para avivar memórias. Recuperei, hoje, a minha velha régua escolar e agora estou para aqui, meio enfeitiçada, nas lembranças que me traz. 

12 comentários:

  1. Ah, percebo inteiramente a sensação e não regressei de França. Verdade, se contasse uma desse género ao meu filho, certamente ficaria com o mesmo ar de incompreensão total... :)

    Beijocas

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  2. A régua avivou memórias.
    Acontece isso com alguns objectos.

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  3. Lindo texto de memórias
    Há coisas que sobrevivem ao tempo e que bom recordá-las.....

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  4. Objectos com carga afectiva ajudam a avivar os caminhos da memória. ;)

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  5. Nem imaginas como te percebo!

    A relíquia que encontraste remexeu no "Baú das tuas memórias".

    Beijinhos.

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  6. Que bom Luisa!
    Eu também fico assim quando encontro algo que me toca dessa mesma forma.

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  7. à vista dela sorriste e fizeste uma nova viagem no tempo que tanto gosto te deu...!

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  8. ...E como nada acontece por acaso: ela andava pela casa mas só foi vista agora! Sabe-se lá porquê...
    Coisas boas da vida.
    bjs

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  9. Não me lembro de ter tido uma régua assim, mas tenho algumas recordações parecidas, como um diário que comecei com dez anos... (muito chato e com vários erros nas 1ªs páginas)

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  10. Que história tão enternecedora, uma régua que desvenda lembranças, surgidas no horizonte da memória.

    Um beijinho

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