Sobre a mesa da cozinha do meu pai encontrei, hoje, uma
velha régua escolar que me pertenceu. Velha, velhinha mesmo. É uma régua
quadrangular com quatro cores. Tem um lado amarelo, um vermelho, um azul-escuro
e outro preto. O lado preto está graduado e eu, de forma tosca, para a identificar,
escrevi o meu nome em letras maiúsculas sobre o lado amarelo. Está velha e
gasta esta pequena régua de madeira mas vê-la assim, inesperadamente,
recuperada de não sei que recantos esconsos da casa, deixou-me numa emoção só. Questiono-me
como foi possível a minha pequena régua chegar até aos dias de hoje. Lembro-me que,
no meio de móveis e outras traquitanas, viajou de França no regresso dos
imigrantes. Pergunto-me por que milagrosos acasos não foi deitada fora numa das
inúmeras ações de limpeza que periodicamente se empreendem e de que bastas
vezes me arrependo por concluir, tempos depois, que lá se foi mais uma recordação.
Quem a vê, agora, vê apenas um bocado de madeira velha, riscada, descascada.
Aos meus olhos, porém, apresenta-se como um verdadeiro tesouro. Não me canso de
olhar para ela, de lhe tocar e, com um sorriso bacoco, mostro-a ao me filho que
se escusa a comentários e deve pensar que a mãe está tontinha de todo. Ligo-me
à Net e vasculho as imagens do Google para ver se lhe encontro exemplar semelhante.
Tudo serve para avivar memórias. Recuperei, hoje, a minha velha régua escolar e
agora estou para aqui, meio enfeitiçada, nas lembranças que me traz.
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
domingo, 30 de agosto de 2015
Passeio de domingo (271)
O caminho da praia, num dia de semana em férias, faz hoje a vez de
passeio de domingo. Fora isso, é só descanso.
sábado, 29 de agosto de 2015
Pedras
De repente, como uma obsessão, as pedras do areal tomam-se
de amores e eu só consigo ver corações. Vou passá-las daqui para o blogue do lado. No fundo, é uma série fora de série…
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
Maré
Fim de tarde, na maré baixa. Sopra um vento quente enquanto
eu, à babuja, revolto a areia rodando os pés como quem dança o twist, numa
tática conhecida da apanha da conquilha.
Vejo uma, duas, três. Jogo-lhes a mão
antes que venha a onda e as leve, antes que se enterrem de novo na areia. É uma
entretenha viciante. Uma a uma vou guardando as conquilhas num pequeno saco de plástico
onde coloquei uma porção de água do mar. Sempre que consigo apanhar uma grande,
o prazer é redobrado.
Como eu, dezenas de banhistas sofrem do mesmo vício.
Escavam a areia, atiram-se aos bivalves que rebolam em fuga na espuma,
enfiam-nos em pequenas garrafas de água ou nos baldes dos filhos. Uma mulher
entrega-me meia dúzia delas. Não tem recipiente, está só de passagem mas não resiste
ao apelo da apanha. Um casal questiona-me sobre como se devem cozinhar.
O vento
continua a soprar quente e traz-me o cheiro de bolas de Berlim. A lua já se vê no azul, ainda dia, do céu. Avisa
o sol que está na hora de lhe dar espaço. A praia agiganta-se à medida que se
vão fechando os sombreiros. A contragosto tenho de regressar a casa. Levo areia
nos pés, salpicos de sal no corpo, alegria na alma.
E um saco de conquilhas…
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Ládano
É o cheiro. É o cheiro da esteva que aquece ao sol da manhã
que me inebria. Percorro os trilhos sinuosos da falésia. Os pés, nos chinelos
de praia, cobrem-se de um fino pó ruivo. Passa por mim gente que corre. Correr
está na moda. Passam também ciclistas nas suas btt. Ao longe avisto cavaleiros.
Passam todos por estes trilhos desenhados entre pinheiros mansos. Respiram o
mesmo ar que eu. Avistam o mesmo mar que eu. Esse mar que, lá em baixo, vai
lambendo a areia macia. O mar pode esperar. Já lá vou. Por ora apenas quero
sentir o cheiro resinoso da esteva que brilha ao sol.
terça-feira, 25 de agosto de 2015
As nádegas
Ainda era jovem mas sem dever muito à elegância. Andaria
pelos 40 anos e alguns quilos a mais. Uma mulher comum, de férias, na praia. O biquíni
escorregava-lhe nádegas adentro deixando as ditas salientes ao sol. Nada de
mais. Mas nada bonito de se ver. Pior ficou quando vestiu a t-shirt e saiu
praia afora para um passeio. O biquíni desapareceu do raio público de visão, sobrando
apenas meias nádegas celulíticas e a ilusão de que seguia nua por baixo da
camisola.
domingo, 23 de agosto de 2015
Passeio de domingo (270)
No parque ambiental de Vilamoura: um percurso que já não é novo, por aqui, mas que eu renovo regularmente.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
As sandálias
As sandálias verde-água, com salto de dois centímetros,
combinavam com o fato-de-banho. Só o pude concluir quando despiu as calças
largas de linho branco que envergava por baixo da longa túnica de mangas
compridas, igualmente branca. Como
branco era o chapéu de abas que a protegia do sol.
Chamaram-me a atenção as sandálias, provavelmente porque, na
praia, só tenho visto gente com chinelos de plástico. Também me chamaram a
atenção as calças compridas do homem que a acompanhava. Provavelmente porque,
na praia, só tenho visto homens de calções.
O próprio fato-de-banho, verde como as sandálias que
entretanto descalçou, pareceu-me de uma elegância inusitada. Caminhou para a
água, apenas molhando as pernas. Desistiu do mergulho e regressou à toalha para
nela se sentar e esperar pelo fim de tarde que chegava.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
Água
Acabei de enviar uma fotografia
para participar no passatempo que a Teté, do blogue Quiproquó, decidiu lançar
neste verão.
A ideia não é de um concurso de
fotografias, é, sim, de um convívio fotográfico. É que as fotos participantes serão
publicadas no Quiproquó assim como a informação sobre os “fotógrafos” com o
objetivo de se adivinhar quem fotografou o quê.
A coisa não é fácil mas promove
uma saudável interação entre bloggers. Quem tem uma trabalheira infernal com
tudo isto é mesmo a promotora do evento. Eu não me atreveria…
Ah… o tema para fotografar é a
água.
domingo, 16 de agosto de 2015
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
O assobio
Arranco as ervas daninhas que crescem no vaso de uma planta
suculenta que enfeita o poial da minha rua da frente. Quando digo rua da
frente refiro-me ao pátio que ladeia a fachada principal da casa. Modo de
dizer, próprio daqui.
O que interessa, porém, são as ervas daninhas que estou a
arrancar e que deito fora, não sem antes revisitar uma brincadeira de infância.
Pego numa folha fina e comprida. Entalo-a entre os polegares. Encosto os lábios
aos dedos e sopro com força sobre a aresta da folha, como aprendi em criança.
Logo se solta o assobio, forte, estridente, cortando o ar.
Rio-me e esfrego a boca para me passarem as cócegas, uma
espécie de formigueiro provocado pela vibração da folha sob a ação do sopro.
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Queixosos
Não consigo entender por que razão as pessoas que se queixam
do sul e especialmente do Algarve em agosto continuam a fazer férias, precisamente,
em agosto. E não consigo entender porque é que escolhem sobretudo a primeira
quinzena de agosto que é quando há mais gente de férias no sul e a criticar o
sul. Queixam-se das filas de trânsito, queixam-se das praias cheias de gente,
queixam-se dos vendedores de bolas de Berlim, queixam-se por verem caras
conhecidas, queixam-se das festas, enfim são queixosos crónicos. E não me
venham dizer que só podem ter férias em agosto. Isso será verdade para alguns.
Não o é certamente para todos aqueles que, sistematicamente, todos os verões,
rumam a sul e, invariavelmente, vão afiar língua, lápis e teclas para se
queixar. De quê, afinal? No fundo, acho que de si próprios.
domingo, 9 de agosto de 2015
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Os sons da noite
Tenho a porta do terraço aberta para ver se entra um pouco
do ar mais fresco da rua. Daqui, onde me encontro sentada, não chego a senti-lo.
Da noite, há pouco caída, apenas ouço os sons. Ouço o cão que ladra, o comboio
que passa, as rodas dos carros no asfalto. Há pouco passou também um avião. Seguia
para norte com quem já acabou as férias, ou com quem as vai passar noutro lado.
Também ouço os insetos. Grilos, por certo. Outro cão responde ao primeiro. Este
tem um ladrar mais grosso. Pipinha, Pipinha, anda Pipinha… É a prima que chama
pela gata. São horas de recolher. Para a gata, claro está. Para quem goza estes
dias quentes de agosto a hora é de saída para jantar, para o passeio noturno,
para a farra das férias. Eu, estou quase
como a gata, prestes a recolher. Mas antes vou para a varanda. Parece-me que se
está a levantar um pouco de vento. Ouço as folhas da alfarrobeira a sussurrar.
É isso. Vou para a varanda. De lá ouço melhor os sons da noite.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
domingo, 2 de agosto de 2015
Passeio de domingo (267)
Passeio de domingo a confirmar que está aí a invasão de agosto
mas que, ainda assim, se consegue caminhar com gosto, por quilómetros e
quilómetros, de praia em praia…
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