sexta-feira, 1 de abril de 2011

A mulher invisível

Costumava vê-la passar com frequência naquela rua. Tinha um andar cadenciado mas decidido. Levava o cabelo escorrido a bater-lhe pelos ombros. Era preto e tinha risco ao meio. Levava as mãos a abanar ao longo do corpo. Não tinha saco, nem mala, nem carteira que lhe pesasse. Vestia sempre umas calças e uma camisola de malha por cima das mamas grandes e pendidas sobre o ventre. Caminhava como quem sabia, com a maior de todas as certezas, o rumo que seguia. Esticava o queixo para a frente, voluntariosa. Mexia por vezes os lábios num diálogo surdo com o vento. Via-a sempre assim, caminhando sozinha, sem fardo. Eu ia de carro, em sentido contrário ao daquela mulher que, vezes sem conta, percorria o passeio da mesma rua. Há várias semanas que não a vejo. Acho que se tornou invisível.

5 comentários:

  1. Com o calor pode ter mudado de roupa, pintado o cabelo et voilá, já não a reconheces... :)

    Gostei muito do vídeo ali "embaixo"!

    Beijocas e bom fim de semana!

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  2. Às vezes dá jeito :)
    Adorei a ironia do seu texto.

    Bjos

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  3. Obrigado, Luísa... obrigado pelo magnífico texto aqui partilhado!
    Um grande, enorme e sentido abraço.

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  4. Tété e Catarina,
    Qualquer uma das hipóteses é verosímil...:)

    Fê,
    Verdade! Dava mesmo jeito. :)

    Ana Paula Fitas,
    Obrigada pela gentileza :)

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