quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Do tempo que passa (2)

O rapaz não me reconheceu. É certo que apareci descontextualizada. Em trajes turísticos, com óculos de sol e chapéu de ráfia, em nada igualava a aparência mais formal que evidencio no meu ambiente de trabalho. É certo também que passaram vários anos desde que fui eu que o atendi e dei resposta ao que procurava. Agora deu-se o inverso. Ele sentado do lado de lá do balcão. Se era para visitar o monumento? Que sim. São dois euros e pergunta se quer que coloque o filme a passar ali na pequena sala do centro de interpretação. Depois é só passar por ali e subir a ladeira. Obrigada. Breves segundos de hesitação enquanto decidia se me identificava ou não. Foi não. Não valia a pena. Cada vez mais me parece que vale menos a pena.

9 comentários:

  1. Luísa, gosto desta tua escrita... Também li o primeiro capítulo.
    E olha que o tempo passa por todos; não é só por nós.

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  2. mas esse rapaz tinha significado?

    dado a tua ultima frase, estás a perder fé nas pessoas?

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  3. Também não entendi. Basta que alguém não a reconheça para achar que não vale a pena não sabemos o quê, será usar corrector?! A mim me parece normal que quem a vê pouco ou não a vê há anos, não a reconheça - ainda por cima está, digamos, disfarçada e inesperada. Se fosse eu, perguntava ao rapaz se não a conhecia. Ou dizia-lhe que o conhecia a ele. Talvez ele se recordasse.

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  4. Isabel,
    Fico contente por gostares.
    Eu sei, bem sei que passa por todos nós. :)

    Catarina,
    Foi,sim. Naquele momento resolvi manter-me incógnita. :)

    Urso Misha,
    O rapaz não tinha significado especial. Foi apenas alguém que conheci profissionalmente. E não, não estou a perder a fé nas pessoas. Talvez tenha apenas, momentaneamente, perdido a fé em mim própria. :)

    Bea,
    Acredito que sim. Se eu lhe tivesse dito quem eu era, certamente se lembraria. Mas nestas coisas do tempo que passa, por vezes, somos tomados de um enorme cansaço. E é só disso que se trata. :)

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  5. Luisa, está feitio, está feito mas quero te contar que ontem me aconteceu exactamente o contrário, fui ao Banco e a pessoa que me atendeu disse-me " não me está a reconhecer...estou mais velhote!" e eu olhei com mais atenção, ele sorriu e reconheci-o já não o via desde 2002, claro que estava diferente e eu não reconheci mas adorei que ele me tivesse falado porque era uma pessoa de quem tinha boas recordações e muito simpática.
    Ás vezes vale apena falar...
    Bjs

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  6. Luísa, acontece-me, às vezes, olhar para alguém conhecido, até quotidiano, e não ver. Se não esperar encontrar a pessoa ali, ou se estiver concentrada em alguma coisa, passo-lhe a vista em cima e não o vejo. Já fiz isso com o meu namorado num supermercado!!lol

    Digo isto sem saber os pormenores do caso relatado, mas serve para mostrar que se calhar ainda vale a pena manter a esperança. =)

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  7. São os tempos de agora... uma sucessão de momentos efémeros... principalmente, na memória dos outros...
    Um excelente texto... para uma opção a tomar... num dado momento...
    Beijinhos
    Ana

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  8. Papoila,
    Não deixo de te dar razão. Provavelmente, se eu tivesse dito alguma coisa, teria sido um momento simpático. Mas todos temos dias… E não era aquele. :)

    Briseis,
    Ah… momentos desses também eu tenho. Por vezes estou tão distraída nos meus pensamentos que nem me apercebo que estou a cruzar-me com alguém que conheço. :)

    Ana Freire,
    É isso. A nossa vida é feita de momentos efémeros e de decisões que, por vezes, não se explicam. :)

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