Não sei se já te disse daquilo das
poeiras. Foi no outro dia, ao fim da tarde, quando regressava a casa. O ar
estava leve, varrido pelo vento de setembro. Era aquele vento macio – sabes? –
que te lambe a pele como um gato lambe os pelos, que faz estremecer docemente
as folhas das árvores e que atenua o calor dos dias, ainda, de verão. Por certo
transportadas por esse vento, pairavam, aqui e ali, umas finas partículas que
não consegui identificar de imediato.
Via-as suspensas nas roupas das
pessoas que passavam e que o tal vento fazia dançar junto aos seus corpos.
Via-as também muito concentradas no branco fofo de uma nuvem que se arrastava num
rasgo ainda azul do céu. Uma ou outra aparentava brincar sob as folhas caídas
de um plátano, denotando uma certa saudade do outono. Via-as ainda, ao
lusco-fusco, dançando, em jeito de equilibristas, sobre um traço de avião que,
não sei como, atravessava a lua cheia já visível a leste e que começou então a
perseguir-me pelo retrovisor do carro.
O mais estranho era eu também
sentir as tais partículas, poeiras do mais fino toque, no tom do vocalista dos
Dire Straits, que cantava so far away from me no rádio do carro. E
eu, com a lua a nascer atrás de mim e o sol já a pôr-se na minha frente, vi,
subitamente e com toda a clareza, que aquelas partículas só poderiam ter-se escapado
de um poema que estivesses, naquela tarde, a escrever, junto a uma janela
aberta, com uma ínfima nesga de vista sobre o meu pequeno mundo. E só pode ter
sido por essa nesga que, inadvertidamente, chegou até mim aquele fino pó de poema.
É. Talvez os poemas andem assim a bailar em volta das gentes. Quem sabe...
ResponderEliminarUm poema em prosa. :)
ResponderEliminarBom fim-de-semana, Luísa. Bjs
Que bonito, Luísa! Uma verdadeira prosa poética!
ResponderEliminarBeijos :)
Que lindo texto, luisa. Fiquei a flutuar na luz deste pó.
ResponderEliminarque maravilha, Luísa.
ResponderEliminarobrigada por teres conseguido que esses pozinhos também tivessem chegado aqui...
oi Luisa, esplêndida sua prosa. Gostei demais. Esse final foi show!
ResponderEliminarProvavelmente, Luísa!
ResponderEliminarE até imagino qual tenha sido o poema...:)
Lindo e poético texto.
Beijos, des)empoeirados. :)
Luísa, bom fazeres chegar-nos assim notícias das poeiras!
ResponderEliminar~~~
ResponderEliminarBelíssima poesia em prosa, Luísa!
Gostei muito e espero por mais...
Abraço ainda estival.
Beijo, poetisa.
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Gostei muito , Luisa.
ResponderEliminarBjs
Quantas vezes dizemos, "o amor anda no ar" ?... Também a poesia, porque não ?... Estava sentado ao computador e senti qualquer de estranho nos meus olhos. Uma espécie de poeira que me enevoava a vista. Tentei segui-la e heis-me aqui !... Bela essa tua prosa poética, que nos deixa a pensar, Luisa ! :)
ResponderEliminarComo seria bom sentirmos no ar essa doce poeira de poesia e de amor !?...
Beijo e Bom domingo.
Sublime! Cada vez gosto mais de te visitar :)
ResponderEliminar...e com tão poucas palavras se escreve um lindo romance de amor e saudade...
ResponderEliminarComeçamos a ler e as palavras começam a bailar como se fossem finas partículas brancas e depois formam versos que se transformam num texto poético, que nos convida a olhar de outra forma as imagens do poema.
ResponderEliminarMuito bonito e sereno:)
Bom domingo
Um bom exemplo de uma belíssima prosa poética... :)
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