Estou a especializar-me no socorro a cigarras em vias de
afogamento. Já é a segunda que retiro das águas azuis da piscina.
A primeira já nem se movia, limitando-se a boiar. Só no
momento do resgate reparei que ainda mexia as patas. Deixei-a no chão a secar e
fui à minha vida. Quando voltei ao local já não havia rasto dela e deduzi que,
depois de se libertar do excesso de água, voltou a sua vida boémia de
cantorias.
Depois a cena repetiu-se. Dessa vez já em cenário noturno.
Ao sair de casa comecei ouvir uns tssss tssss tssss sincopados. Olhei para o
lado e lá estava ela a debater-se no meio da imensidão líquida da piscina. Dei um rodopio, vesti a minha pele de Super Socorrista de
Cigarras e agarrando de imediato na rede lá fui resgatá-la da morte certa.
Bem sei que a cigarra tem má fama e que a formiga leva todo
o verão a trabalhar mas o facto é que o trabalho da formiga me incomoda
sobremaneira. Quando ela resolve trabalhar na minha cozinha e na minha despensa…
então não a suporto mesmo. E confesso que, no que a esta fábula diz respeito,
sou tão Super Socorrista de Cigarras quanto sou Exterminadora Implacável de
Formigas.