Nos últimos dias, sempre que chegava a casa, deparava-se com a mesa da cozinha coberta de retalhos. Velhos retalhos de diversas cores e diferentes padrões cobriam o tampo já gasto da mesa de fórmica. Pedaços de tecido amarrotado, sobras de corte, tiras desfiadas.
Não percebia que fenómeno era aquele. Como é que chegavam à mesa da cozinha aqueles bocados de pano velho se não vivia ali mais ninguém?
Nos dias anteriores ainda os tinha despejado para dentro de um saco que depois tinha arrumado a um canto da arrecadação, mas naquele momento o cansaço prevaleceu. Olhou para a mesa da cozinha e para todos aqueles retalhos que pareciam querer lembrar-lhe alguma coisa e arrastou-se para o quarto. Deitou-se. Sentia fugir-lhe todas as suas forças. Percebeu que aquela era a sua última noite.
Fechou os olhos e, no clarão que nesse preciso momento o cegava, viu, ali na sua frente, esvoaçando, centenas de pequenos farrapos, retalhos de pano velho de cores e padrões diversos. Neles reconheceu finalmente todos os seus sonhos perdidos.
Intrigante...
ResponderEliminarGostei.
Querida Luisa, muito bom este texto! Gostei da metáfora.
ResponderEliminarOlá Luisa,
ResponderEliminarBem interessante....
Gostei!!!
Feliz Semana
1000 Beijokinhas
Gostei muito...tenho muitos retalhos desses...
ResponderEliminarBonito texto
Se todos tivéssemos retalhos de panos velhos, à medida dos sonhos que perdemos ou esvoaçaram pela janela, não seria ele o único a vê-los despojados na mesa da cozinha... :)
ResponderEliminarBeijocas!
Ai, Luísa... que história triste... e o pior é que é verdade. Todos temos um saco de retalhos encondido algures e, um dia, ele vai cair-nos à frente... Que triste dia, esse... Beijinho
ResponderEliminarAdorei o texto!
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