segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Uma boa máquina

Já eu abria a porta do carro quando ouvi o homem dizer nas minhas costas, é uma boa máquina…. Olhei para trás, na dúvida. Não devia ser para mim. Mas era. O homem olhava-me sorridente e confirmava com o queixo apontado para o carro, é uma boa máquina, essa. A minha filha tem um igual; o dela é de 2008. Então eu, meio encavacada, a retribuir o sorriso, fui espreitar a matrícula para recordar o ano do carro, coisa a que tão pouco ligo que nunca sei. Também é de 2008. E o homem rejubila, é igualzinho, a mesma cor e tudo. Enquanto me sento e retiro a pala protetora do sol ainda lhe digo que o meu já tem ali umas mazelas na tinta da porta do condutor. Que sim, o da filha também, mas é coisa pouca e o que interessa é que é uma boa máquina. Enquanto fecho a porta e aperto cinto, ele chama pelo cão que andava a passear e despede-se rumo a uma das casas do passeio do lado oposto. Arranco e sigo para os meus vinte e cinco quilómetros de trajeto diário para regressar a casa. Não sei se já teria visto por ali anteriormente o meu interlocutor. É provável que sim. Afinal, o homem é meu vizinho já que estaciono naquela rua quase todos os dias de manhã e só de lá saio pela tarde. E, entre vizinhos,  um carro é tão bom tema de conversa quanto o é o estado do tempo. 

15 comentários:

  1. cenas do quotidiano escrita de uma maneira sublime.
    boa semana.
    beijinhos
    :)

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  2. E eu a pensar que a bela má´quina era fotográfica...

    Um beijo.

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  3. Uma conversa com os vizinhos deve acontecer de vez em quando .
    Abraço

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  4. nunca chego a tantas palavras com os meus vizinhos,
    mas tenho pena :)

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  5. Luisa sempre pensei ao ler de inicio que se ia referir à sua máquina fotográfica que está no meu imaginário, a Luisa com o seu talento para a fotografia e a companheira inevitável a máquina fotográfica.
    Mas era o automóvel... :)


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  6. A palavra máquina levou-me à fotografia ... a seguir à sua beleza e afinal ... algo simples que todos gostamos de ter!!!bj

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  7. Dois dedos de conversa com um vizinho é sempre coisa boa, eu gosto.
    ~CC~

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  8. Tem sorte:). Pela máquina. E por não ter marcas da condutora na chapa:).

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  9. excelente pretexto para um bocadinho de conversa, num dia tão soalheiro.
    boa noite, Luísa.

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  10. às tantas, se não fosse a máquina, seria outra coisa o motivo da conversa, o senhor deve gostar de uma prosa :)

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  11. E porque não?
    Desde que se mantenha um bom diálogo, porque não?

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  12. Assim se começa um belo tema, e quem sabe uma amizade futura

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  13. Às vezes, as pessoas só precisam trocar duas palavras com outro ser humano, para terem a certeza que não são invisíveis.
    Abraço

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  14. Piedade,
    Cenas do quotidiano e um simples relato. Obrigada. :)

    João Menéres,
    Não se tratava dessa, não. :) E eu que nunca pensei no meu carro como uma “bela máquina”…

    Alfacinha,
    Sem dúvida. Eu é que nunca tinha pensado nas pessoas da rua onde estaciono como minhas vizinhas… :)

    Laura,
    A conversa foi breve. Eu também sou mais do tipo calado. :)

    Meu Velho Baú,
    Era dia de trabalho. Nesses dias a máquina fotográfica costuma descansar em casa. :)

    Gracinha,
    Vivemos em tempos de máquinas, quase as incorporamos… :)

    CC,
    É uma coisa boa e deveríamos exercitá-la mais. :)

    Bea,
    A noção de bela para esta máquina pode ser relativa, e olhe que sim, que esta já lá tem marcas da minha aselhice. :)

    Mia,
    Um bocadinho deste tipo de conversa por dia… Nem sabemos o bem que nos fazia. :)

    GM,
    Pois devia gostar, sim… :)


    Pedro Coimbra,
    Conversar é preciso. :)

    Anita,
    Amizade não digo, mas convivência de rua… Embora, desde aquele dia não tenha voltado a encontrar-me com o senhor. :)

    Elvira,
    Isso que diz é tão verdade. Na nossa atual forma de vida, sobretudo nas cidades, a solidão cresce como erva daninha.

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  15. Também eu pensei que o senhor se referia à máquina fotográfica...

    De qualquer modo e acima de tudo encantam-me estes textos tão simples e realistas, quanto com uma boa dose de verdadeira literatura.

    Parabéns e se for o caso, continuação de boas conversas entre vizinhos, para além da incontornável meteorologia e da "boa máquina"...

    Abraço

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