A lua ainda não está perfeitamente redonda. Faltam dois dias
para a sua glória cíclica. Mas que interessa isso? Não preciso da perfeição do
traço. Basta-me o seu brilho. E como brilha. Passei agora mesmo por ela, para
lá e para cá a caminho do estendal. É uma boa desculpa, o estendal. Ele e o
alguidar cheio de roupa que levo apoiado na anca. A tarefa impõe-se mas, a meio
caminho da função necessária, permito-me o devaneio. Paro uns instantes e olho-a,
como se de olhos nos olhos, embevecida. Nesta contemplação, adornada pelo
cheiro lavado da roupa por estender, disperso-me em mil pensamentos, tantos quantas
são as pequenas estrelas luzentes que acompanham a diva na limpidez noturna. Como
é bom de ver, a lua e o estendal revelam-se uma combinação perfeita para o escape
momentâneo da dona de casa. Ah… A lua, o estendal e um osga que ainda não
hibernou e continua, noite após noite, na parede do alpendre, à caça de alimento.
A lua e as estrelas por companhia. Uma bela combinação Luisa. Beijinho
ResponderEliminarE com a luz única de Portugal o prazer é ainda maior.
ResponderEliminarNo verão também faço, por vezes, esse percurso nocturno. A roupa seca durante a noite e fica macia para engomar. Mas, no inverno, o orvalho nocturno obsta a tais viagens. E as osgas que se escaparam de mim assassina consumada - este ano perdi-lhes o pavor e conservei a repelência - estão para aí amorrinhadas em qualquer canto que espero seja escuso e eu não encontre, não dê por aquelas patas de ventosa a sair do corpo mole de uma lisura não cetinosa, que dá asco tocar.
ResponderEliminarPensar apenas que a lua é tão bonita e é grátis, que está lá para todos, e que acende na alma uns desejos de não sei onde que não cabem em lado nenhum, mas também não incomodam, antes ajudam a viver. É muito bom isto de, por momentos desarvorarmos e não nos pertencermos.
e o cheiro desse lugar, Luísa. que na minha opinião é sempre especial. :)
ResponderEliminarsó tu para ligares assim tão poeticamente a lua com o estendal :)
ResponderEliminarestou cheio de inveja
ResponderEliminarGosto sempre muitos destes seus apontamentos literários e aprecio o seu talento de fazer textos curtos
Tenho saído pouco - só à médica, para ela me dizer o que eu já sabia: está com gripe! - mas a lua que vi nem sei a quantas andava, toldada pela neblina...
ResponderEliminarTenho pena de não ter uma hortinha, para plantar ervas para a culinária, mas quando ouço falar em osgas, soa-me assim a uma espécie de prémio de consolação! :)