Hoje ainda é de dia. Caminho para poente e já o sol se esconde atrás do horizonte. Hoje caminho sem agasalho. No céu nuvens de algodão refletem ouro. Os melros voam apressados de galho em galho. Por vezes rasando a terra. Ouço-lhes o chamamento. O deles e o de outras aves que não vejo e que não sei reconhecer pelo canto. Na linha de caminho de ferro passa um comboio. Não tarda outro. E outro. E outro ainda. Para cá. Para lá. Cruzaram numa estação próxima. Para cá. Para lá. Caminho e sinto o perfume de uma porção de madressilva que cobre a vedação de uma casa, rente à estrada. Os farrapos de nuvem transfiguram-se e ficam agora rosados. Chego ao fim da rua. Meia volta e caminho para leste. Caminho quando já se acenderam as luzes dos postes de iluminação pública. A cada um que passo, caminho sobre a minha sombra que cresce no asfalto Arrastam-se os últimos minutos do dia. Calaram-se as aves. Cantam os grilos. Por instantes são só eles. Até as rodas dos carros deram descanso à estrada nacional e calaram o ruído de fundo que eu já nem ouvia. Só por breves instantes.
Há fins de tarde assim fantásticos, em que os nossos sentidos vêm ao de cima e reparamos melhor naquilo que nos rodeia... :)
ResponderEliminarBeijocas!
É aproveitar, Luísa, porque na próxima semana volta o frio e chuva e tempo quente só voltaremos a ter em Junho...
ResponderEliminarUm texto a que eu chamo " prosa poética".Está fantástico. um abraço.
ResponderEliminarMaria Emília
Não há nada melhor do que esses minutos assim!
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