Sempre que passo naquela rua e ultimamente passo lá com frequência, lá está aquele homem de cabelo grisalho e ar decadente observando quem passa, frente àquilo que deve ter sido em tempos uma loja e em cuja montra se amontoam trastes velhos e desbotados. Senta-se numa cadeira de jardim, com ripas de madeira e pés de metal, daquelas que se fecham para arrumar ao canto de uma qualquer arrecadação. O assento da cadeira já tem falta de uma das ripas de madeira mas isso parece não o incomodar. Instala-se logo pela manhã e fica observando o movimento da rua enquanto esfrega as coxas com as mãos repetindo com elas um movimento circular sem fim.
Quando, pela tarde, passo de novo por ali, o homem continua no seu posto. Por vezes está no passeio do lado de lá da rua, onde a essa hora já bate sombra.
Penso que passa ali o dia. Por vezes deve fazer algum intervalo na sua tarefa de observação da rua, dos carros e dos passantes. Nesses momentos fica só a cadeira de ripas de madeira e pés de metal, pousada junto à tal loja de trastes velhos e desbotados.
Também já o vi entrando e saindo de uma casa velha com porta para a mesma rua, apenas a alguns metros de distância do poiso da cadeira. Nunca o vi conversando com algum vizinho. Apenas observa a rua e esfrega as coxas com rápidos movimentos circulares das mãos. Atrás de si, as paredes decrépitas daquilo que em tempos deve ter sido uma loja ostentam flores de plástico que perderam a cor e pequenos bonecos de peluche também já muito pálidos e sujos. O homem mantém-se ali , no seu posto, observando, como se fosse o dono da rua e tivesse que velar pelo que nela se passa. Assim, sempre, dia após dia.
Uma descrição que nos coloca no meio da cena perturbados pelo que vemos...
ResponderEliminarCoitado do homem!
Consegui com o teu texto ver essa cadeira, esse homem e essa loja. Se nos presenteasses com imagens seria fantástico :)
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