quinta-feira, 10 de maio de 2012

O avô


No texto “Testemunha” do livro “Abraço” José Luís Peixoto escreve que os seus avós eram uma lembrança emoldurada.
Assim também é o meu avô. Está emoldurado e pousado sobre a pequena consola que se encontra na entrada do meu quarto. A moldura, de latão dourado e envelhecido, embora comprada há apenas alguns anos, até tem o design art déco da época em que o retrato lhe foi tirado. É a única fotografia que temos do meu avô e a única que eu vi dele. Não sei se na família alguém tem outra. Desta todos os irmãos e irmãs da minha mãe têm uma reprodução que mandámos fazer em tempos. A fotografia original ficou na minha casa. É mais pequena do que as reproduções. É daquelas fotografias que antigamente se coloriam à mão. Assim, sobre a consola da entrada do meu quarto, está o meu avô em traje militar num cenário florido de jardim de estúdio. Apoia a mão direita numa cadeira enquanto a esquerda segura uma espada que, por sua vez, se apoia no chão. A mão que se apoia na espada calça uma luva branca cujo par está entalado no casaco da farda, junto aos bolsos que lhe assentam no peito.
Não conheci o meu avô. Ou se o conheci não tenho lembrança dele que ficasse dos três anos que faziam a minha idade quando ele morreu. Só tenho mesmo esta lembrança emoldurada de um garboso soldado junto a delicadas flores de cores pálidas.

8 comentários:

  1. Tenho esse livro de José Luís Peixoto para ler, que estive para levar até à feira do livro, mas ainda bem que não o fiz: a bicha para o autógrafo era descomunal e não teria paciência para esperar tanto tempo... :)

    O meu avó paterno nem a lembrança emoldurada chegou: pescador de origem modesta existem umas duas fotografias já meio desvanecidas, onde nem a cara dele se vê muito bem, além que morreu novo, aos trinta e tal anos. Vale que dos avós maternos tenho algumas, até porque foram sempre mais chegados e deixaram muita saudades quando partiram... ;)

    Beijocas!

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  2. O meu avô paterno não conheci, mas seria difícil porque o meu pai ficou orfão por volta dos 6 anos e foi criado por um irmão mais velho, no entanto, tive a sorte de ter avô materno até aos meus 36 anos e tenho várias fotografias, dele e com ele... não muitas porque ele não gostava muito de ser fotografado ;)

    Bjos

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  3. Curioso, também tenho uma fotografia do meu avô paterno, em traje militar, mas sem espada e sem luva branca, e apoiado numa mesa alta e de boné na volta do braço. Também fiquei com o original e mandei fazer reproduções para a minha tia e para o meu primo.
    Mas o meu avô nunca o conheci porque ele morreu anos antes de eu nascer...

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  4. Isa,
    Teté,
    Na verdade também não conheci o meu avô paterno já que ele morreu quando o meu pai ainda era criança. Mas desse nem fotografia tenho...

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  5. Eu tenho essas fotografias relativamente aos meus bisavós. E um deles tem uma história de vida fantástica, combateu na 1ª GGM, foi capturado pelos alemães e conseguiu fugir três vezes, acabando por emigrar para os EUA, onde acabou por falecer.

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  6. Não conheci o meu avô materno, mas ouvi contar tanto sobre ele, que quase me parece que o conheci.

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  7. Naná,
    É engraçado como há detalhes semelhantes em vidas distintas. :)

    Rafeiro Perfumado,
    Uma vida quase de herói de filme... :)

    Gabi,
    É porque quem fala sobre ele o faz com verdade e sentimento, com certeza :)

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  8. Oh... o Abraço traz-nos coisas maravilhosas, a cada um as suas lembranças... =)

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