sábado, 30 de abril de 2011

Muguet

"O muguet é uma flor escondida. É uma flor pequenina e branca e tem um perfume maravilhoso e mais belo do que o perfume dos nardos. Durante o Inverno ela dorme na terra debaixo das folhas secas e desfeitas das árvores. Dorme como se tivesse morrido. Mas na Primavera as suas largas folhas verdes furam a terra e crescem durante alguns dias até terem um palmo de altura. Então muito devagar as folhas vão-se abrindo e mostram à luz maravilhada as campânulas aéreas, brancas e bailarinas da flor do muguet. E o vento da tarde toma em si o perfume do muguet, leva-o consigo, e espalha-o no jardim todo."


Sofia de Mello Breyner Andresen


In “O rapaz de bronze”, 11ºed, Lisboa, Salamandra, 1994, p.9






Tenho saudades do muguet. Aqui no Algarve nunca vou poder sentir o seu perfume. Se eu ainda vivesse em França, amanhã, dia 1 de maio, iria passear ao bosque de Boulogne para colher muguet como quem colhe um ramo de felicidade. Felicidade é o que o muguet simboliza e é com esse significado que é oferecido no dia 1 de maio.

Singing in the rain



Logo pela manhã, acordei ao som da chuva e da algazarra dos pardais. Havia uma música no ar. Fui ver. E "juro"... que era o Gene Kelly a dançar e cantar no beiral.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ma préférence



Porque gosto de recordar velhos temas.

Anti-stress

Tão divertido e relaxante como rebentar as bolhinhas de ar das embalagens protectoras em plástico é espalmar, com os pés, os garrafões de plástico vazios. Esta atividade tem a vantagem adicional de ser amiga do ambiente. Já adivinharam... hoje fui até ao ecoponto.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Sapatos

Estou muito satisfeita. Comprei hoje um par de sapatos e já se sabe, esta é uma compra que deixa qualquer mulher feliz. São uns simples mocassins castanhos. Razinhos. Sim, que eu não sei andar devagar e além disso tenho uma relação de amor e ódio com os sapatos. É que quase todos me magoam os pés. Especialmente os que acho mais bonitos. Saltos altos então... Saem uma ou duas vezes à rua e passam o resto da vida, novinhos em folha, na sapateira.


Eu sei que são lindos os sapatos de salto alto. Eu sei que nós, mulheres, parecemos logo outras quando os calçamos. Mas também sei que nos ficam muito melhor se nos mantivermos paradas. Quando caminhamos, a história é outra. A não ser que se tenha muito treino, equilíbrio e elevada capacidade de sofrimento, a coisa fica frequentemente ridícula.


Ainda hoje, pela manhã, a caminho do trabalho, vi uma mulher que seguia à minha frente no passeio e coitada… como se não bastasse a altura dos saltos ainda tinha que fintar a calçada portuguesa. Sem contar que a forte inclinação do sapato lhe fazia deslizar o pé para a frente, saindo-lhe o calcanhar para fora a cada passo que dava. Resultado: os seus passos receosos e desengonçados nada tinham de elegante. Assim como nada tinham de elegante uns passos iguaizinhos que vi, no verão passado, dados pela estilista Fátima Lopes quando chegava ao concerto da Diana Krall, em Loulé. Coitadinha. A cada passo, ameaçava despenhar-se do alto dos seus vertiginosos sapatos dourados. De que lhe servia a fina silhueta que envergava um delicado macacão preto?


O pior é que os designers de sapatos insistem em aumentar a altura dos saltos. Há uns que parecem verdadeiras andas. E lá vamos nós, fingindo que é muito fácil, fingindo que é como calçar umas luvas. Sim, fingindo. Porque eu não acredito que essas mulheres que calçam sapatos de Pin up ou de Cinderela, Louboutins que sejam, não sofram a bem sofrer. Pois se na minha roda de amigas e colegas, não há uma que não se queixe na hora de comprar sapatos! Digam lá o que disserem (ou não disserem), todas hão de ter uma curvatura do pé demasiado acentuada, ou antes pelo contrário um pé chato. Isso para não falar do joanete. Ou do calo de estimação. E é por isso que eu hoje estou muito satisfeita. Comprei um par de sapatos que não me vai fazer doer os pés.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A escrita do vento




Solta-se a pena do corpo quente da gaivota para que, na areia, o vento possa escrever suas memórias. Mas vento que é vento, já se vê, logo as leva consigo em turbilhão. E fica a pena presa e em descanso, na espera das memórias que outro vento há-de escrever.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cores de abril




Como não tinha cravos no jardim, resolvi brincar com uma caixa de barras de pastel e com o Picnik.

Bom 25 de Abril!

domingo, 24 de abril de 2011

Passeio de Domingo (46)







Fui às traseiras de casa e resolvi armar-me em mirone de insetos...Ok... e continuo a tentar habituar-me à nova ortografia...

sábado, 23 de abril de 2011

Sábado de Aleluia




Quando eu tinha por aí os meus cinco ou seis anos, chegado o Sábado de Aleluia, levantava-me cedinho animada pela excitação de tentar ganhar às minhas primas os “Contratos” da Páscoa que tínhamos selado no início da Quaresma. Estes “Contratos” eram estabelecidos com os dedos mínimos entrelaçados, recitando uma fórmula do género:


“Contratos, Contratos,


Contratos fazemos,


Para não tornar a desmanchar,


Quando por aí ver,


Mandar ajoelhar”


Assim, diariamente, quem primeiro avistasse o outro mandava ajoelhar, conforme o combinado. Mas, no Sábado de Aleluia, em vez de mandar ajoelhar, mandava-se oferecer e quem o fizesse primeiro ganhava o contrato e recebia as amêndoas da Páscoa de quem perdia. Era por isso que na manhã do Sábado de Aleluia me levantava cheia de entusiasmo e ansiedade. Dava-se como que um jogo de esconder em que usávamos as artimanhas possíveis para conseguir ver primeiro o outro e lançar-lhe com o “Oferece” em primeiro lugar.


Para além da fórmula que mandava “ajoelhar”, também havia a opção de mandar “rezar”. Ou então, faziam-se os chamados contratos de Santa Clara e aí a rima mandava que se desse “um beijo na cara”.


Hoje, levantei-me cedo porque afazeres domésticos a isso me obrigaram, mas enquanto me vestia, lembrei-me desta brincadeira dos meus tempos de criança e pensei como era simples e bonita a vida.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Folares

O forno de lenha voltou ontem à vida depois de muitos anos a hibernar. Desde que se foram as mãos que amassavam o pão e os folares cá de casa, ficou para ali guardando cinzas e servindo de abrigo a algumas aranhas que teceram panos de renda para dependurar na sua porta de metal. Mas ontem, voltou a arder e ao longo da manhã o ar foi recebendo os seus aromas. Primeiro o cheiro do fumo da lenha que ruidosamente estalava no seu ventre e por fim o cheiro doce dos folares da Páscoa, aromatizados com anis.

Na véspera veio a sogra que, já sobre a meia-noite, amassou como só as mãos daquela idade sabem amassar. Eu assisti, atentamente, segurando por vezes o alguidar e tentando fixar cada movimento dos seus punhos para, talvez um dia, tentar imitar o seu trabalho. Manhãzinha cedo, já com a massa levedada, foram tendidos os folares. Por fim, cumprida a missão do velho forno de lenha, aqui ficam eles para a “prova”, com votos de Páscoa Feliz.



quinta-feira, 21 de abril de 2011

Águas de abril

Há três dias, já, que acordo ao som das águas de abril. Dizem que são mil. Pois, serão. Algumas chegam com o som do trovão e gritam contra os muros e contra os vidros. Gritam de alegria e despejam-se a cântaros sobre a terra que as acolhe e encaminha para a sua tarefa de dar vida às plantações.


Enrolada nos lençóis, fico à escuta do concerto matinal. Do fortíssimo inicial, sobra às tantas um pianíssimo que se arrasta telhados abaixo. Saio da cama, espreito à janela e vejo que até os pardais do telheiro saltaram para cima do muro da vedação e aproveitam as últimas gotas, que agora caem sobre eles, frouxamente.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Abstrata (3)



Abstrata (2)



Abstrata (1)






Apeteceu-me colocar aqui algumas fotografias que não pretendem retratar nada em especial. Só cores, traços, texturas... abstrações. E quando quis atribuir um título à colecção, comecei a enguiçar com a nova ortografia. Até hoje sempre optei por não pensar nela e escrever como sempre escrevi. Mas agora até já as pesquisas no dicionário em linha me apresentam a palavra com o "antes" e o "depois". Assim: aAO e dAO. Percebi a inevitabilidade desta mudança e percebi que devo estar a entrar numa fase un tanto ou quanto destrambelhada em que provavelmente irei misturar alguns aAO e outros tantos dAO. Para já decidi intitular esta minha série de "Abstrata" em obediência ao dAO. Que me perdoem os puristas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ternura

Com a máquina a tiracolo, fui em busca de ternura para lhe tirar o retrato. Pensava que em qualquer canto me depararia com ela. Procurei-a nos olhares que se cruzam na multidão da cidade. Procurei-a nos casais de namorados sentados no banco do jardim. Procurei-a no gato que apanha sol à janela. E também nas crianças que brincam nos baloiços do parque.

O certo é que a vi. Vi, sim. Mas bastou o tempo de preparar a máquina, de ajustar o zoom, para que, logo, logo, ela se esfumasse e se escondesse de mim. Tal como ela se escondeu entre a mão do Manuel e a mão da Tia Bia.


Mas eu sei que ela está ali, sossegada, aninhada em silêncio no quentinho da pele.



Publicado também para a Fábrica de Letras, cujo tema de Abril é "Ternura".

sábado, 16 de abril de 2011

Palavra

Gosto de ler o que esta Ana escreve. Nenhum dos seus posts me deixa indiferente. Podem suscitar-me admiração, inveja, irritação. É uma escrita viciante. Gosto de a ler quer o conteúdo me agrade ou não. Estou sempre de olho nas suas actualizações para não lhe perder uma palavra. E agora há uma palavra que desconheço e que me deixa em desassossego. No post que ela escreveu no dia 13 de Abril sobre o último romance da Lídia Jorge, a Ana diz que encontrou, escrita no livro, a palavra que, de todo, não suporta. De tal modo que é para ela uma palavra inominável. E agora, como vai ser?


Eu que, tal como ela, gosto de ler Lídia Jorge e que também estou a ler A Noite das Mulheres Cantoras, como é que vou conseguir chegar ao fim daquelas 317 páginas, desconfiando de cada uma das mais inócuas palavras que vou encontrando nelas? Fiquei com a leitura inquieta. Olho para cada página em sobressalto, achando que a qualquer momento uma palavra se vai soltar da linha em que se encontra e me vai gritar “Sou eu”, “Sou eu”. Todas as noites, pego no livro pousado na mesa-de-cabeceira e prossigo a leitura neste desespero, morrendo de curiosidade e olhando para cada palavra de soslaio. É desta que vou ficar com os olhos em bico. Irra.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Bonecos

Está visto que hoje estou completamente virada para a bonecada.

É que já depois de ter publicado os pequenos estrunfes, aí em baixo, passei pelo supermercado e no expositor, junto à caixa, reparei nuns bonecos chamados "Malcheirosos". Lembrei-me que há talvez mais de oito anos o meu filho também teve um desses abomináveis "Malcheirosos". Aparentemente, para os miúdos, a graça do boneco é mesmo o facto de ele cheirar mal. E há uma série deles com cheiros diferentes. Ora atentem nos nomes de alguns: Nestor Couve Flor, Vito Vomito, Edgar Metralha o Ar, Alex Arroto, Bento Rei do Vento....

Fiquei a pensar que são bonecos de sucesso, já que pelos vistos se têm aguentado comercialmente todos estes anos. E pergunto-me como é possível achar-se piada a tais brinquedos. Outros bonecos abomináveis que conheci recentemente são uns chamados "Grita Monstros". O meu sobrinho de cinco anos ganhou um no Natal. São feios e gritam que se fartam quando a criança lhes puxa por algum membro ou retira os olhos... Ahrg....


Talvez alguém especializado em psicologia infantil me possa explicar o sucesso desta bonecada. Entretanto ... que saudades da Barbie e do Ken... e claro dos estrunfinhos azuis.

Estrunfada



Sempre gostei destes bonecos. Parece que está para chegar um filme 3D com os ditos. Estive a ver o trailer só para ficar bem estrunfada e esquecer a crise.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Cegonha





Cegonha sobre projectores - 640x480 px - Olhar misto sobre crepúsculo, 2011

domingo, 10 de abril de 2011

Passeio de Domingo (44)





Hoje, passei a Ribeira do Vascão, afluente do Guadiana, e fui ver as cores do Alentejo.






sábado, 9 de abril de 2011

Jeux interdits



Deparei-me hoje com este clip que me trouxe à memória um filme e uma música que mexeram comigo, em criança. Tenho que recuperar esta fita para voltar a vê-la.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

No trânsito (3)

Enquanto aguardo que o semáforo passe de novo a verde e a fila retome o movimento, um rapaz atravessa a estrada. O meu filho reconhece-o, abre a janela do carro e chama-o para lhe propor boleia para o resto do caminho até à escola. “ Salgadinho…”, chama o meu filho. “Sal…”. E rapidamente o miúdo entra no carro, mesmo a tempo de não prolongar a espera dos carros que pararam atrás de mim. Sigo caminho. Deixo-os à porta da escola. Continuo o meu percurso com o pensamento a recuar até ao tempo em que eu tinha a idade do meu filho. Nessa época, frequentava alguns bailes das sociedades recreativas locais e, sob o olhar vigilante da minha e de outras mães, dançava. Houve uma altura em que dancei com um rapaz que também se chamava Salgadinho. Em 32 anos não me lembro de ter mais alguma vez ouvido este nome.

No trânsito (2)

Travo o carro na fila que se forma às ordens da luz vermelha do semáforo. Olho, em modo automático, pelo retrovisor e avisto o carro que atrás de mim pára também. É um citroen vermelho, novinho em folha. Ao lado do condutor vai sentada uma senhora muito loura. Tem os lábios pintados de encarnado. Combinam com a blusa que traz vestida e com carroçaria do citroen. Olho-me ao espelho. Não me lembrei de vestir o meu fato cinza claro. Paciência. Não há ton sur ton para o meu visual.

No trânsito (1)

Forma-se uma fila no semáforo. Travo o carro e aguardo por uns minutos que o tráfego retome o movimento. Nos passeios os peões apressam-se na manhã, para chegar aos seus destinos. Alguns aproveitam a paragem do trânsito e atravessam a estrada ziguezagueando por entre os carros. Entre eles passa uma cigana. Veste uma roupa garrida e carrega uma trouxa à cabeça. É um volume grande, envolto num pano florido. Ela atravessa a estrada em passo lesto, mantendo, graciosamente, a carga em equilíbrio. Sigo-a com o olhar e, admirando-lhe a postura, endireito rapidamente as costas que sempre se me afrouxam, em desmazelo.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pronúncias

Resido na freguesia de Boliqueime. Por estas bandas, pronuncia-se Boliquême. Hoje recebi correspondência do Continente...uma cartinha com talões de desconto para o mês de Abril. A pessoa que escreveu o endereço deve ser de Lisboa... ou da Linha, praí. A minha carta veio para Bolicaime.

O bolo do Domingo...

Era para ter deixado aqui ontem a receita do bolo de Domingo que mostrei aí no post de baixo e que me foi pedida pela Margarida na caixa de comentários. Mas o tempo pregou-me uma partida e fugiu-me quase sem eu dar por ele. Só que o prometido é devido e por isso aqui fica o relatório da forma como resolvi gastar alguns dos muitos ovos que as galinhas do meu pai andam a pôr por estes dias. Não sei bem como denominar este bolo. É capaz de ser um misto de pão de ló com bolo de laranja…

O certo é que peguei em oito ovos, separei claras de gemas e comecei por bater estas últimas com oito colheres de sopa bem cheias de açúcar, raspa de uma laranja e duas ou três colheres de sopa de manteiga derretida. Juntei o sumo da laranja e bati mais um pouco. Acrescentei a esta massa oito colheres de sopa bem cheias de farinha e uma colher de sobremesa de pó royal. Bati de novo. Por fim juntei as oito claras em castelo. Coloquei no forno em forma rectangular, forrada com papel vegetal untado com manteiga. Depois de cozido retirei-o mas só o desenformei já morno. Finalmente cortei-o em fatias que passei ao de leve por açúcar granulado, antes de arrumar em caixinhas.

Digo caixinhas porque uma delas viajou para Lisboa com a minha filha.

domingo, 3 de abril de 2011

Passeio de Domingo (43)


Cheguei a pensar que hoje não havia passeio. O dia estava cinzentão e decidi ficar de roda do forno, dando um doce destino aos muitos ovos que as doidas das galinhas do meu pai resolveram pôr nos últimos dias. Mas, ao cair da tarde, o sol resolveu dar um arzinho de graça. Então dei ordem de marcha às pernas e lá fui calcorrear as veredas que rasgam a encosta mesmo aqui por detrás de casa. E ainda bem. É que, por muitas vezes que eu faça este percurso, encontro sempre novidades.






sábado, 2 de abril de 2011

Correcção


Há dias atrás trouxe para aqui esta flor que me parecia uma esteva, só que cor-de-rosa. Engano meu. Hoje, encontrando-me a folhear um roteiro natural do concelho de Silves da autoria de António Pena, verifiquei que, na verdade, se trata de uma Roselha-maior ou Cistus albidus.

Procurei mais informação e achei um post de quem sabe mesmo desta coisa da flora e aqui reponho a verdade.

De qualquer forma são flores da mesma família Cistaceae, sendo a esteva a Cistus ladanifer.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A mulher invisível

Costumava vê-la passar com frequência naquela rua. Tinha um andar cadenciado mas decidido. Levava o cabelo escorrido a bater-lhe pelos ombros. Era preto e tinha risco ao meio. Levava as mãos a abanar ao longo do corpo. Não tinha saco, nem mala, nem carteira que lhe pesasse. Vestia sempre umas calças e uma camisola de malha por cima das mamas grandes e pendidas sobre o ventre. Caminhava como quem sabia, com a maior de todas as certezas, o rumo que seguia. Esticava o queixo para a frente, voluntariosa. Mexia por vezes os lábios num diálogo surdo com o vento. Via-a sempre assim, caminhando sozinha, sem fardo. Eu ia de carro, em sentido contrário ao daquela mulher que, vezes sem conta, percorria o passeio da mesma rua. Há várias semanas que não a vejo. Acho que se tornou invisível.