segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Caldo verde


Não compres caldo verde pronto a usar. Não gosto, disse-me. A couve tem de ser cortada à mão. Tiras de couve calibradas, não têm o mesmo sabor, falta-lhes humanidade, falta-lhes arte.

Aqui estou, portanto, com um rolo de folhas verdes bem lavadas, com talos desbastados, bem apertadas umas contra as outras. Seguro-as sobre a tábua branca e a cada corte de faca ouço-lhes os gemidos.  Com toda a arte que me ocorre na ponta dos dedos, volto a apertar o rolo sempre que ele afrouxa. Ajeito-as e volto a cortar. Algumas tiras quase se desfazem de finas, outras abusam da minha falta de jeito para o cálculo da distância entre uma e outra facada. Acabo um rolo e logo formo outro. Uma, duas, três ou quatro folhas, umas sobrepostas às outras e lá as vou eu de novo enrolando. Prossigo o corte até à necessária quantidade. Escaldo as ripas com água fervente. Depois de domadas e devidamente escorridas, seguem obedientes para dentro da panela. Não compro caldo verde pronto a usar. Finjo-me de artista.

15 comentários:

  1. Pois eu, que não tenho paciência para essas actividades artísticas, compro as folhas de couve, para caldo-verde, já cortadinhas, lavadas e embaladas. A minha veia artística não vai além de as ouvir gemer sob a água fervente e após bem domadas, entram moribundas para dentro da panela, onde a batata também não necessitou de malabarismos com o uso da faca. Uso puré de batata em pacote...:)

    Beijos e boa semana,Luísa!

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  2. Eu, como tenho as couves na horta, é só apanhar e com aquele carinho que sabemos, cortá-las na maquineta... Também gemem, looool Adoro caldo verde.


    Beijinhos
    Boa noite!

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  3. Cozinhar é uma arte! E, como todas as artes, se realizadas com amor, permanecem encantando e saboreando...
    Abraço.

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  4. Também não compro; mas acho que é porque nunca faço caldo verde:). Uso esse jogo de corte com o feijão verde, mas como não pertenço ao número dos perfeccionistas, sai como sai. Quem não goste, pode sempre tomar o meu lugar na cozinha.

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  5. Basta juntar água não é a minha ideia para um bom caldo verde.
    Sim, sou bota de elástico.

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  6. Faz muito bem Luísa e a arte treina-se também.
    ~CC~

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  7. Adoro. Mas prefiro comprar a couve já preparada :))

    Hoje: - Magia sem sumo
    .
    Bjos

    Votos de boa Terça-Feira

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  8. Como gosto de caldo verde mesmo com couve desalinhavada.

    Beijo

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  9. A Luisa realmente escreve bem. É uma espécie de mestre da arte do parágrafo.

    Confesso que também migo eu próprio as folhas do caldo verde e é de facto uma operação cheia de minúcia, que nos ocupa o espírito completamente.

    Cozinhar é uma arte de agradar e demonstrar o nosso apreço ou amor pelos outros. Portanto, migar o caldo verde à mão para fazer uma boa sopa é mais ou menos a mesma coisa do que nos perfumarmos antes de receber alguém em casa.

    Bjos

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  10. GM,
    Perícia, nem tanto. Treino, talvez. :)

    Janita,
    Eu também sou adepta de soluções rápidas e práticas, mas com caldo verde não dá. Era reclamação, na certa. :)

    Cidália,
    As minhas couves são também da horta, mas não tenho maquineta. :)

    Célia,
    É uma arte sim, para quem a tem. Eu só finjo. :)

    Bea,
    Sopa de feijão verde é que não faço há muito tempo. Também deve servir para testar a “arte”. :)

    Pedro,
    De facto. Um caldo verde tem que apurar… :)

    CC,
    Exato. É uma questão de treino. O pior é quando entra em cena a preguiça, coisa que me acontece com alguma frequência. :)

    Larissa,
    É meio caminho andado. :)

    Pérola,
    Desalinhavado é muito bom. :))

    Gracinha,
    E outro valor… :)

    LuisY,

    Oh... muito obrigada.
    Gostei da sua associação do cozinhar com a ideia do amor. :)

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  11. Caldo verde, sempre com a couve migada à mão. É dos livros :-)

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  12. nem fã nem fanático do caldo verde...

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