sábado, 17 de fevereiro de 2018

Cornélia


A secção da charcutaria estava hoje com grande demora. A quase vinte senhas de distância, desloquei-me para a secção do talho, onde, muito satisfeita, tirei a senha com número a apenas a dois de distância do atendimento. Entretanto, o homem que fazia o pedido era com certeza dono de uma grande arca congeladora. Isso pensava eu enquanto via o rapaz do talho preparar-lhe meia dúzia de sacos, cada um com dois frangos cortados em metades. E via, de seguida, arranjar dois ou três sacos com duas tiras de entrecosto, em cada um. E depois também cortou dois ou três quilos de costeletas de porco. O homem ainda falou nas salsichas, mas como não havia mais do que as que estavam expostas – talvez um quilo – parecendo-lhe pouco, desistiu. No écran avisador, a secção da charcutaria continuava com demora e isso facilitava a espera no talho.  Aviado o homem da arca congeladora e com mais um talhante em funções, as duas senhas antes da minha safaram-se dali num ápice. Eu também. Na charcutaria, as senhas continuavam lentas. Ocupei-me com as cenouras, o pimento, as papaias, as peras e as bananas. O pão ajudou também. Ainda assim, sobrava espera. À falta de mais artigos necessários para colocar no carrinho, entretive-me observando a rapariga das pestanas postiças. Das muitas coisas postiças que agora se usam, verifico que há uma forte tendência para pestanas postiças. Algumas, como as da rapariga que esperava pela vez na charcutaria, são exageradamente postiças. São enormes, muito enroladas, tal e qual as da vaca Cornélia. Entretanto chegou a minha vez, a empregada solitária fatiou-me o peito de peru e fui para a caixa enquanto a rapariga das pestanas postiças, que não é do tempo da vaca Cornélia, continuou na fila de espera, imune às minhas comparações.

11 comentários:

  1. :) Isso das pestanas postiças faz-me alguma confusão desde que vi uma miúda no ginásio com umas super farfalhudas. Será que aquilo não se descola com a transpiração? Como é que elas lavam e secam os olhos para tirar a remela? Como é que tiram a maquilhagem sem as arrancar? Olha, dúvidas, só dúvidas :))

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  2. Isto das idas às compras, se atentarmos bem em tudo que nos rodeia, dá sempre óptimos textos. Contigo, resulta! :)
    As pestanas da Cornélia eram proporcionais ao tamanho dos olhos. E que olhos ela tinha. :))

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  3. Entre as pestanas e as unhas, não sei quem sairá vencedor, Luísa :-)
    Bom FdS.

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  4. Não consigo precisar onde, mas também há dias tive sensação semelhante ao dar com a artificialidade de umas pestanas. Talvez por ser contemporânea da Cornélia. Ou talvez, antigamente, o artifício fosse de outra natureza. Tentava parecer natural. Por vezes, falta essa dimensão. Ou estaremos apenas a ser jarretas.

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  5. bela crónica!
    só tu Luisa para te lembrares da vaquinha Cornelia, na fila do talho e junto à bancada da charcutaria :)
    abraço, bom domingo
    Angela

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  6. Está maravilhoso.....
    Uma bela descrição do tempo passado no Supermercado que até dá tempo para o pormenor das pestanas postiças ...:))
    Um Bom Domingo


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  7. Uma boa observação. A mim faz-me confusão como podem usar aquelas pestanas tão grandes e tão horrorosamente artificiais.
    Um abraço e bom domingo

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  8. GM,
    Estas assim, exageradamente farfalhudas e enroladas fazem-me também muita confusão. No entanto já vi umas com ar bastante natural. Embora ache que nem essas seria capaz de colocar. :)

    Janita,
    As idas ao supermercado são, por vezes, verdadeiras aventuras… :)

    Carlos,
    De facto… Há unhas absolutamente assustadoras.:))

    Bea,
    Jarretas, não… :)) A questão está na qualidade do postiço.

    Larissa,
    Obrigada. A Cornélia marcou a televisão dos anos 70.

    Ângela,
    Quem visse aquelas pestanas e fosse contemporânea da Cornélia, lembrar-se-ia seguramente. :)

    Cidália,
    Obrigada!

    Meu Velho Baú,
    A espera foi longa, alguma coisa teria de me atrair a atenção. :)

    Elvira,
    São verdadeiramente um exagero… :)

    flor,
    Tão bom receber o teu sorriso aqui… :)

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