Receita para fazer o azul
Se quiseres fazer
azul,
pega num pedaço de céu
e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao
lume do horizonte;
depois mexe o azul com
um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio
bem limpo,
para que nada reste
das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um
resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a
cor pegue ao fundo do metal.
Se quiseres, para que
as cores se não desprendam
com o tempo, deita no
líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se,
sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o
negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada.
Podes, então, levantar a cor
até à altura dos
olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te
parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir
entre uma e outra.
Assim o fiz – eu,
Abraão bem Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé –
e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o
céu.
Nuno Júdice
In Meditação sobre ruínas,
1995
Interessante esta receita azul!
ResponderEliminarBom fim de semana Luísa.
Beijinho
Se a foto foi feita seguindo a receita...é uma tentação copiá-la:).
ResponderEliminarAdoro o teu azul de um mar que sempre me encanta.
ResponderEliminarO poema é lindo.
Bom fim de semana
Beijinhos Luisa
Muito bonito! O Júdice (assim o chamava o Prof. Lindley Cintra na Faculdade nos idos de 60) muitas vezes excede-se e... faz azul. O azul do teu/nosso Algarve.
ResponderEliminarBeijinhos azuis.
ResponderEliminardurante quase todo o ano, Portugal é o pais azul
texto bonito Luisa
Tão lindo, Luisa! não sou grande fã de azul, mas com uma receita tão bonita, fiquei com um bocadinho mais de carinho por ele... =)
ResponderEliminarLindo o texto, perfeito a cor azul.
ResponderEliminarMagnífico o azul deste(a) quadro(foto), que imagino de autoria da Luisa, a fazer sustentado jus ao magnífico texto de Nuno Júdice.
ResponderEliminarDupla obra d'Arte!
Parabéns