quarta-feira, 20 de abril de 2016

Da palavra, do silêncio, do desejo e do vento


A fábula do vento

O que eu te quero contar não foi dito nem está escrito na pele de nenhuma página. Ou foi dito e escrito milhares de vezes e milhares de vezes apagado pela própria palavra. Sem visão, no vão do esquecimento, tento iniciar uma fábula do vento até à ondulação, até à transparência. Tenho na boca o sabor de um canto que é já o canto de um sabor aéreo. O meu desejo procura construir cálices incendiados, sílabas amorosas, hieróglifos de água e fogo. Não estou no centro mas na orla da distância, na frescura da soberana inteligência do mar. Reconheço agora todas as qualidades do silêncio, da brancura e da luz e da sua móvel mas permanente equivalência. A interrogação mais pura levanta-se e resolve-se em mil ondas interessantes, nas volutas vertiginosas do vento.

António Ramos Rosa

In Clareiras, 1986

9 comentários:

  1. Não poderias ter escolhido melhor foto para ilustrar este belo escrito do Grande Poeta que foi ARR.
    Ainda que tenha acontecido o contrário, arranjaste um casamento perfeito.
    Um beijo, Luísa! :)

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  2. Uma postagem muito bela.
    Na palavra e na imagem.

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  3. A voz-off de António Ramos Rosa sobre esta clareira no mar. Muito belo, luisa.

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  4. Este Homem tem palavras inesgotáveis

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  5. ~~~
    Sublime!

    Uma homenagem de muito bom gosto

    ao génio talentoso do Poeta algarvio.
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  6. belíssimas palavras, onde dá gosto voar...

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  7. Uma excelente escolha para esta belíssima foto.

    Beijinho Luísa e um bom fim de semana.

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  8. Estava aqui a remoer porque é que nunca tinha lido nada deste autor, até que dei uma saltada à wiki. Pronto,é verdade,poesia não é o meu forte, mas gostei desta citação em sintonia com a imagem...

    Beijocas

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