A fábula do vento
O que eu te quero contar não foi dito nem está escrito na
pele de nenhuma página. Ou foi dito e escrito milhares de vezes e milhares de
vezes apagado pela própria palavra. Sem visão, no vão do esquecimento, tento
iniciar uma fábula do vento até à ondulação, até à transparência. Tenho na boca
o sabor de um canto que é já o canto de um sabor aéreo. O meu desejo procura
construir cálices incendiados, sílabas amorosas, hieróglifos de água e fogo. Não
estou no centro mas na orla da distância, na frescura da soberana inteligência
do mar. Reconheço agora todas as qualidades do silêncio, da brancura e da luz e
da sua móvel mas permanente equivalência. A interrogação mais pura levanta-se e
resolve-se em mil ondas interessantes, nas volutas vertiginosas do vento.
António Ramos Rosa
In Clareiras, 1986
Não poderias ter escolhido melhor foto para ilustrar este belo escrito do Grande Poeta que foi ARR.
ResponderEliminarAinda que tenha acontecido o contrário, arranjaste um casamento perfeito.
Um beijo, Luísa! :)
Uma postagem muito bela.
ResponderEliminarNa palavra e na imagem.
A voz-off de António Ramos Rosa sobre esta clareira no mar. Muito belo, luisa.
ResponderEliminarRamos Rosa
ResponderEliminarnos mastros mais altos
Este Homem tem palavras inesgotáveis
ResponderEliminar~~~
ResponderEliminarSublime!
Uma homenagem de muito bom gosto
ao génio talentoso do Poeta algarvio.
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belíssimas palavras, onde dá gosto voar...
ResponderEliminarUma excelente escolha para esta belíssima foto.
ResponderEliminarBeijinho Luísa e um bom fim de semana.
Estava aqui a remoer porque é que nunca tinha lido nada deste autor, até que dei uma saltada à wiki. Pronto,é verdade,poesia não é o meu forte, mas gostei desta citação em sintonia com a imagem...
ResponderEliminarBeijocas