quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O florista

Fui à florista da praça comprar algumas flores com a intenção de preparar um pequeno arranjo para a campa da minha mãe. A azáfama era grande. Bastante clientela, coroas e palmas a fazer e as floristas sem mãos a medir.

Junto às mulheres que se atarefavam, estava também um homem que se disponibilizou para me atender. Escolhi um molho de margaridas, cinco gerberas e cinco pés de verdura. Entreguei-lhe tudo para que embrulhasse e fizesse a conta.

Começou por colocar os fios de arame nas gerberas. Via-se que os seus dedos não tinham muita habilidade para a coisa. Quando terminou de colocar os arames juntou tudo e começou a atar os pés das flores com um fio. Ao levantar o ramo percebeu que tinha atado também outras flores que se encontravam sobre a mesa mas que não me pertenciam. Desfez o atilho e recomeçou. Pelos vistos os arames das gerberas estavam frouxos, porque voltou a contorcê-los um a um.

Por essa altura comecei a ficar com calor. Havia bem uns dez minutos que a cena se desenrolava e comecei a sentir falta de uma pequena dose de paciência. Respirei fundo, olhei para o lado e esperei. O homem embrulhou os pés das flores num pedaço de papel de alumínio e entregou-me o molho enquanto eu lhe estendia uma nota para pagar. 

Mal agarrei no ramo, soltou-se uma gerbera do atilho que nada atava. Com os nervos em franja devolvi as flores a uma das mulheres que se viu obrigada a interromper o trabalho que fazia para resolver o meu caso. E resolveu-o num instante, no tempo que o florista necessitou para me fazer o troco.

domingo, 27 de outubro de 2013

Passeio de domingo (169)


No domingo em que entramos na hora de inverno e em que preciso de deixar o passeio agendado, fica aqui o testemunho da minha ida até à praia quando, há uma semana atrás, se desmontava o verão.







sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Tous les moulins de mon coeur

Apetece-me ficar a ouvir, repetidamente, este tema magnífico de que me lembrei hoje.


Comme une pierre que l'on jette dans l'eau vive d'un ruisseau
Et qui laisse derrière elle des milliers de ronds dans l'eau
Comme un manège de lune avec ses chevaux d'étoiles
Comme un anneau de Saturne, un ballon de carnaval,
Comme le chemin de ronde que font sans cesse les heures
Le voyage autour du monde d'un tournesol dans sa fleur
Tu fais tourner de ton nom tous les moulins de mon coeur

Comme un écheveau de laine entre les mains d'un enfant
Ou les mots d'une rengaine pris dans les harpes du vent
Comme un tourbillon de neige, comme un vol de goélands,
Sur des forêts de Norvège, sur des moutons d'océan,
Comme le chemin de ronde que font sans cesse les heures
Le voyage autour du monde d'un tournesol dans sa fleur
Tu fais tourner de ton nom tous les moulins de mon coeur

Ce jour-là près de la source Dieu sait ce que tu m'as dit
Mais l'été finit sa course, l'oiseau tomba de son nid
Et voilà que sur le sable nos pas s'effacent déjà
Et je suis seul à la table qui résonne sous mes doigts
Comme un tambourin qui pleure sous les gouttes de la pluie
Comme les chansons qui meurent aussitôt qu'on les oublie
Et les feuilles de l'automne rencontrent des ciels moins bleus
Et ton absence leur donne la couleur de tes cheveux

Comme une pierre que l'on jette dans l'eau vive d'un ruisseau
Et qui laisse derrière elle des milliers de ronds dans l'eau
Aux vents des quatre saisons, tu fais tourner de ton nom
Tous les moulins de mon coeur

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Poema do mar


O pescador poeta escreve, em cada dia, um poema que brilha ao largo como as águas de prata em que navega.  

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Doce

Na aldeia, não havia quem não gostasse do Jerónimo. Todos eram unânimes em afirmar que o Jerónimo era um doce de pessoa. Estava sempre pronto para ajudar os vizinhos e só se lhe conheciam boas ações. 

Qualquer forasteiro que ali chegasse e precisasse de alguma orientação sobre o caminho a tomar para o seu destino encontraria no Jerónimo a pessoa mais disponível para prestar a informação necessária. 

As crianças que frequentavam a escola situada perto de sua casa gostavam tanto dele que obrigavam os pais a passar à sua porta para poderem ouvir uma das histórias que sempre tinha para lhes contar e chupar um dos rebuçados que sempre tinha para lhes distribuir. 

Era divertido com os jovens e atento aos mais idosos. Ninguém duvidava, o Jerónimo era o doce em pessoa.

No dia em que a carrinha do serviço de saúde passou pela aldeia para o rastreio, o Jerónimo foi fazer as suas análises. Quando lhe deram os resultados ficou a saber que era diabético.

domingo, 20 de outubro de 2013

Passeio de domingo (168)


Entre Algarve e Alentejo, um passeio com muita estrada e algumas compras comestíveis na feira de Castro Verde.







sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vazia

Uma vez e outra escrevo uma palavra que logo apago. A ideia que tento fixar evapora-se no silêncio da noite que não é silêncio. O silêncio não existe. Não ouvisse eu os sons à minha volta e estaria condenada a ouvir dos sons dentro de mim. Mas cá fora nem mesmo a palavra que escrevo consegue qualquer ressonância. Está vazia. Vazia de mim.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Objetos com expressão

Quem passa por aqui há mais tempo saberá que me divirto com as “vidas secretas dos objetos” atribuindo-lhes “intenções e emoções”. Por isso, não se admirará de eu ter ficado encantada ao ver aqui esta série de objetos que parecem mesmo ter expressão e vida própria e cujas imagens circulam na internet. 


domingo, 13 de outubro de 2013

Passeio de domingo (167)


Entre Alvor e Praia da Rocha, num dia que começou em tons de cinza mas acabou luminoso e segurando restos de verão.







quinta-feira, 10 de outubro de 2013

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Pequeno desvio

Naquele dia tinha programado uma ida ao shopping. Precisava de fazer umas compras ou pelo menos de ver montras e inspirar-me para as fazer. De caminho, fiz um pequeno desvio. Fui ver o mar, as encostas, as rochas, as árvores, os pássaros. Acabei por perder a noção do tempo e embasbaquei com a máquina fotográfica disparando a torto e a direito. Perdi-me do caminho das compras e acabei não pondo o pé no centro comercial. Numa das etapas do meu pequeno desvio encantei-me com este passarinho. Já estive a consultar o meu guia de aves e, completando a pesquisa com umas perguntas ao Google, creio ter fotografado uma felosa-musical. Não tenho a certeza porque isto de identificar aves tem mais que se lhe diga. Quem melhor souber que me elucide. As compras, essas, continuam a esperar por mim.


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A vida secreta dos objetos: o quadro das sardinhas

Meninas, atenção meninas… Ponham-se em ordem. Virem-se para a câmara fotográfica. Vá lá… não veem que ela só está à espera que se posicionem corretamente? Endireitem-se, sorriam, digam cheese!

Vocês as duas, aí no lado direito, parem de conversar e coloquem-se de uma vez por todas a jeito para a fotografia. Olhem que eu não quero ficar mal visto nessa tal de internet. Ah pois é! É que desde que uma certa Graça Sampaio publicou no seu picosderoseirabrava uma quantidade de sardinhas de Lisboa, ela não descansou enquanto não veio até cá acima para nos tirar o retrato e nos mostrar ao mundo.

Eu sei que essas tais ilustrações de sardinhas são muito apreciadas. E parece que a tal Graça até mostrou um fantástico vídeo das ditas. Ora bem, nós também viemos viver para Lisboa mas temos orgulho da nossa origem algarvia. É ou não é assim suas sardinhas marafadas? Tanto as meninas de crochet como as meninas de recorte nasceram de mãos do sul. 

Sou um quadro de sardinhas made in Algarve e também tenho o meu valor, ora essa!  É um valor sentimental, claro, mas não é isso que mais conta? O que seria da vida dos objetos se não fosse o sentimento. Só se safavam os objetos ricos. Eu, na minha simplicidade não deixo de fazer feliz a minha proprietária. Aqueles objetos muito caros, de nariz empinado, que se pavoneiam por aí não são mais do que eu. Ah pois não!


Vá meninas! Não se distraiam, sorriam e mostrem ao mundo como fazemos um conjunto jeitoso.