O velho Sebastião sentava-se todos os dias numa cadeira de
pau que tinha encostada à parede exterior da casa, junto à porta de entrada. Ficava
ali observando a rua e quem por lá passava. Por vezes um ou outro vizinho parava
junto dele e trocavam dois dedos de conversa. Depois seguiam caminho e ele
mantinha-se ali, sentado, pensando na vida e lembrando-se do passado.
Havia
assuntos de que ele não queria recordar-se mas que sistematicamente lhe vinham
à memória. Abanava a cabeça tentando afugentar recordações que o embaraçavam, sabendo
que já não poderia redimir-se junto de quem tanto havia prejudicado. Incomodado, acabava por se levantar de repente,
recolhia a cadeira para dentro de casa e, ao olhar para o chão, via sempre um
pequeno monte de detritos de uma cor que variava de dia para dia.
Intrigado e
sem saber de onde surgia aquela espécie de serradura ia buscar uma vassoura e uma
pá para a remover. O mais bizarro era que mal deitava fora aquela poeira
desconhecida, o velho Sebastião esquecia-se do caso e só voltava a ficar preocupado
com o estranho acontecimento no dia seguinte, quando encontrava nova serradura
junto à cadeira onde passava os dias sentado, pensando no que tinha feito da
vida.
Com o tempo começou a perceber que o volume de detritos acumulados
diariamente junto à sua cadeira era tanto maior quanto mais se lembrava de uma
injustiça que cometera na juventude. O velho Sebastião percebeu finalmente a
razão do fenómeno. O facto é que, por não ter reconhecido a sua culpa quando devia,
lhe roía agora a consciência. Roía-lhe de tal forma que se desfazia aos poucos
aos pés da cadeira de pau onde se sentava todos os dias.
Que bom seria que assim acontecesse com toda a gente...
ResponderEliminarConcordo com a Gracinha! : )
ResponderEliminarPena que haja gente que nem sequer se começa a roer...
ResponderEliminarAdorei o texto!
Que texto tão bom...
ResponderEliminarUma construção mal feita acaba sempre por dar de si...
ResponderEliminarMuito bem, Luísa, tem que escrever mais neste registo.
Beijo :)
Mito bom.
ResponderEliminarAdorei o texto.
Bom Fim de semana
Excelente, Luisa ! ... o peso da consciência manifesta-se em múltiplos aspectos ! ...
ResponderEliminarMuito bom ! :))
Bj.
.
pois, há coisas que por mais que procuremos esquecer nos vão roendo o espírito
ResponderEliminarAdorei o texto... refletindo contigo em final de domingo e sentindo foto de suas fotos do passeio. Um abraço!
ResponderEliminarTodos temos os nossos arrependimentos, ter consciência disso já é um grande passo. Há por aí muito boa gente a pensar que é perfeita, isso sim é triste...
ResponderEliminarBeijinhos e boa semana:)
Entre uma cadeira de pau e um banco da Madeira... há quem não note a diferença.
ResponderEliminarFalta de memória?
:(