segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Fotografias


Pego no velho álbum mais uma vez e enquanto o folheio fazendo desfilar sob os meus olhos tempos que me antecederam e tempos da minha infância penso, como sempre faço, quando o folheio, que mais dia, menos dia tenho que lhe dar um jeito. Está em muito mau estado este álbum. Algumas folhas já se soltaram das argolas, muitos dos finos separadores de papel transparente apresentam rasgões, inúmeras fotografias descolaram dos seus lugares. Isto,  sem contar que sua lógica está pelas ruas da amargura. Sem ordem cronológica nem temática que lhe confira um fio condutor, o velho álbum mistura anarquicamente vidas e histórias sem se preocupar com o seu sentido ou com questões de estética.
 
Tem a coleção de fotografias das crianças da família, a preto e branco, tiradas no fotógrafo oficial. Tem as fotografias da mãe com as raparigas do seu tempo. Tem as fotografias do pai, na tropa. Tem os casamentos das tias mais novas nos anos sessenta e das primas mais velhas nos anos 70. Tem as fotografias do jardim-escola. Tem as fotografias da emigração. Tem as fotografias das férias em Portugal. Tem fotografias mal tiradas. Tem fotografias com cores desbotadas. Tem fotografias à mesa com as pessoas em sistemática pose de brinde. Tem fotografias em casas com paredes forradas a papel com motivos florais. Tem fotografias com mesas cobertas por toalhas de plástico. Tem fotografias junto a velhas telefonias de fazer inveja a colecionadores de hoje em dia. Tem fotografias a brincar na neve. Tem fotografias com a mãe vestida com um dos modelos que costurava às dezenas para ganhar a vida. Tem fotografias de formato mini 4 x 4 cm que costumavam acompanhar a foto de formato normal como duplicados. Tem fotografias de um desfile anual com carros alegóricos. Uma até está colada de cabeça para baixo. 

Coitado do velho álbum… Até tem a fotografia de um desconhecido. É o vendedor da primeira máquina fotográfica que o meu pai comprou e serviu para a estrear, logo ali na loja. E é assim que o velho álbum guarda, até hoje, no seu interior, a fotografia de um homem sorridente, vestindo camisola de gola alta e com penteado do tipo lambidela de vaca, tendo por cenário o expositor das caixinhas de rolos fotográficos.

9 comentários:

  1. Quem me dera poder espreitar esse velho álbum de família! Adoro ver fotografias antigas. Hás-de mostrar-nos algumas, um dia, eu sei!

    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  2. Gosto de muito de (re)ver álbuns, mas cada dia que passa parece que me sinto mais distanciado da realidade que eles reflectem. Efeitos do digital?

    ResponderEliminar
  3. Parece um album que daria para inspirar muitos livros...

    ResponderEliminar
  4. Ao contrário do Carlos, não gosto nada de rever álbuns de fotografias.
    Bem pelo contrário, chateia-me imenso :(

    ResponderEliminar
  5. Luísa, gostei tanto da história deste álbum!

    Tenho um lá em casa, velhinho, mas bem estimado que congrega os jogos de futebol dos primos, os casamentos de família, as idas ao mercado e à feira anual, os dias na praia em que se deslocavam na burra e as vindimas... e a minha mãe ao lado dum PBX :)

    ResponderEliminar
  6. E a vida é feita de recordações. Quando são registadas é uma preciosidade.

    Beijinho

    ResponderEliminar
  7. Não deixa de ser um album com muitas Histórias.
    Há dias organizei um dos meus pais e familiares muito antigos, chorei e ri.
    Beijinho

    ResponderEliminar


  8. Há sempre uns álbuns desorganizados em todas as casas/vidas. O melhor é não tentar dar sequência cronológica às fotografias. É que assim, como quem não quer a coisa, vamos tendo capacidade de nos surpreendermos... com o tempo e a falta dele :)

    Gostei da 'confusão'!

    Beijo

    Laura

    ResponderEliminar
  9. Eu gosto de álbuns de fotografias...são como uma ponte para os momentos que já se foram. O seu deve ser bem interessante. UM abraço!

    ResponderEliminar