Pego no velho álbum mais uma vez e enquanto o folheio fazendo
desfilar sob os meus olhos tempos que me antecederam e tempos da minha infância
penso, como sempre faço, quando o folheio, que mais dia, menos dia tenho que
lhe dar um jeito. Está em muito mau estado este álbum. Algumas folhas já se
soltaram das argolas, muitos dos finos separadores de papel transparente
apresentam rasgões, inúmeras fotografias descolaram dos seus lugares. Isto, sem contar que sua lógica está pelas ruas da amargura.
Sem ordem cronológica nem temática que lhe confira um fio condutor, o velho álbum
mistura anarquicamente vidas e histórias sem se preocupar com o seu sentido ou
com questões de estética.
Tem a coleção de fotografias das crianças da família, a
preto e branco, tiradas no fotógrafo oficial. Tem as fotografias da mãe com as
raparigas do seu tempo. Tem as fotografias do pai, na tropa. Tem os casamentos
das tias mais novas nos anos sessenta e das primas mais velhas nos anos 70. Tem
as fotografias do jardim-escola. Tem as fotografias da emigração. Tem as
fotografias das férias em Portugal. Tem fotografias mal tiradas. Tem fotografias
com cores desbotadas. Tem fotografias à mesa com as pessoas em sistemática pose
de brinde. Tem fotografias em casas com paredes forradas a papel com motivos
florais. Tem fotografias com mesas cobertas por toalhas de plástico. Tem
fotografias junto a velhas telefonias de fazer inveja a colecionadores de hoje
em dia. Tem fotografias a brincar na neve. Tem fotografias com a mãe vestida
com um dos modelos que costurava às dezenas para ganhar a vida. Tem fotografias
de formato mini 4 x 4 cm que costumavam acompanhar a foto de formato normal
como duplicados. Tem fotografias de um desfile anual com carros alegóricos. Uma
até está colada de cabeça para baixo.
Coitado do velho álbum… Até tem a fotografia de um desconhecido. É o vendedor da primeira máquina fotográfica que o meu
pai comprou e serviu para a estrear, logo ali na loja. E é assim que o velho álbum
guarda, até hoje, no seu interior, a fotografia de um homem sorridente,
vestindo camisola de gola alta e com penteado do tipo lambidela de vaca, tendo por
cenário o expositor das caixinhas de rolos fotográficos.
Quem me dera poder espreitar esse velho álbum de família! Adoro ver fotografias antigas. Hás-de mostrar-nos algumas, um dia, eu sei!
ResponderEliminarBeijinhos.
Gosto de muito de (re)ver álbuns, mas cada dia que passa parece que me sinto mais distanciado da realidade que eles reflectem. Efeitos do digital?
ResponderEliminarParece um album que daria para inspirar muitos livros...
ResponderEliminarAo contrário do Carlos, não gosto nada de rever álbuns de fotografias.
ResponderEliminarBem pelo contrário, chateia-me imenso :(
Luísa, gostei tanto da história deste álbum!
ResponderEliminarTenho um lá em casa, velhinho, mas bem estimado que congrega os jogos de futebol dos primos, os casamentos de família, as idas ao mercado e à feira anual, os dias na praia em que se deslocavam na burra e as vindimas... e a minha mãe ao lado dum PBX :)
E a vida é feita de recordações. Quando são registadas é uma preciosidade.
ResponderEliminarBeijinho
Não deixa de ser um album com muitas Histórias.
ResponderEliminarHá dias organizei um dos meus pais e familiares muito antigos, chorei e ri.
Beijinho
ResponderEliminarHá sempre uns álbuns desorganizados em todas as casas/vidas. O melhor é não tentar dar sequência cronológica às fotografias. É que assim, como quem não quer a coisa, vamos tendo capacidade de nos surpreendermos... com o tempo e a falta dele :)
Gostei da 'confusão'!
Beijo
Laura
Eu gosto de álbuns de fotografias...são como uma ponte para os momentos que já se foram. O seu deve ser bem interessante. UM abraço!
ResponderEliminar