Ainda não foi desta.
Mais uma vez a senhora das limpezas esfregou-nos suavemente com o pano macio e colocou-nos de forma segura em cima do móvel. Como sempre ficámos a uma razoável distância da quina da estante e nem que soprasse a maior corrente de ar pela porta da varanda entreaberta isso seria suficiente para nos arrastar até ao abismo e facilitar uma queda tão acidental como ansiada.
Ansiada sim! Este desejo suicida de transformação em cacos está a tornar-se numa verdadeira obsessão. É que não dá mais para aguentar esta vida.
Ma onde é que o malvado do ceramista tinha a cabeça quando decidiu criar-nos nesta dolorosa posição??? Conseguem, por acaso, imaginar o que é passar vinte anos, já, de uma vida estática, fazendo a espargata? Ainda por cima tocando com a testa nos joelhos?
Isto parece muito fácil, não é? Bailarinos … e tal. É só elasticidade. Pois é. Mas dói… oh se dói! Então não nos podia ter torneado de pé, fazendo um arabesco… sei lá… Ao menos sempre olhávamos à nossa volta. Que inveja chegamos a ter daquelas bailarinas de plástico, montadas num mecanismo musical, que rodopiam suavemente quando lhe abrem a tampa do guarda-jóias! Essas sim têm uma vida boa. Ora dançam, ora descansam. Mas nós, não. Estamos condenados a manter esta posição de esforço até à eternidade… ou, se “Deus quiser” e o Diabo andar por perto, até ao próximo dia de limpezas…
De facto, nesta posição é fácil ter instintos suicídas.
ResponderEliminarAinda bem que não consigo pôr-me assim, seria difícil levantar-me e lá ficaria à espera... de me limparem o pó lol
ResponderEliminarBjos
Tenho um parecido!
ResponderEliminarSempre gostosas estas "histórias de vida"
:))