quinta-feira, 16 de setembro de 2010

As amêndoas


Debaixo do alpendre despejávamos as sacas de amêndoas e, em volta desse monte de amêndoas, acomodávamo-nos em baixas cadeiras de atabua. Cada uma de nós ia tirando mãos cheias de amêndoas para o colo, protegido por um avental ou alguma saia velha. Com uma faca pequena descascávamos os frutos atirando as cascas para um monte e as amêndoas para largas alcofas de empreita, de onde seriam de novo transferidas para as sacas, prontas para a venda. Algumas amêndoas, já estavam demasiado secas e com a casca muito agarrada. Essas haviam de se pôr de molho, em baldes de água, para lhes amolecer a casca e concluir então a tarefa.

Éramos mais mulheres que homens: as tias, as primas, as mães, as filhas, as avós. Velhas, novas, crianças até. Às vezes os tios. E as conversas cruzavam-se no ar com as trajectórias das amêndoas atiradas para as alcofas. As ajudadas na descasca aconteciam ora no alpendre da casa da tia ora na cabana da casa da mãe. Ficávamos com as mãos sujas de pó e pegajosas da resina que sobrava das cascas.



Há quantos anos, já, que não descasco amêndoas…?


9 comentários:

  1. Rapariga... se não acerto no euromilhões, como queres que eu adivinhe uma coisa dessas?

    Agora fico curiosa... ;)

    Bjos

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  2. Isa,
    lol...pois há para cima de muitos...

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  3. Luisa,
    Tenho em casa um saco cheio delas, que um amigo algarvio me deu. A verdade é que não sei como se descascam..., alguma sugestão?
    :)))
    Beijinho

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  4. Pois eu lembro-me de as descascar na varanda, nas noites quentes de Agosto, à luz do luar auxiliada pela de uma lanterna alimentada a petróleo. Ou seria à luz da lanterna auxiliada pela luz do luar?
    Sim, porque foi há tantos anos que lá na aldeia ainda não tinhamos luz electrica!
    Rog

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  5. Tambem descasquei amêndoas muitas vezes, mas já lá vão vários anos. Gostei de recordar os pormenores do seu relato, mas lembro-me de um de que não falou. Na minha zona começava-se a apanhar as amêndoas bastante cedo e às vezes, a casca ainda estava meio verde, então, colocavam-se as amêndoas num monte e com um pau batia-se até a casca rachar ou mesmo saltar. Era um trabalho feito na horas de mais calor ou à noitinha, com muita conversa à mistura.

    Cpms,
    J. Costa

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  6. ariel,
    Suponho que as amêndoas que lhe foram oferecidas já não têm a casca de que falo neste post. Esta é a casca exterior que na foto aqui publicada aparece com uma cor cinza(já está bastante seca) e quase a desgarrar-se da amêndoa. As suas devem apenas necessitar de ser partidas para delas retirar o miolo. Pode fazer isso com um quebra-nozes. Se fosse cá pelo Algarve e à moda antiga, arranjava uma pedra dura e com uma superfície suficientemente ampla, colocava a amêndoa sobre a pedra e dava-lhe uma marteladazita. Por sua vez o miolo pode ser comido ou usado para confeccionar bolos com uma terceira casca que tem, mais fina, que nós por cá chamamos pele, ou então retirá-la depois de demolhados os miolos de amêndoa em água quente.

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  7. Rog,
    Pois é... se a tarefa era feira à noite, usava-se o candeeiro a petróleo ou então o petromax....

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  8. J. Costa,
    É bem verdade! Também me lembro do caso das cascas verdes e das "tareias" que as amêndoas apanhavam. Obrigada por completar este relato... :))

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