Quando os amigos dela e os amigos
dele virem a fotografia nas redes sociais é seguro que vão lá colocar muitos
gostos, muitos corações, muitas emoções e que ficarão deslumbrados com a
paisagem, o enquadramento, a luminosidade, o cenário… Que o cenário é magnífico,
asseguro-vos eu. E ele e ela também. Belos e jovens. Olhei para eles quanto
tiravam a selfie. A selfie não, as selfies, porque aquilo foi para cima de quinze minutos de poses e
cliques. Nunca eu, nem – acredito - quem por acaso aqui me lê, imaginou o
trabalho que dá tirar uma selfie à
beira-mar. Ora atentem. Ele já se encontra com os pés na água enquanto ela vai
descendo o areal, ajeitando o telemóvel no selfie
stick. Com o equipamento pronto, ela sobe para as cavalitas dele. Potentes
cavalitas, diga-se, pois que aguentaram a moça durante a toda a sessão
fotográfica sem o mínimo desequilíbrio. Fora de água, dentro de água, de costas
para o mar, de costas para o areal, olhando para leste, olhando para oeste,
inclinando para um lado, inclinando para o outro, ela segurando os cabelos
longos e louros, ele fazendo V com os dedos da mão direita. Bem podia eu
desviar os olhos para qualquer outro motivo de interesse na praia que, no
regresso, lá estavam eles, sempre encavalitados, a experimentar outra
orientação dos corpos, uma agitação de braços, uma careta talvez. E eu a achar
aquilo inacreditável. Estava perante os verdadeiros profissionais da selfie, uma arte que nunca dominarei, para mal dos gostos, corações
e emoções que jamais poderei granjear.