Adiante segue o autocarro. Na paragem seguinte descem
rapazes e raparigas de cadernos nos braços, mochilas às costas e vida leve.
Conversam animados e seguem rumo a casa de sorriso aberto. Tomada por um
estranho efeito mimético prossigo viagem sorrindo para o retrovisor.
quinta-feira, 28 de abril de 2016
Basta uma ave
Com a face ainda molhada pela lágrima da criança, entro no
carro e sigo viagem, mão no volante e olhos na estrada. Na paragem forçada por
mais uma rotunda em construção levanto os olhos para o céu meio pardo. Sigo o
voo de um pássaro que transporta no bico um longo ramo e percebo que uma aragem
deixada pela sua travessia instantaneamente me seca o rosto.
Basta uma lágrima
O miúdo seguia de mão dada com a mãe que lhe dizia,
docemente, não chores. Olhei-o no rosto e aquela pequena lágrima que lhe rolava
face abaixo molhou a minha também.
domingo, 24 de abril de 2016
Passeio de domingo (304)
Vilamoura, fim de tarde, a cruzar com uma "corrida do coração" e a ver a praia com uma parte feita e outra ainda a fazer.
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Desenhar um jardim
É isto mesmo. Isto é o que faltava para eu começar a dedicar-me a jardinagem. Já está anotado na lista de compras.
quarta-feira, 20 de abril de 2016
Da palavra, do silêncio, do desejo e do vento
A fábula do vento
O que eu te quero contar não foi dito nem está escrito na
pele de nenhuma página. Ou foi dito e escrito milhares de vezes e milhares de
vezes apagado pela própria palavra. Sem visão, no vão do esquecimento, tento
iniciar uma fábula do vento até à ondulação, até à transparência. Tenho na boca
o sabor de um canto que é já o canto de um sabor aéreo. O meu desejo procura
construir cálices incendiados, sílabas amorosas, hieróglifos de água e fogo. Não
estou no centro mas na orla da distância, na frescura da soberana inteligência
do mar. Reconheço agora todas as qualidades do silêncio, da brancura e da luz e
da sua móvel mas permanente equivalência. A interrogação mais pura levanta-se e
resolve-se em mil ondas interessantes, nas volutas vertiginosas do vento.
António Ramos Rosa
In Clareiras, 1986
Mistura
Precisaria de aprender a misturar as palavras, tal como
precisaria de aprender a misturar as cores. Sei que, umas e outras, mal
doseadas só resultam num borrão cinzento de insofrível fastio.
terça-feira, 19 de abril de 2016
domingo, 17 de abril de 2016
sexta-feira, 15 de abril de 2016
Num dia como este...
quarta-feira, 13 de abril de 2016
As cores do bandolim
Regresso a casa em escala de cinza. Do carro cinzento rato.
Da estrada cinzento asfalto. Do horizonte cinza e ondulado dos montes. Do céu
cinzento chuva. Do céu cinzento nuvem.
No autorrádio passa um concerto para bandolim. Só dos sons
me chegam cores. Cor de menina que dança com fitas no cabelo, cor de menino que
rola a bola, cor de limão jogado ao ar, cor de fruta madura a pender da árvore,
cor de libelinha voando ao vento.
terça-feira, 12 de abril de 2016
domingo, 10 de abril de 2016
Passeio de domingo (302)
Mais um passeio que o domingo rouba ao sábado. Foi ontem,
mesmo ao final da tarde, aqui atrás de casa. Deixei-o logo agendado porque hoje
é dia dedicado a um convívio familiar e não vou bater perna.
quinta-feira, 7 de abril de 2016
A tomar conta do mundo
Dou por mim, muitas vezes, a tomar conta do mundo. Pode até ser cansativo, mas eu gosto.
“Estou cansada. Meu
cansaço vem muito porque sou pessoa extremamente ocupada: tomo conta do mundo.
Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar e vejo as
espessas espumas mais brancas e que durante a noite as águas avançaram inquietas.
Vejo isto pela marca que as ondas deixaram na areia. Olho as amendoeiras da
rua onde moro. Antes de dormir tomo conta do mundo e vejo se o céu da noite
está estrelado e azul-marinho intenso (…). No Jardim Botânico, então fico
exaurida. Tenho que tomar conta com o olhar de milhares de plantas e árvores e
sobretudo da vitória-régia. Ela está lá. E eu a olho.
Repare que não
menciono minhas impressões emotivas: lucidamente falo de algumas coisas e
pessoas das quais tomo conta. Também não se trata de emprego pois dinheiro não
ganho por isto. Fico apenas sabendo como é o mundo. (…)
Você há de me
perguntar por que tomo conta do mundo. É que nasci incumbida»
Clarice Lispector
In Água Viva
terça-feira, 5 de abril de 2016
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Meia palavra
Procurei-te em todos os caminhos por onde passei.
Em vão.
Afinal, estavas aqui, nesta história, a meia palavra andada.
domingo, 3 de abril de 2016
Passeio de domingo (301)
Não é para contrariar o domingo mas, desta vez, o passeio é
de sábado e foi agendado previamente porque hoje não poderei andar por aqui. E
também não é algarvio já que as minhas andanças foram para os lados de Sesimbra
e do cabo Espichel.
sexta-feira, 1 de abril de 2016
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