No supermercado, a charcutaria é frequentemente
um foco de ansiedade. Ora levo com o jovem empregado ainda em aprendizagem, que
se atrapalha na dobragem do papel protetor do fiambre, ora apanho com a empregada
tomada de um cansaço inexplicável que lhe retarda os movimentos.
Hoje calharam-me os clientes
atrasados e saídos, de repente, do nada com senha anterior à minha. O rapaz
da charcutaria, que não era o aprendiz mas que também não ficava a dever muito
à rapidez, começou a chamar pelos números. Vinte e dois… E nada. Vinte e três…
E nada. Vinte e quatro …E nada. Vinte e cinco… E nada. Atrás de mim uma senhora
rodava velozmente o braço no ar para lhe dizer que era para passar à frente.
Vinte e seis… e nada. Vinte e sete… E quando eu me aproximava, já levantando a mão com a minha senha 27, surge, esbaforida, a senhora da 22, reclamando que os
números tinham passado muito depressa. O rapaz da charcutaria, encolhendo os
ombros, começou a atendê-la. Eu a encher-me de paciência. É só mais um
bocadinho. Estava o rapaz a aviar o queijo da 22, quando, lampeira, se aproxima
uma jovem. Olhe, desculpe, eu tenho a senha 24. E pronto. Lá ficou o 27 estagnado
no ecrã luminoso por mais um atendimento e eu a roer-me em silêncio. Era para
ser uma passagem rápida pelo supermercado. Só precisava mesmo de fiambre e de
iogurtes. Calma. É já a seguir. A fila de clientes já se adensou entretanto e
vem de lá uma jovem empregada que, depois de arranjar uma encomenda de frango
assado, se decide a ajudar o colega e, vá de roupa, apita para senha 28. Alto!
Lá tive eu que lhe acenar com a minha 27.
Um drama, como facilmente se
percebe. Eu que já tinha um trauma de supermercado com a caixa, que por muito
que observe as filas, o conteúdo dos cestos e dos carrinhos e a agilidade da
menina ou do menino da registadora, acabo sempre por escolher a que anda mais
devagar, tenho agora também o trauma da charcutaria.