... No bater de asas de uma libélula.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
domingo, 28 de setembro de 2014
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
domingo, 21 de setembro de 2014
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
O latim
Enquanto manuseio um venerável dicionário de latim-francês,
imagino o estudante de Coimbra, nos longínquos anos de 1800, a consultá-lo na aula e a
gerir o seu enfado desenhando retratos do professor e dos colegas nas margens
do calhamaço com mais de mil páginas. Desenha também iniciais com profusão, o
seu nome, repetido à exaustão, assim com o da cidade.
Dias há em que se inspira e verseja. Leio e enterneço-me com
as suas doces palavras.
Sigo folheando a relíquia e vejo que o romântico estudante também
tem dias com pendor escatológico. Acho
graça. Por certo, o estudante de Coimbra dos longínquos anos de 1800 nunca imaginou que,
passado mais de um século, alguém que, nem seu descendente é, viesse a
bisbilhotar-lhe os devaneios.
Em qualquer caso, o latim deve-lhe ter feito mossa. É que o
estudante de Coimbra, entendeu dever fixar para a posteridade, na margem de
mais uma das folhas do dicionário, a data em que concluiu a disciplina.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Fotografias
De vez em quando perco-me entre velhas fotografias. Há pouco, peguei no álbum que guarda os anos 70 e 80 do século passado. Gosto de dizer
século passado. Parece que estou num livro de história e que falo de
acontecimentos remotos. Se calhar falo mesmo. Aquelas fotografias parecem ter
uma eternidade. Estão lá os casamentos das primas e das amigas. Piqueniques. Festas
de aniversário. Está a marina de Vilamoura quando ainda a usávamos como praia.
Estão rapazes de bigode e garrafas de refrigerante Fruto Real. Está certo que
os bigodes até estão de volta mas quando é que eu me ia lembrar de uma garrafa
de Fruto Real?
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Inveja
Invejo quem tem a palavra fácil. Falada ou escrita, mas fácil.
Dura ou meiga, mas fácil. Parca ou abundante, mas fácil. É uma inveja diária
que me assalta a cada palavra que não digo, a cada palavra que não escrevo. É
uma inveja que me dói, de uma dor semelhante à que se cumpre a cada palavra que,
muito a custo, digo ou escrevo.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
domingo, 14 de setembro de 2014
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Leonor
Leonor já não vai descalça. Soube-o hoje na fila da caixa do
supermercado. Já não vai descalça e pareceu-me bem segura do alto dos seus
espantosos 72 anos. Digo espantosos porque não lhe dava mais de 62. Antes de
ficar na sua cola, na caixa, já a tinha tido à minha frente na fila do talho. Comprou
bifanas. Para eles… Pois que, para ela, tinha lá uns carapaus alimados de que
gostava muito. Desenvolta, varreu dois ou três corredores à procura de outros
bens de que precisava enquanto o talhante lhe cortava a carne. Junto à caixa,
para pagar, vi que era assídua no supermercado. Conhecia pelos nomes as
empregadas e instava-as a despacharem-se, porque as filas estavam longas. Com tanta
gente a precisar de trabalhar e só duas caixas em funcionamento, repetiu duas
ou três vezes. Passou uma sua conhecida para a fila da caixa ao lado.
Cumprimentaram-se. Fiquei assim a saber que se chamava Leonor. Distraí-me entretanto
das conversas que Leonor já tinha retomado com a rapariga da caixa. Voltei a tomar atenção quando a ouvi dizer que não podíamos gastar mais do que ganhávamos. Que ela sabia o que eram tempos difíceis.
Nasceu nua e descalça. E descalça andou até aos 14 anos. E mesmo então só
calçava os sapatos duas vezes por semana. Para ir ao cinema, por exemplo. Era
de uma terra bonita, dizia. Das Caldas da Rainha. Pagou e saiu. Eu também. Vi
que ela seguia rua abaixo, à minha frente. Muito enxuta nos seus corsários cor
de laranja, Leonor já não vai à fonte nem anda descalça. Vai à sua vida, formosa
e bem segura.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
domingo, 7 de setembro de 2014
Passeio de domingo (211)
Passeio matinal na praia do Garrão, com o tempo a mostrar
alguma nostalgia, em solidariedade com quem goza o seu último domingo das férias de
verão.
sábado, 6 de setembro de 2014
SPA
Resolvi escrever aqui sobre um problema que há vários anos vem
afetando a minha família. É um mal que atinge apenas os elementos do sexo
masculino: o marido e o filho. Ao longo do tempo, tenho observado a forma como se
manifesta e, não tarda, estarei apta a publicar um qualquer artigo científico
sobre a matéria.
A SPA, ou síndrome da porta aberta, pode surgir a qualquer momento
do dia ou da noite e incide, na maioria das vezes, na porta do frigorífico ou na
da despensa. O pequeno armário onde o estão guardados os medicamentos de toma diária
também costuma ser alvo dos surtos de SPA.
Claro que quando as crises se manifestam com a porta do frigorífico,
a situação é mais problemática. Com as portas dos armários e da despensa a
questão não passa de um mero incómodo estético. Mas com o frigorífico, o
aborrecimento é maior. Força o motor, criam-se camadas de gelo, pinga água para
o chão, sobe a conta da eletricidade… Enfim, uma dor de cabeça.
Como referi anteriormente esta síndrome apenas afeta os
elementos do sexo masculino da família. O pior é que se trata de um problema de
difícil reconhecimento. Vejamos a reação do mais velho. Se a porta do
frigorífico está aberta, quase de certeza que não foi ele que a deixou assim. E
se assim sucedeu é porque o frigorífico não está devidamente colocado. A sua
inclinação não é a mais correta e devido ao peso das coisas que se encontram
arrumadas na porta, dá-se o caso da mesma não se fechar como deveria.
Diagnosticada a causa, decide-se resolver já, já o problema.
Afina-se a inclinação do frigorífico e pronto. Agora a porta já não precisa de
ser empurrada para fechar. Basta largá-la e ela, suavemente, fecha-se como deve
ser.
Ah, finalmente.
Mas não. A síndrome da porta aberta é tramada para recidivas.
Passado algum tempo, em qualquer momento, a qualquer hora do dia ou da noite,
damos com a porta do frigorífico aberta. O que foi agora? Ah, pois. O mesmo
elemento masculino da família puxou a gaveta da fruta para retirar um pêssego e
não a empurrou devidamente. E ali ficou encalhada, mais uma vez, a porta do
frigorífico.
A par da SPA, os elementos masculinos da minha família
também padecem frequentemente da STG ou síndrome da tampa do garrafão. Os
sintomas são muito semelhantes aos da SPA e traduzem-se no facto do garrafão ficar
quase sempre destapado depois de se ter despejado água para o jarro, por
exemplo. Tanto a SPA como a SPG acabam por afetar os familiares dos
doentes que estão constantemente a fechar portas de armários e de frigoríficos
ou ainda a enroscar tampas nos garrafões de água. Já pensei até criar um movimento qualquer,
uma associação de familiares de pessoas que padecem de SPA, por exemplo, para poder trocar
experiências e saber que não estou sozinha nesta luta.
Ou estarei?
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Tchim-tchim
O casal de ingleses estava na mesa mesmo
em frente à minha. Ao longo do meu jantar fui acompanhando também o deles. Começaram
pelas ostras. Não percebo absolutamente nada de vinhos mas o deles era branco,
ou verde… sei lá. Era certamente um vinho apropriado para mariscadas. Mantinha-se
fresco no balde de gelo encostado à mesa.
Os filhos, pequenos, comeram uma
bonita posta de peixe grelhado com arroz branco. Saudável.
Os adultos
prosseguiram com uma monumental travessa de camarões tigre grelhados. Não a conseguiram terminar. Camarão tigre
enche. Se enche. Quase no fim do repasto, ele, bem mais velho que ela, pede um
qualquer vinho francês ao empregado. Vinho francês não havia mas foi-lhes logo
ali proposto um tinto, não sei de que região, colheita de 2007. Veio o vinho,
foi decantado, provado e aprovado pela senhora, balões servidos. Mais alguma
coisa? Não. Sobremesa? Não. Só o vinho mesmo. Bebido e de novo servido. E mais
um copo. E outro ainda. Tchim-tchim.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Barranco das Belharucas
Há trinta anos atrás fazíamos piqueniques no pinhal
sobranceiro à praia do Barranco das Belharucas. Partíamos em grupo, com manta
para espalhar no chão, sobre a caruma, e farnel para um dia inteiro. Gozávamos
a sombra e os cheiros das pinhas. Descíamos o desfiladeiro que leva até à praia
e refrescávamos os corpos na maré. Quando a fome marcava o meio-dia voltávamos
ao pinhal, falésia acima. Entre comes e bebes ensaiavam-se namoros, jogava-se
às cartas e até se fazia ginástica. Ali estou eu, naquela fotografia, deitada
de costas, mãos suportando as ancas, pernas esticadas na vertical, como querendo
tocar no céu com a ponta dos pés. Risotas. A tarde daria lugar a nova caminhada
até à praia e a mais um banho de mar.
De vez em quando, volto ao Barranco das Belharucas. A praia
está quase na mesma. Esplendorosa. Só já não encontro o lugar dos piqueniques.
Foi engolido pelo tempo, pelos hotéis e pelas casas de férias.
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