Havia já muitos anos que estava ali, apertado, na estante. A
sua história era pequena. Não tinha mais que cinquenta páginas, contando
palavras e desenhos. Alguns desenhos estavam pintados de cores garridas mas nem
por isso achava que eram mais bonitos que os desenhos a preto. Esses combinavam
com a cor das palavras. Tinta preta sobre fundo branco. Ou sobre fundo que já
fora branco. Ao fim de tantos anos as suas folhas acabaram por tomar um tom
amarelo, quase castanho nos cantos exteriores. Mas isso não importava. Tanto
mais que já ninguém o folheava. As palavras queixavam-se de não serem lidas. A
última página ouvia os suspiros da primeira e as do meio chegavam a soluçar de
tristeza. Quando algum vizinho era retirado da estante, mudava um pouco de
posição. Inclinava-se para ora para a esquerda, ora para a direita e
aproveitava para desentorpecer as folhas. Havia já muitos anos que não chegava
a sua vez de sair da estante. Não lhe adiantava de muito queixar-se aos maiores
que costumavam empurrá-lo de um lado para o outro. Não queriam saber. O que
lhes importava o sentimento de tão pequena e insignificante criatura? Eles sim,
eram interessantes. Serviam para tirar dúvidas e estavam constantemente a ser
utilizados. E o pequeno livro, o da pequena história escrita e desenhada em
pouco mais de cinquenta páginas percebeu que tinha de fazer alguma coisa. Não
podia mais conter o desespero das suas palavras encurraladas. Precisava de se
mudar para onde o voltassem a ler. Esperou, atento, pela primeira oportunidade
e, num dia 23 de abril, aproveitando que a estante ia ficando mais vazia com a
saída de alguns dos seus vizinhos importantes, respirou fundo, abriu-se ao
meio, sacudiu as folhas e levantou voo, em busca de leitor.
Que bonita e criativa homenagem ao Livro no seu dia!
ResponderEliminarAbraço
Parabéns pelo texto. Como ele "livro"
ResponderEliminarficou feliz.
Adorei o teu texto! E só me lembrava d' "O Princípezinho", um pequeno grande livro que não sei quantas páginas tem, pois perdi o meu exemplar... Também ele nos dá vontade de voar, como esse que esvoaçou da estante! :)
ResponderEliminarBeijocas!
ResponderEliminarHá sempre um dia em que o livro se abre.
Beijo
Laura
Adorei esta sua homenagem ao livro que penso poder ser extensível aum tipo de leitor!
ResponderEliminarMuito bom o texto Luísa :)))
ResponderEliminarQue o "livro" seja feliz :)
Beijinho :)
Gostei muito deste livro.
ResponderEliminarUm texto incrível e fiquei com vontade que o pequeno livro pousasse por aqui para o poder ler.
um beijinho
Uma forma muito bonita, enternecedora até, de comemorar o Dia do Livro.
ResponderEliminarE espero que tenha encontrado alguém:)
ResponderEliminarbeijinhos
Adorei! Gosto TANTO da forma como escreves :) E também tenho um amor pelos livros imenso, é tão triste quando estes são esquecidos...
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