quinta-feira, 22 de abril de 2010

Caminhadas

Caminho a passo lesto para cumprir o necessário exercício.

Caminho noite fora e absorvo o ar morno que confirma a estação. Caminho e ouço o som abafado dos meus passos de sapatilha pisando o asfalto e aqui ou ali um pouco de gravilha. Os grilos afinam vozes na vegetação das bermas. Adiante perfila-se a casa cor de terra, vedada por uma muralha de hera que esconde um exército de rãs. Coaxam à desgarrada agitando o silêncio da noite. Caminho.

Caminho monte acima forçando os músculos das pernas na inclinação acentuada da subida. Caminho a passo lesto para cumprir o necessário exercício e ouço com nitidez a minha respiração. Sopro.

O cão de guarda da casa que se avizinha ladra antecipando a minha passagem e contagia mais uma dezena ao redor. Prossigo a subida caminhando a passo lesto para cumprir o necessário exercício. Respiro e inspiro o doce aroma da flor de laranjeira que se solta daquela horta adormecida ao luar.

Caminho a passo lesto para cumprir o necessário exercício e sinto já pequenas gotas a deslizar-me pelo peito. A estrada agora desce. O meu corpo corta o ar levantando a leve brisa que me afasta o cabelo do rosto. Há mais grilos que ensaiam o seu concerto nocturno. A descida apressa-me o movimento. Caminho a passo lesto para cumprir o exercício e avisto ao longe as luzes litorais que perfilam o horizonte em semicírculo.

Em estrada plana, por fim, caminho e levo a minha sombra pela frente até que chego a meu portão.

Sinto-me leve de cansaço.

2 comentários:

  1. Bonito texto. Consegui imaginar (quase claro) na perfeição o cenário que descreves e fiquei a pensar numa coisa... quem me dera poder andar na rua em tranquilidade e segurança e ouvir os grilos e as rãs. Há imenso tempo que isso não acontece por aqui. Que sorte a tua!

    Beijinhos :)

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  2. Helga, são as vantagens de viver no campo. As aldeias têm destas coisas. :)

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