Aguardo
a minha vez de ser atendida na dependência bancária. Tenho dois
homens à minha frente, distâncias de segurança bem calculadas e
máscaras no rosto. Lá dentro, ao balcão, em atendimento demorado,
outro homem. Enquanto decorrem as operações, que implicam
movimentação do funcionário, papéis para um lado, papéis para
outro, fotocópias, consulta a colegas, o homem aguarda, remexe numa
fina pasta de plástico verde e assina papéis. Pelo meio da
atividade, baixa a máscara para coçar o nariz. Volta a colocá-lo
no lugar e, de seguida, borrifa as mãos com um pequeno frasco que
retira do bolso das calças. Um pouco mais tarde repete o ato,
coçando desta vez o interior da boca. Volta a desinfetar as mãos,
claramente atento a não contaminar o balcão de atendimento onde as
apoia de seguida. Só não se lembra de se desinfetar antes de se
coçar. Reparo também que um dos que aguarda a vez à minha frente
colocou a máscara ao contrário, lado azul para dentro, tapando
nariz e boca, mas com o queixo de fora. A espera promove a observação
minuciosa dos comportamentos alheios e não vá eu também estar não
conforme, olho-me de relance numa parede espelhada da agência para
conferir da correta colocação da minha máscara. É que, como me
dizia bastas vezes a minha mãe, só costumamos ver as remelas nos
olhos dos outros.
Sou também muito observadora. Dizem-me, quem me conhece bem, que sou boa observadora em tudo. Discordo veementemente. Sou seletiva, observo os gestos, os maneirismos, a forma de falar das pessoas, o que dizem e o que deixam por dizer. Isto a propósito do que descreves que me fez rir. Fizeste uma descrição tão clara que associei a uma série de situações quanto ao uso das máscaras, não apenas nas pessoas que vejo no supermercado, no parque de estacionamento do mesmo e agora nos parques, mas também alguns políticos na televisão. Situações mesmo caricatas, como se a máscara fosse um bicho de sete cabeças.
ResponderEliminarProcura o vídeo sobre o presidente da África do Sul e o Premier da província do Quebec. :))
Curiosamente, Catarina (e Luísa), quem observa também é observado. ;)
EliminarUm grande inconveniente... por vezes! :)
EliminarImpossível não observar o(s) modo(s) de uso deste novo adereço, Catarina. :))
EliminarPois AC, penso isso também no que toca à fotografia. Quando ando a passear por aí e a fotografar, incluindo, por vezes, pessoas na paisagem fotografada, penso se eu própria não estarei a ser motivo de algum outro fotógrafo. :))
EliminarAh! A tua mãe tinha razão! Uma senhora muito sábia.
ResponderEliminar:)
Era, pois. :)
EliminarBom eu uso máscaras comunitárias feitas por mim. Ponho-a antes de sair de casa em frente do espelho na entrada. Só volto a retirá-la quando chego a casa e vai logo para lavar. Não me ajeito muito bem com as vulgares fazem-me muita comichão.
ResponderEliminarE claro a sua mãe tem muita razão.
Abraço e uma boa semana
De pano (caseiras/comunitárias) ou cirúrgicas, transporto-as numa bolsinha e costumo colocá-las depois de desinfetar as mãos como o frasquinho de alcool gel que sempre me acompanha. Nem sempre as uso na rua, só se começar a cruzar com muita gente...
EliminarBom domingo, Elvira!
Ouvia essa expressão à minha avó e à minha tia Belmira.
ResponderEliminarQue tem um "cancioneiro" único.
O que ouvimos dos nossos familiares mais "antigos", sempre nos fica na memória, Pedro.
EliminarMuito bom! E tão verdade. Isto das máscaras tem a sua piada, pois cada um cria a sua própria forma única de a usar e perfeitamente convencido que o faz de forma adequada. Até agora a que mais vejo é mesma aqules que a usam com o nariz de fora :))
ResponderEliminarHá para todos os gostos, ou talvez deva dizer desgostos. :)
Eliminartodos armados mais ou menos em Zorro, Luísa!
ResponderEliminarMais ou menos isso, Ângela. :)
EliminarUma sábia senhora a sua mãe. É que tinha, na minha modesta opinião, toda a razão. Reparamos que alguém tropeçou num palito, rimos da sua desgraça, quando temos na nossa frente um tronco (porventura invisível) onde tropeçamos tantas vezes... sem vontade de rir.
ResponderEliminar.
Votos de um dia feliz
Cumprimentos poéticos
Verdade Rykardo. É sempre mais difícil ver os nossos próprios defeitos.
EliminarAqui é: "só vês os ciscos nos olhos dos outros"...Todos temos as nossas falha e não adianta dizer-se que não. Ainda existem que a coloque e deixe o nariz de fora para respirar. Lool
ResponderEliminar-
Pele aveludada onde passeiam os sábios.
Beijos e um excelente dia... :)
O nariz de fora é muito frequente, sim. :))
EliminarSó vejo quem tenho em casa!
ResponderEliminarAbraço
Em casa, fica a máscara de quarentena. :)
EliminarVamos lá então ao que importa, Luísa...e a senhora tua mãe tinha ( neste caso)razão quanto a essas tuas observações sobre a remela alheia, ou não? Que tal foi o veredito sobre a colocação da tua máscara? Viste bem? Estavas nos conformes? :))
ResponderEliminarA minha, por vezes, como me embacia os óculos, ponho-a um bocado à banda. E, mal saio dos espaços fechados, penduro-a numa orelha...
O espelho devolveu-me a segurança de, pelo menos naquele momento, estar em conformidade, Janita. Também tenho esse problema dos óculos, mas desde que se ajuste bem aquele pequeno arame que as máscaras têm, e sobrepondo os óculos à máscara, já se aguenta razoavelmente bem.
Eliminar[Confesso já ter usado uma vez a máscara pendurada na orelha. Foi no percurso entre uma loja e outra, a conduzir, e quando já não aguentava de calor...]
Dizem que tudo vem da Bíblia e possivelmente é verdade. Não sou especialista (nem pouco mais ou menos!) mas fui pesquisar e encontrei esta citação de S. Mateus:
ResponderEliminar"E porque vês o argueiro (cisco) no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho?"
E lembrei-me de a minha mãe às vezes dizer: só vemos o cisco nos olhos dos outros...
A mãe da Luísa usaria talvez a versão algarvia :)
E não dúvida que é uma grande verdade.
Bons feriados, Luísa!
🌻
Se é versão algarvia, não sei, Maria, mas é isso mesmo que transcreve da Bíblia. :)
EliminarBom domingo!
Há remela em qualquer farpela, seja dele ou seja dela. :)
ResponderEliminarGostei deste seu texto. É vem verdade, temos que evitar ser sentenciosos, sobretudo porque estes rituais da máscara e de esfregar o gel nas mãos a toda a hora são uma boa trapalhada. No início, quando comecei a usar a máscara os óculos ficavam todos embaciados, não via nada e no supermercado deixava cair a fruta no chão e no momento de pagar os trocos voavam para o chão. Também por vezes, quando chego ao emprego e lavo as mãos com o gel e tenho tendência a limpar as mãos no rabo, que andou sentado sabe-se-lá por onde. Enfim, temos que levar tudo isto com algum humor.
EliminarÉ como diz, LuisY, uma trapalhada. Não é fácil adotar estes novos hábitos e vai não vai, metemos o pé na argola. :)
EliminarTambém gosto de observar os outros e já vi de tudo um pouco no que toca a máscaras. O que se vê mais, são máscaras no queixo :)
ResponderEliminaras não vejo apenas a remela dos outros, também vejo a minha, sou bastante auto crítica e consigo discernir quando não estou bem ataviada :) Por vezes não me importo eheh
Lá está, GM, quem de não ainda não "pecou" à custa da máscara? :)
EliminarEstamos sempre a recapitular as regras e também vamos fazendo algumas asneiras...
ResponderEliminarsomos na verdade, os espelhos uns dos outros.
Precisamente, mz.
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